Enxergar o problema na casa do vizinho é mais fácil do que dentro da própria casa. Isso também acontece quando o problema está no uso de drogas. Observar que o filho da vizinha está chegando tarde em casa ou que não segue mais as regras da família é mais fácil que reconhecer que o próprio filho está com problemas.
Muitas vezes, a simples observação em relação a atitude dos filhos pode diagnosticar o problema do uso de drogas. E quando antes isso aconteça, mais fácil de encontrar uma saída. Observar, por exemplo, que os amigos de infância já não são mais a companhia preferida do filho adolescente pode ser um indicativo de que as preferências dele estão mudando. Pode ser apenas uma mudança de interesses musicais, de leitura ou conversa. Mas pode ser que estes “novos amigos” estejam proporcionando a ele o que os antigos não compactuam, como o uso de drogas.
Contudo, uma pesquisa apresentada no final do ano passado mostra que o consumo de drogas entre os estudantes brasileiros diminuiu. O VI Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública e Privada nas Capitais Brasileiras, concluído em 2010, mostrou diminuição de 49,5 % no uso de drogas ilícitas entre estudantes da rede pública do país, na comparação com a última pesquisa, realizada em 2004. Esse cálculo levou em consideração o uso, continuado ou não, no ano, de solventes/inalantes, ansiolíticos, anfetamínicos, cocaína, maconha, crack e anticolinérgicos. Somente no caso da cocaína não houve redução de consumo.
Na comparação entre as pesquisas de 2004 a 2010 também houve redução expressiva dos relatos de consumo de bebidas alcoólicas e tabaco pelos alunos da rede pública. O consumo de álcool, por exemplo, diminuiu 35,1%, enquanto o de tabaco reduziu 37,6%.
O VI Levantamento identificou que há diferenças na proporção do uso de substâncias psicotrópicas entre alunos da rede privada e da pública. Foi revelado, por exemplo, que 9,9% dos estudantes das escolas públicas utilizaram, nos 365 dias anteriores a aplicação do questionário, qualquer tipo de droga, exceto álcool e tabaco), enquanto na rede particular esse número foi de 13,6%.
A comparação do Levantamento com pesquisas internacionais mostrou aspectos positivos da realidade do consumo de drogas no Brasil. Os estudantes brasileiros, por exemplo, são os que menos consumiram tabaco, tanto na vida quanto no ano, quando comparados os estudantes de 16 países, da América do Sul e Europa: Alemanha, Reino Unido, Suíça, Itália, Holanda, França, Uruguai, Irlanda, Colômbia, Portugal, Chile, Argentina, Equador, Paraguai, Peru e Bolívia.
Outro destaque é que o uso na vida de crack entre estudantes brasileiros pode ser considerado diminuto na comparação com estudantes europeus e sul-americanos. O Brasil e o Paraguai ocupam a última posição, com a mesma prevalência de uso na vida e no ano de crack.
Entretanto, diversos sinais podem indicar o problema. E quem é especialista no assunto sabe o que pode ser sinal dessa mudança. Para saber quais os sinais a serem observados, o Medicina & Saúde conversou com o médico psiquiatra Jorge Carrão. Confira.
Medicina & Saúde - É possível a família identificar o uso de drogas?
Jorge Carrão - Sim. O mais relevante é a mudança de comportamento na pessoa, comparado com seu modo de agir prévio. O aumento da agressividade é um fato comum dentro desta mudança de comportamento. Outros elementos: olhos avermelhados, cheiro forte na roupa, perda do apetite, emagrecimento, ou o contrário, desleixo nos cuidados pessoais e nos compromissos, diminuição da memória, no sono ou inversão do hábito de sono entre outros.
M&S - Como proceder quando reconhecer o problema?
JC - Partir do fato consumado, ou seja, de acordo com as evidências afirmar sobre o uso. Saber qual a sua preocupação com esse fato, qual ajuda que deseja? O que pensa que está acontecendo com ele (a)? Em resumo, estabelecer um diálogo de alguém que deseja ajudar e não criticar.
M&S - Qual o momento de procurar ajuda profissional?
JC - Se não há progressos no diálogo e o comportamento se mantém ou até se agrava, não faça ameaças ou chantagem, e procure ajuda mesmo sem a pessoa envolvida. Um dica é reunir outros familiares bem próximos interessados em auxiliar.
M&S- Quando devem ser utilizados medicamentos?
JC - Se existem sintomas importantes de abstinência, inclusive crises de agressividade.
M&S- É possível fazer tratamento sem uso de medicamentos?
JC - Sim, quando a dependência da substância for, somente, psicológica, e não física