Wagner Paulon, psicanalista
No climatério os hormônios das mulheres atenuam, invertendo boa parte dos processos que se estão desenrolando em suas fibras. Ao passar dos anos, já na fase do envelhecimento, os ovários produzem menor porção de hormônios, nosso sistema circulatório fica vagaroso e nossos vasos sanguíneos perdem um pouco de tono. No momento oportuno, outras glândulas tentam suprir com seu trabalho a avaria dos hormônios sexuais.
Em determinadas mulheres, o remanejamento da fabricação hormonal tem área gradualmente e de modo suave; em outras, o período de adaptação é bem mais turbulento. O fluxo aumentado de adrenalina causa "ondas de calor" e põe em ação o sistema de alarme do corpo: o pulso, a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos aumentam; a respiração se acelera; a boca fica seca; e o coração martela. Um certo número de mulheres ficam intrigadas por se sentirem alarmadas sem nenhuma razão para isso. No entanto, há de fato um motivo - seu corpo está sentindo o efeito de um excesso de adrenalina, embora tal fato não seja causado por ameaça externa.
Protestamos a essas alterações em nosso corpo de acordo com nossos argumentos individuais, familiares e culturais. Em algumas sociedades onde as mulheres morrem algum tempo após terem deixado de ser férteis, elas antecipam a morte iminente. Bastante dos nossos argumentos mais tradicionais oferecem pouca orientação para esses anos, uma vez que a meia-idade era caracterizada em ser o fim da vida. As noções culturais existentes ainda não se atualizaram com relação à nova duração do período de existência.
Determinadas mensagens típicas do argumento incluem em nosso país: "quando mamãe passou por 'isso', ela quase morreu. Apresentou um esgotamento nervoso, tornou-se intratável, tentou suicidar-se e parou de se preocupar com o que quer que fosse". "A menopausa é horrível. É o fim da estrada". "Quando a gente não é mais fértil, ninguém nos quer. Não somos mais mulheres". "As mulheres na nossa família nunca se preocuparam com isso. Simplesmente deixaram de menstruar por volta dos cinquenta, e só".
Em sua maioria, os tecidos dos seios e da vagina se alteram de fato com a ausência dos hormônios. Retraem e ressecam. Os tecidos da pele se deformam e os ossos se tornam frágeis. A relação sexual pode tornar-se penosa, a não ser que sejam usados lubrificantes para dar mais conforto durante o processo. Os hormônios artificiais (pílulas anticoncepcionais) também podem ser ingeridos por mulheres para retardar tais mudanças. Os hormônios citados são poderosos e têm efeitos secundários semelhantes aos da gravidez.
A alteração do quadro hormonal nos homens é bem diferente do das mulheres e não passam pela mesma experiência dramática, nem experimentam a interrupção de funcionamento de um processo fisiológico. Prosseguem a produzir espermatozóides por muitos anos ainda. Por fim, o número de espermatozóides diminui à medida que envelhecem, mas não passam por alterações físicas abruptas. O vigor sexual está relacionado para eles mais com saúde física e atitude mental do que com fertilidade. Os homens cujos argumentos indicam um decréscimo do interesse sexual nessa fase podem realmente vir a sentir-se assim - mas não é necessário que seja dessa maneira.
Os homens que igualam virilidade com desempenho podem vir a confundir aposentadoria em termos profissionais com aposentadoria sexual; na verdade, não há vinculação biológica. O modo de continuar a ter uma existência sexual ativa é continuar a ter uma vida sexual atuante.