Nova área de ciência, a neuropsicologia procura ser mais um elo no tratamento e reabilitação de pessoas com doenças neurológicas e psiquiátricas. Como trata-se de um estudo da relação entre as funções neurais e psicológicas, esta ciência busca descobrir qual área específica do cérebro controla as funções psicológicas. Com isso, o principal método de estudo dos neuropsicólogos é o comportamento ou as mudanças cognitivas que acompanham as lesões em partes específicas do cérebro. De acordo com a psicóloga especialista em neuropsicologia, Juliana Bertoni Frasson, esta é a ciência que atua no diagnóstico tanto de doenças como de distúrbios psiquiátricos.
Medicina & Saúde – Como pode ser definida a neuropsicologia?
Juliana Bertoni Frasson – É uma área da ciência relativamente recente, que surgiu da confluência a neurologia com a psicologia. Tem duas vertentes: a avaliação neuropsicológica e a reabilitação neuropsicológica. A neuropsicologia atua tanto no diagnóstico de doenças neurológicas, tais como demências, doença de Parkinson, AVC (Acidente Vascular Cerebral), epilepsia, hiperatividade, distúrbios de aprendizagem, como nas questões psiquiátricas, que podem ser a depressão e o transtorno bipolar, por exemplo.
M&S – Para que a neuropsicologia possa ser aplicada é necessário algum tipo de avaliação do paciente? Como isso é feito?
JBF – Sim. É feito um exame por um psicólogo especializado em neuropsicologia. Por meio desse exame é feito um mapeamento cerebral em que são avaliadas funções cognitivas do paciente, como memória, atenção, raciocínio, linguagem, percepção, funções executivas, ou seja, todas as funções responsáveis pela eficiência intelectual. O exame possibilita quantificar as alterações dessas funções, assim como verificar se essas alterações estão compatíveis com a idade ou se já se configuram como déficit. Essa avaliação é realizada mediante uma série de testes psicométricos e neuropsicológicos.
M&S – Neste sentido, uma das aplicações pode ser em pacientes com Alzheimer?
JBF – Devemos falar primeiramente em diagnóstico precoce, que nos remete a uma fase anterior à instalação da demência, que é o chamado Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), que é de difícil diagnóstico. O CCL se confunde com o envelhecimento normal, já que os déficits são ainda muito sutis e, como no processo de envelhecimento, há um rebaixamento da memória (próprio da idade). Isso acaba mascarando os sintomas do CCL. Muitas pessoas pensam que pelo fato de estarem envelhecendo é normal terem problemas de memória, mas isso acontece até certo limite. Além desse limite já se configura como patologia, devendo ser investigada e tratada. Para isso, a neuropsicologia vem contribuir para esse diagnóstico.
M&S – Qual a relação entre Alzheimer e perda de memória?
JBF – Na doença de Alzheimer, embora existam pontos em comum, cada paciente sofre do problema de forma única. A perda de memória é o sintoma primário mais freqüente. A dificuldade maior em fechar o diagnóstico reside no fato de os primeiros sintomas serem confundidos com problemas decorrentes da idade ou de estresse. Mas alguns testes neuropsicológicos podem revelar muitas deficiências cognitivas até oito anos antes de se poder diagnosticar Alzheimer por inteiro. Mas com o avanço da doença aparecem novos sintomas: confusão, irritabilidade, agressividade, alteração do humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e perda das funções motoras. (Ver quadro)
M&S – Como é realizada a reabilitação neuropsicológica?
JBF – A reabilitação é uma estimulação cognitiva, através da neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se regenerar mediante seu uso e potenciação, no sentido de moldar o cérebro através da atividade. Daí se propõe atividades que estimulem não apenas a memória, como também as demais funções responsáveis pelo bom funcionamento intelectual. O que acontece é que o ser humano, quando se aposenta, e à medida que avança a idade, tende a diminuir suas atividades e, como consequência, não estimula mais seu cérebro.
Sintomas da evolução da doença e Alzheimer
* Primeira fase: sintoma primário é a perda de memória a curto prazo (dificuldade em lembrar fatos aprendidos recentemente), perda da atenção, perda da flexibilidade do pensamento e características de pensamento abstrato e apatia.
*Segunda fase: já pode apresentar dificuldade na sua linguagem, agnosia (percecpção), dificuldade de execução de movimentos (apraxia). O paciente parece desleixado ao executar certas tarefas motoras simples, como escrever ou vestir-se, devido à dificuldade de coordenação.
* Terceira fase: a degeneração progressiva dificulta a independência. Dificuldade na fala é mais evidente por não lembrar o vocabulário. Vai perdendo a capacidade para ler e escrever e deixa de fazer atividades mais simples do dia-a-dia. Os problemas de memória pioram e o paciente pode deixar de reconhecer parentes e vizinhos próximos. São comuns manifestações de apatia, irritabilidade, agressividade, instabilidade emocional e choro.
* Quarta fase: é a fase terminal. O paciente fica acamado, pode perder completamente a fala e pode ainda demonstrar agressividade.
Colaborou:
Juliana Bertoni Frasson, psicóloga especialista em neuropsicologia
Neuropsicologia
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