A década é de 1990. O cenário é Passo Fundo. E o enredo é o início do ‘boom’ de casos de aids em cidades longe das capitais. De repente, uma reunião de família e a notícia de que um dos familiares é soropositivo e, ainda mais, espera por um filho. A história serve para desestruturar qualquer pessoa mas, diferente disso, serviu de impulso para lutar contra o preconceito e em busca de auxílio médico. Mais que isso, serviu para a fundação de uma entidade que é a principal referência de 130 crianças e adolescentes, órfãos de pais soropositivos, e muitos convivendo com o vírus.
Esta é apenas parte da história de Marlene Brites, fundadora do Sosa (Serviço de Orientação e Solidariedade à Aids), que existe em Passo Fundo desde 1991, mas que foi oficialmente instituído como organização não governamental em 1996. “No início éramos mais familiares de pessoas com o vírus, porque a epidemia estava começando, então nós familiares nos reuníamos para nos fortalecer na época, porque as pessoas morriam muito rápido”, conta Marlene.
Mas nos encontros, os familiares começaram a perceber que crianças estavam nascendo nessas famílias e viviam mais tempo do que era previsto. Era, então, preciso cuidar deles de outra forma, de uma maneira que lhes garantisse um futuro, livre de preconceitos. Assim, depois de oficializada a instituição, o Sosa conseguiu que fosse cedida uma casa, através de um convênio com a Mitra Diocesana, que foi mantida até 1999 como uma casa lar, no bairro Santa Marta, “mas como não tínhamos recursos para manter essa casa, nós fechamos ela em 1999, e voltamos para o centro, que é um espaço cedido pela Secretaria Saúde e como as crianças estavam crescendo, ocupando outros espaços, a gente direcionou a nossa atenção para a criança e o adolescente”, salienta Marlene.
O foco mudou para as crianças e adolescentes, pois a grande maioria já estava órfão por causa da aids, “eles foram perdendo os seus pais, e ficavam sem família, sem referência. Nós fomos apoiando essas famílias e tentando inserir essas crianças em um ambiente familiar”, conta. Foi assim que conseguiram que, pelo menos 95% desse público, fosse abrigado por familiares, sejam avós, tios, padrinhos. “Agora, acompanhamos essas famílias, principalmente porque os 5% que ainda vivem com os pais, são de famílias muito desestruturadas, a maioria com histórico de drogadição”, destaca. Assim, o principal trabalho é procurar fortalecer essa criança e esse adolescente e dar a eles um novo rumo, uma nova direção de que ele não precisa repetir a mesma história, viver a mesma situação.
Voluntariado
Atualmente o Sosa funciona através da atuação de cinco voluntários, sendo três que acompanham o trabalho diariamente e outros dois que frequentam a instituição uma vez por semana. “Somos nós que fazemos o atendimento domiciliar e na instituição”, conta. Foi nesses acompanhamentos que os voluntários perceberam que muitos dos avós que cuidavam dos órfãos era analfabetos e, por isso, não conseguiam administrar corretamente a medicação para as crianças. E assim surgiu um projeto de alfabetização para eles, que já ensinou as primeiras letras para diversos vovôs e vovós.
Prevenção
Embora com poucos recursos e poucos voluntários, o Sosa prioriza trabalhos de prevenção. “Promovemos diversas ações preventivas, não relaxamos, sempre reforçando a importância de se prevenir contra a doença”, destaca Marlene.
Ajuda e doações
Todo auxílio é importante no Sosa. Seja em doação de alimentos, roupas ou em dinheiro. Atualmente, o fornecimento de cestas básicas, vales-transporte e outros produtos essenciais para as famílias mais necessitas, o Sosa conta com recursos da KNH, uma instituição alemã. Mas qualquer ajuda é bem-vinda. As doações podem ser entregues diretamente na sede do Sosa, que fica na avenida presidente Vargas, 107, 5º andar, mesmo prédio onde funciona o PAM.
O que é aids?
A aids é o estágio mais avançado da doença que ataca o sistema imunológico. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, como também é chamada, é causada pelo HIV. Como esse vírus ataca as células de defesa do nosso corpo, o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, de um simples resfriado a infecções mais graves como tuberculose ou câncer. O próprio tratamento dessas doenças fica prejudicado. Há alguns anos, receber o diagnóstico de aids era uma sentença de morte. Mas, hoje em dia, é possível ser soropositivo e viver com qualidade de vida. Basta tomar os medicamentos indicados e seguir corretamente as recomendações médicas. Saber precocemente da doença é fundamental para aumentar ainda mais a sobrevida da pessoa. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda fazer o teste sempre que passar por alguma situação de risco e usar sempre o preservativo.
Como se transmite a aids?
Como o HIV, vírus causador da aids, está presente no sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno, a doença pode ser transmitida de várias formas: Sexo sem camisinha. Por ser vaginal, anal ou oral. De mãe infectada para o filho durante a gestação, o parto ou a amamentação. Uso da mesma seringa ou agulha contaminada por mais de uma pessoa. Transfusão de sangue contaminado com o HIV. Instrumentos que furam ou cortam, não esterilizados. Evitar a doença não é difícil. Basta usar camisinha em todas as relações sexuais e não compartilhar seringa, agulha e outro objeto cortante com outras pessoas. O preservativo está disponível na rede pública de saúde.