É a articulação temporomandibular (ATM) que conecta a mandíbula ao crânio e permite todos os movimentos da boca. O seu funcionamento relaciona-se com vários sistemas do corpo como o mastigar, falar, respirar. Ela tem ainda relação com o sistema postural e o vestíbulo-coclear (que controla o equilíbrio e a audição). Está ligada ao sistema muscular, ósseo e ao sistema nervoso. E quando alguma coisa não vai bem com a articulação temporomandibular, o organismo vai reclamar em forma de dores de cabeça crônicas, dores na face, dificuldade de mastigar. Para entender como esta articulação funciona, o Medicina & Saúde conversou com a especialista em ortodontia e ortopedia facial e tratamento de patologias das Articulações Temporomandibulares, Cosétti Bonfadini. Confira.
Medicina & Saúde - Como é possível identificar problemas na articulação temporomandibular?
Cosétti Bonfadini - Primeiro é preciso saber localizá-la. Coloque os dedos à frente do ouvido: abra e feche a boca, ou fale, e você sentirá o movimento da ATM. Quando uma doença acomete essa articulação, quaisquer desses sistemas podem entrar em colapso, produzindo uma série de sinais e sintomas. Além disso, a ATM é uma articulação que pode dar sintomas a distância. Os sinais e sintomas de que esta articulação entrou em estado de disfunção podem ser: dores de cabeça crônicas, dor na face, dor ou dificuldade de mastigar, principalmente alimentos duros, dor no pescoço e nos ombros, dores nas costas, limitação da abertura da boca, estalos, luxação e subluxação mandibular (travamento), problemas oclusais (alteração no encaixe dos dentes, desgastes, fraturas), bruxismo, alterações da postura, tonturas, dores de ouvido, sensação de entupimento e zumbido.
M&S - Existem tratamentos eficazes?
CB - Sim, existem. Em primeiro lugar, é importante que tanto os pacientes quanto os dentistas entendam que, antes de definir um tratamento, precisamos definir a causa do problema. É preciso pensar primeiro em patologia, ou seja, no estudo da doença responsável pela disfunção. Para cada tipo existe uma forma apropriada de abordagem. As causas dos problemas na ATM podem ser infecciosas, traumáticas, autoimunes, dentárias, neoplásicas, ou combinações destas, e por isso o tratamento exige muito do profissional. O paciente precisa ser visto como um todo. Infelizmente, grande parte dos tratamentos atuais tem como enfoque o tratamento da dor, que é um sintoma e não uma causa das patologias da ATM. A dor faz parte de um dos sistemas de alarme do corpo, funciona como um alarme de incêndio, e quando o tratamento busca apenas livrar o paciente do sintoma da dor, podemos estar desligando o alarme, enquanto a casa continua em chamas. Portanto, a palavra de ordem é sempre diagnóstico, e muito cuidado ao se submeter a tratamentos, especialmente os irreversíveis, sem saber o que exatamente está acontecendo.
M&S - Quais as novidades sobre o tema?
CB - Hoje em dia os avanços tecnológicos nos permitem saber quais lesões afetam a ATM e, no momento em que isso ocorre, podemos estabelecer o diagnóstico diferencial, e o tratamento ideal para cada paciente. Lançamos mão da mesma tecnologia de alta complexidade que vemos rotineiramente na Medicina, recursos de imagem como tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética, exames de laboratório, exames que avaliam a atividade muscular. A maior novidade é a introdução destes sistemas na Odontologia.
Colaborou
Cosétti Bonfadini, especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial e tratamento de patologias das Articulações Temporomandibulares
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A dor faz parte de um dos sistemas de alarme do corpo, funciona como um alarme de incêndio, e quando o tratamento busca apenas livrar o paciente do sintoma da dor, podemos estar desligando o alarme, enquanto a casa continua em chamas. Portanto, a palavra de ordem é sempre diagnóstico, e muito cuidado ao se submeter a tratamentos, especialmente os irreversíveis, sem saber o que exatamente está acontecendo
A articulação temporomandibular
Nos dias 15 e 16 de outubro, Porto Alegre vai sediar um dos principais encontros latino-americanos sobre disfunções e patologias da ATM, agentes responsáveis por uma série de problemas aos pacientes e que, muitas vezes, são desconhecidos pelos profissionais de odontologia e da saúde em geral. Participarão 14 palestrantes dos Estados Unidos, Portugal, Argentina, Porto Rico e Brasil para apresentar a centenas de cirurgiões-dentistas, médicos, fisioterapeutas, otorrinos, neurologistas, reumatos e estudantes de todo o Brasil os estudos e técnicas mais recentes em relação ao tema, que podem causar bruxismo, dores de cabeça, faciais e no pescoço, dores de ouvido e até diminuição da audição.
Em sua 8ª edição e com conferências entre 45 e 50 minutos, o evento é organizado pela seção latino-americana da AACP - American Academy of Craniofacial Pain (Academia Americana da Dor Craniofacial, em português), entidade que reúne renomados e ativos pesquisadores nessa área em todo o mundo, e pela Associação Brasileira de Cirurgiões Dentistas (ABCD).
Segundo pesquisa da Associação Dental Americana, 34% dos pacientes apresentam disfunções na ATM, e em São Paulo, um estudo do Instituto do Sono, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aponta que 77% dos paulistanos apresentam dificuldades para dormir, e o bruxismo é o fator responsável em 10% das pessoas analisadas.