Estudos apontam quem a depressão infantil atinge cerca de 2% das crianças de até 12 anos e 4% dos adolescentes em todo o mundo. Entretanto, é preciso saber que os sintomas na criança são diferentes dos adultos, o que pode fazer com que um caso de depressão infantil passe despercebido dentro de casa.
Este tema foi abordado recentemente no livro Transtornos Mentais em Crianças e Adolescentes - Mitos e Fatos, dos especialistas Mara Lúcia Cordeiro e Antônio Carlos de Farias, do Hospital Infantil Pequeno Príncipe, de Curitiba. Pais, às vezes, pensam que o filho está doente quando na verdade ele está normal, e com isso levam as crianças a consultórios e iniciam nesta fase da vida o uso de antidepressivos, quando uma boa dose de atenção, melhor alimentação e atividade física resolveriam a questão.
Segundo os autores, nestes casos ocorre uma valorização de um sintoma como, por exemplo, a tristeza passageira, que acomete qualquer criança quando perde um animal de estimação ou no caso de estar mal na escola.
Quando a criança está com depressão, essa tristeza a acompanha por bastante tempo, mais de dois meses. Outros sintomas da doença nos pequenos são agitação, irritabilidade e desânimo para atividades divertidas, como ao ar livre.
Para a psicóloga Gisele Dala Lana, é preciso que os pais estejam sempre atentos para as mudanças de comportamento das crianças.
Medicina & Saúde – De que maneira os pais podem identificar a depressão infantil?
Gisele Dala Lana - Todos nós, inclusive as crianças, passamos por momentos onde nos sentimos tristes por alguma razão aparente ou não. Na criança a tristeza aparece de forma diferente que no adulto, pois ela não fala que está triste e tem medo. É o adulto, através de observação e investigação do seu comportamento, que dará sentido aos seus sentimentos e poderá avaliar se está ocorrendo algo que foge do esperado com ela, de acordo com a intensidade e duração dos sintomas.
M&S – O que os pais devem observar nas crianças?
GDL – Uma característica das crianças é estar sempre em atividade, buscando conhecer coisas novas através de sua curiosidade, porém às vezes não se apresentam assim. Nestes momentos os adultos devem ficar atentos a alguns sinais que as crianças demonstram de algo que não vai bem. Situações que podem ser vistas como simples pelos pais, para as crianças podem ser sentidas de outra maneira. Uma mudança de cidade, perder o ano na escola ou a perda de alguém ou algum objeto, são algumas das circunstâncias que podem levar à criança a um processo depressivo, pela percepção e reação que ela tem destes acontecimentos, os quais podem ser respostas a um evento real ou imaginário.
M&S – Como a criança demonstra que algo não vai bem?
GDL - As primeiras formas de mostrar que algo não vai bem podem ser manifestadas através de somatizações, onde a criança queixa-se de problemas físicos, já que são concretos e mais fáceis de explicar, como dor de barriga, dor de cabeça, etc. Os pais geralmente dão um remédio e se a criança não melhora levam ao pediatra para tratar este problema. As crianças não sabem nomear seus sentimentos, necessitando do outro para identificar o que ela está sentindo, uma dor de barriga pode ter uma origem emocional, pois quantos adultos não se sentem assim frente a uma prova, a uma entrevista, ou seja, uma situação de estresse. A criança, da mesma forma, pode ficar ansiosa, mas não sabe que sua dor de barriga é devido à ansiedade.
M&S – Quais as reações da criança com depressão?
GDL - Quando a criança está deprimida mostra-se frequentemente triste e tende a isolar-se afetivamente e socialmente, preferindo atividades que possa realizar sozinha, como apenas ver televisão ou ficar “brincando” sozinha no quarto. Também se mostra passiva e insatisfeita, onde nada lhe agrada, jogos que eram seus prediletos já não lhe chamam mais atenção, se a criança costumava lhe convidar para brincadeiras, agora prefere ficar quieta, sem fazer nada. Pode se sentir rejeitada pelos outros, achando que as pessoas não gostam dela, mostra baixa autoestima e diminuição do rendimento escolar. Também há mudanças no hábito alimentar, podendo recusar-se a comer. As alterações no sono são vistas por frequentes pesadelos e medo de ficar sozinha. A irritabilidade e agressividade também podem estar mascarando uma possível depressão.
M&S – Tristeza é sintoma de depressão?
GDL- Tristeza não é sinônimo de depressão. A criança pode ficar triste em alguns momentos, devido a uma briga com um amiguinho ou à perda de um animal. Porém, a partir do momento em que ela apresenta vários sinais dos descritos acima, no convívio familiar e escolar, os pais devem ficar atentos e procurar orientação e tratamento psicológico, pois se for um caso de depressão e não houver tratamento, haverá consequências tanto na adolescência como na vida adulta.
Colaborou
Gisele Dala Lana, psicóloga