Desde que os casos da superbactéria começaram a repercutir, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou duas medidas para tentar conter o avanço do problema. A primeira foi a resolução que torna obrigatório o uso de álcool (líquido ou gel) para higienização das mãos nas unidades de saúde de todo o país. A segunda, que a partir de 28 de novembro, antibióticos só poderão ser vendidos em farmácias e drogarias do país mediante a apresentação da receita de controle especial em duas vias pelo consumidor.
Um dos motivos apontados por especialistas para o aparecimento da superbactéria é o uso indiscriminado de medicamentos, principalmente os antibióticos. Por muito tempo eles foram vendidos sem receita médica em muitas farmácias, o que facilitava o acesso da população. Mas a automedicação é um risco, especialmente para a saúde das crianças, pois as tornam mais vulneráveis às complicações e torna as bactérias mais resistentes.
De acordo com o coordenador do serviço de controle de infecção do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), mestre em clínica médica, Gilberto da Luz Barbosa, a superbactéria, na verdade uma KPC (Carbapenase), é uma enzima que destrói vários antibióticos. Ela se caracteriza em superbactéria por ser resistente a praticamente todos os antibióticos que habitualmente é sensível. A outra característica importante dela é a capacidade muito grande de transmitir este mecanismo de resistência para outras bactérias. “Esta bactéria Klebisela faz parte da flora normal do nosso intestino e, esporadicamente, causa infecções tanto em ambiente da comunidade com também em ambiente hospitalar”, indica o profissional. A maioria dos casos de superbactéria tem ocorrido em pacientes com doenças debilitantes, com forte diminuição das defesas, “mas o principal fator associado é sem dúvida a exposição prévia a antibióticos”, complementa Barbosa.
Para evitar as superbactérias
O médico Barbosa enumera algumas medidas para evitar a contaminação pela superbactéria:
- Uso racional dos antibióticos. Deve-se restringir o uso abusivo de antibióticos. “É comum as pessoas tomarem antibióticos sem receita médica, sendo que na maioria das vezes usa-se para situações em que não há indicação, como por exemplo, nas infecções respiratórias que são causadas na sua maioria por agentes virais, que não respondem aos antibióticos”.
- Uso de subdoses e por períodos de tratamento insuficientes. “Também dentro dos hospitais é importante ter uma comissão de controle de infecção atuante que tenha um programa de controle de antibióticos, que exerça um papel educativo fornecendo orientações do uso adequado e principalmente restrinja o uso de antibióticos mais potentes”.
- Adequada higienização das mãos pela equipe assistencial e visitantes, isolamento dos pacientes com bactérias resistentes de acordo com a política da instituição, cuidado extremo de antissepsia com os procedimentos invasivos (sondas, cateteres) retirando o mais precoce possível e, por fim, uma cuidadosa vigilância da ocorrência das infecções hospitalares.
A superbactéria, conforme Barbosa, foi descrita pela primeira vez nos Estados Unidos em 2001. No Brasil ela teve a primeira ocorrência documentada em 2006, em um surto acometendo quatro pacientes internados numa UTI no Recife.
Duas vias da receita para a venda de antibióticos
A primeira via ficará retida na farmácia e a segunda deverá ser devolvida ao paciente carimbada para comprovar o atendimento. Quem prescrever as receitas deve atentar para a necessidade de entregar de forma legível e sem rasuras duas vias do receituário aos pacientes. As embalagens e bulas também terão que mudar e incluir a frase “Venda sob prescrição médica – só pode ser vendido com retenção da receita”. As empresas terão 180 dias para se adequar às novas normas de rotulagem. A resolução definiu também novo prazo de validade para as receitas, que passa a ser de dez dias, em função dos mecanismos de ação dos antimicrobianos. Todas as prescrições deverão ser escrituradas, ou seja, ter suas movimentações registradas no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados.
Fonte: Agência Brasil
Colaborou
Gilberto da Luz Barbosa, coordenador do serviço de controle de infecção do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) e mestre em clínica médica