A enxaqueca

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Dias e dias de dores de cabeça, náusea, vômitos, sensibilidade à luz. Quem sofre de crises de enxaqueca bem conhece estes sintomas. Entretanto, quem nunca teve a doença, às vezes pensa que pode se tratar de uma queixa sem fundamento, uma vez que a dor é interna, não aparecem sintomas que as pessoas enxerguem, como uma perna engessada, por exemplo.

Para entender a enxaqueca, sintomas e tratamento, o Medicina & Saúde conversou com o neurologista Alan Christmann Fröhlich, do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia (SNN). Confira.

Medicina & Saúde - Enxaqueca e dor de cabeça são a mesma coisa?
Alan Fröhlich -
Não, a dor de cabeça (cefaleia) é apenas um dos sintomas da enxaqueca. Os outros sintomas associados às crises de enxaqueca (fotofobia, fonofobia, náuseas e vômitos) não ocorrem frequentemente com outros tipos de cefaleia.

M&S - Como a enxaqueca aparece? Pode acontecer em crianças e adolescentes?
AF
- Enxaqueca é uma doença crônica, de origem cerebral e genética, cujo principal sintoma é a dor de cabeça (cefaleia). Ela ocorre devido a alterações no funcionamento de algumas substâncias químicas no cérebro, chamadas neurotransmissores. A enxaqueca é comum na adolescência, e a prevalência aumenta com a idade. Aos sete anos, a prevalência varia de 1,2% a 3,2%, sendo mais comum em meninos nesta faixa etária. Dos sete aos 11 anos, a prevalência varia de 4% a 11%, com a mesma frequência entre os sexos. Para adolescentes acima de 11 anos, a prevalência varia de 8% a 23% e, nesta fase, o número de casos é mais freqüente nas meninas, com cerca de três casos em meninas para cada caso em meninos.

M&S - Há um tratamento eficaz para a cura?
AF –
Não existe cura, mas existem vários tratamentos disponíveis para a enxaqueca. Eles podem ser tanto para tratar as crises e, especialmente, para preveni-las. Definitivamente, ninguém precisa ficar sofrendo com dor de cabeça achando que é algo normal, mas sim buscar um atendimento especializado.

M&S - Como é feito o diagnóstico?
AF -
Diferente de muitas outras doenças, o diagnóstico da enxaqueca é feito apenas pela história clínica e sintomas apresentados pelos pacientes, sem a necessidade de exames. Os sintomas são diferentes para cada pessoa, mas os mais comuns são: dor em um lado da cabeça, latejante, pulsátil. A dor pode ser forte a ponto de a pessoa precisar abandonar a escola ou o trabalho, necessitando de repouso. A intensidade da dor piora com atividades rotineiras, como caminhar ou subir uma escada. Além da cefaleia, durante as crises podem ocorrer intolerância à luz e à claridade (fotofobia), ao barulho (fonofobia), náuseas e vômitos. Na infância, dor abdominal pode ser um sintoma comum associado. Uma parcela menor de indivíduos pode ter também sintomas visuais (borramento visual, pontos ou luzes piscantes) e sensitivos (formigamento e dormência) em um dos braços.

M&S - As crises de enxaqueca podem ser encaradas como algo normal ou devem ser objeto de investigação?
AF -
Não, enxaqueca definitivamente não é normal, mas uma doença com um grande impacto pessoal, familiar e socioeconômico. O que não existe é um exame que faça o diagnóstico de enxaqueca, o qual é feito, principalmente, através dos sintomas. Testes adicionais, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética cerebral não são feitos de rotina em pacientes com enxaqueca, exceto se houver a suspeita de outra causa para os sintomas.

Colaborou
Alan Christmann Fröhlich, neurologista do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia (SNN), membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe) e da American Academy of Sleep Medicine (AASM)


Enxaqueca com aura pode trazer mais riscos

Um estudo que acompanhou quase 20 mil homens e mulheres durante, em média, 26 anos na Islândia, publicado no British Medical Journal, constatou que pessoas que sofrem de enxaqueca com aura (quando a dor vem acompanhada de sintomas visuais) têm mais risco de morrer de qualquer causa do que aquelas que não têm dores de cabeça crônicas ou que sofrem do tipo sem aura.
Vários estudos têm sugerido uma associação entre enxaqueca, particularmente a do tipo com aura, e um aumento de risco para doenças cardiovasculares. No entanto, segundo o artigo, poucos trabalhos têm avaliado a relação da doença com a mortalidade por qualquer causa.
De acordo com os autores, vários mecanismos podem estar por trás do efeito, mas nenhum foi comprovado. Um desses mecanismos sugere uma relação genética entre enxaqueca e problemas circulatórios, outros apontam a enxaqueca como uma doença sistêmica, que pode levar a comprometimentos vasculares.
Pelo menos 16% da população mundial sofre de enxaqueca, que é um mal causado por um desequilíbrio químico no cérebro. A atividade anormal no córtex que desencadeia o problema começa na região cerebral posterior. As partes mais afetadas pela dor são a fronte e a têmpora.
A enxaqueca é uma dor de cabeça diferente, seguida de náuseas, vômitos e intolerância à luz e sons. A dor latejante da enxaqueca pode durar algumas horas e até dias seguidos. No entanto, especialistas no assunto garantem que o uso de analgésicos em excesso pode piorar ainda mais a dor.

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