Estímulo ou impulso natural, involuntário, tendência natural, aptidão inata são algumas das definições para a palavra instinto. É algo que desperta sem mesmo que se soubesse ter tal habilidade. Mesmo com tantas inseguranças ou apreensões o instinto surge em situações das mais variadas, como o instinto de sobrevivência, por exemplo. A luta pela vida é algo que não se precisa exercitar para aprimorar, pois ele aparece em qualquer situação de perigo.
E quando o assunto é instinto materno, ele existe mesmo? Será verdade que toda mulher nasceu para ser mãe? O instinto de mãe está mesmo presente em todas as mulheres que dão à luz? Talvez sim. Ou talvez a grande maioria das mulheres realmente tenha despertado em si o instinto materno antes de terem decidido sobre a maternidade. Afinal, quem já não ouvir alguma história de uma mãe que arriscou a própria vida para salvar a do filho? Talvez o leitor ainda lembre daquela mãe que pulou em um alagado para salvar o filho que estava se afogando sem mesmo saber nadar.
Mãe que é mãe é assim: dá a vida por seu filho e o protege de todas as formas que pode. Muitas vezes até poupa os filhos do crescimento natural da vida tentando evitar que ele sofra alguma decepção ou que apenas sofra, de alguma forma.
A verdade é que a grande maioria das mulheres tem instinto materno, que começa a aflorar durante a gestação e aumenta a partir do momento do nascimento do filho. Esta é uma vivência da qual compartilham médicos e enfermeiros de maternidades pelo mundo afora.
Cleusa de Carvalho, enfermeira obstetra da Maternidade do Hospital São Vicente de Paulo em seus anos de experiência no setor reforça a afirmativa. “A grande maioria sim, tem este instinto materno de cuidar, de proteger. Durante a própria gestação, o comportamento da mulher já se modifica”, salienta.
Nem o medo, comum para quem vai viver uma nova experiência, como a de cuidar de um filho, inibe este comportamento. “Parece que esse instinto aflora, apesar de muitas vezes as mulheres sentirem medo, ficarem ansiosas durante a gravidez”, comenta. Este medo, segundo Cleusa, é a apreensão em não ter certeza se, quando o bebê nascer, saberá trocar a fralda da maneira correta, dar banho como deve ser feito, lidar com o choro, “que é uma das coisas mais difíceis”, completa.
Além disso, outros sentimentos rodeiam este momento, como a insegurança sobre o que fazer quando a criança tiver febre, ou se o choro é de fome, de frio... “A maioria das mães, são aquelas que são capazes de dar a vida por seus filhos, são capazes de morrer ou matar por seus filhos, isso é o instinto de proteção materna e também o cuidado, sem sombra de dúvidas”, reforça.
Proteção desde a gestação
Quando está grávida, a mulher cuida de duas vidas: a sua e a do bebê, ambas com atenção e cuidado. Mas depois que o bebê nasce, é comum que deixe suas próprias necessidades em segundo plano, priorizando as necessidades do filho.
Esse cuidado que começa no momento na concepção já é o instinto materno da proteção. “Antes de nascer, durante a gestação, a mulher faz de tudo para proteger o bebê dentro da barriga. Quando nasce, ela aprimora isso com o toque, o carinho, o amamentar, o cuidar daquele ser que depende da mãe. Isso também acontece com as mães adotivas, quando ela vê o bebê, o toque, o carinho, isso é o instinto maternal”, ressalta Cleusa.
Ser mãe é aprendizado
Cleusa, além de enfermeira, é mãe. E mesmo com todo conhecimento técnico que a profissão requer, não deixou de sentir estes medos e apreensões. “Por mais que eu seja enfermeira, naquele momento eu era mãe e o meu sentimento falou mais alto. Deu insegurança sobre como amamentar, os choros, eu tinha muito medo disso. E quando nasce, parece que a gente tira forças não sei de onde, porque tu é mãe, tem que aprender a ser mãe. Muitas vezes tem que aprender a trocar fralda, tem que aprender a amamentar, tem que cuidar do umbigo, aprender a lidar com o choro, que pode ser fome, frio, luz forte demais no olho, ruído de pessoas em volta, o aconchego”, enfatiza.
Por isso, é possível afirmar que ser mãe é um aprendizado natural, que começa instintivamente e vai sendo aprimorado diariamente. “Tudo isso é um aprendizado. Pelo instinto materno, a gente vai aprendendo a lidar com cada uma dessas situações. A gente não sabe exatamente como vai ser quando nascer, pode ter feito curso, aprendido alguma coisa, mas não sabe se ele vai chorar muito, se vai ser tranquilo. Não sabemos exatamente o que fazer na primeira febre. A apreensão e a insegurança sempre irão aparecer, porque quando se é mãe a gente quer proteger de todo jeito”, finaliza.
Colaborou
Cleusa de Carvalho, enfermeira obstetra do Hospital São Vicente de Paulo