Crianças com queixas de dor de cabeça apresentam mais problemas de comportamento, como retraimento, reação emocional e agressividade, quando comparadas a um grupo de crianças sem essas queixas. De acordo com a pesquisa Dor, temperamento e problemas de comportamento em crianças com queixa de dor de cabeça, da psicóloga Luciana Leonetti Correia, essas crianças também apresentam reação de desconforto em relação à intensidade de som, luz e movimento, que podem aparecer nos primeiros meses de vida, sendo um importante potencial indicador de dor de cabeça em fases posteriores do desenvolvimento.
Luciana apresentou os resultados em sua tese de doutorado, defendida em março na FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), da USP, sob a orientação da professora Maria Beatriz Martins Linhares. "A chance de a criança apresentar queixas de dor de cabeça é cerca de cinco vezes maior nas famílias cujas mães também apresentam essa dor", revela a psicóloga que também participa como trainee internacional do grupo canadense Dor na Saúde da Criança (Pain in Child Health, em inglês).
Foram avaliadas 75 crianças, cadastradas em núcleos do Programa de Saúde da Família vinculados à FMRP na fase pré-escolar, com idade entre três e cinco anos. A queixa de dor de cabeça prevaleceu em 29% delas, de acordo com o relato materno. O objetivo foi investigar a relação entre dor de cabeça, temperamento e problemas de comportamento em crianças com idade pré-escolar, que eram procedentes da população geral, sem diagnóstico prévio de dor de cabeça.
De mãe para filho
A pesquisa descobriu também que na presença de dor de cabeça materna, do tipo enxaqueca, as crianças apresentavam uma chance de quase cinco vezes mais a ter queixa de dor de cabeça, com relação à identificação e sintomas de dor de cabeça entre criança, mãe e outros membros da família. Segundo a autora, a prevalência de queixa pode estar associada com as queixas dessa dor na família, que pode ocorrer devido a fatores genéticos, como mostra a literatura, ou pela perspectiva da aprendizagem social, ou seja, por meio de modelos de dor que estão presentes no ambiente da família.
Segundo a orientadora do estudo, professora Maria Beatriz, esses resultados podem ter desdobramentos para programas na prevenção de risco em mães e crianças com queixa de dor de cabeça, no sentido de identificar outras dores associadas e reconhecer indicadores ou precursores de problemas ao longo do desenvolvimento de crianças. Por outro lado, torna-se também relevante rastrear preventivamente indicadores de dor de cabeça em filhos de mães que apresentam cefaleia.
Fonte: Agência USP de Notícias