O excesso de peso de crianças e adolescentes, comumente ligado a risco de diabetes e doenças cardíacas, também chama a atenção de ortopedistas. Isso porque o sobrepeso pode causar alterações musculoesqueléticas, provocando dores e elevando o risco de diversas patologias, como artrose.
Segundo o IBGE, cerca de 33,5% das crianças de 5 a 9 anos estão acima do peso no país. Já a obesidade atinge 14,3% da população nessa faixa etária. Esses dados confirmam que as crianças brasileiras estão mesmo sofrendo com o problema, que pode trazer conseqüências ortopédicas.
Um dos problemas que pode ser causado é o geno valgo. Normalmente, o bebê tem as pernas arqueadas, o que é chamado de geno varo. Perto dos dois anos, a tendência se inverte e o eixo dos joelhos se volta para dentro, no geno valgo. Após alguns anos, ele adquire o alinhamento que terá na vida adulta. Segundo ortopedistas, o sobrepeso pode prejudicar esse processo e a deformidade pode causar dores e desgastar as articulações, predispondo à artrose no futuro.
Problemas na coluna, como a cifose, lordose e o rebaixamento do arco plantar também são citados por especialistas como efeitos do sobrepeso. Além disso, associada ao impacto repetitivo e caracterizada por uma inflamação conjunta do osso e da cartilagem, a osteocondrite pode ser outra conseqüência da obesidade entre as crianças, causando dores e podendo até levar a mancar.
Índice de obesos continua aumentando
A triste notícia é que o número de pessoas obesas no país continua aumentando. Segundo levantamento do Ministério da Saúde quase metade da população adulta (48,1%) está acima do peso e 15% são obesos. Há cinco anos, a proporção era de 42,7% para excesso de peso e 11,4% para obesidade.
Os dados fazem parte da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que em 2010 entrevistou 54.339 adultos, nas 27 capitais. O Vigitel é realizado anualmente, desde 2006, pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (NUPENS/USP).
Se for considerada somente a população masculina, mais da metade dos homens está acima do peso (52,1%). Entre as mulheres, a proporção é de 44,3%, com aumento significativo nos dois sexos. Em 2006, a pesquisa apontava excesso de peso em 47,2% dos homens e em 38,5% das mulheres.
Deborah Malta, coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, explica que o expressivo crescimento no número de pessoas com sobrepeso e obesidade, em um curto período, é uma tendência mundial.
“A ocorrência do excesso de peso decorre do sedentarismo e de padrões alimentares inadequados. Essa é uma tendência mundial e o Brasil não está isolado. Ela é um reflexo do baixo consumo de alimentos saudáveis como frutas, legumes e verduras e do uso em excesso de produtos industrializados com elevado teor de calorias, como gorduras e açúcares, além de baixos níveis de atividade física”, afirma Deborah Malta.
Tanto os hábitos alimentares dos brasileiros quanto o sedentarismo e a realização de atividade física no lazer são indicadores investigados pelo Vigitel. Em relação à alimentação, a pesquisa aponta que o brasileiro está consumindo menos feijão (importante fonte de ferro e fibras), mais leite integral (com gordura) e bastante carne com gordura aparente. O número de adultos que comem feijão pelo menos cinco dias por semana é de 66,7% – em 2006, eram 71,9%.
Também é preocupante o percentual de adultos que consomem a quantidade recomendada de frutas e hortaliças – cinco porções diárias (ou 400 gramas), de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Importante fator de proteção para as doenças crônicas não transmissíveis, esses alimentos são consumidos na quantidade recomendada por apenas 18,2% dos brasileiros. Por outro lado, 34,2% dos entrevistados dizem que se alimentam de carnes vermelhas gordurosas ou de frango com pele; e 28,1% consomem refrigerantes, cinco vezes ou mais na semana.