Depressão pós-parto

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Por Clair de Andrade

Acontecimentos recentes relacionados ao “abandono de recém-nascidos” por suas mães nas ruas ou em caixas de lixo nos chocam. O que leva uma mulher a ter uma atitude tão desumanizada? Será por maldade? Ou será que a pessoa está passando por uma situação de algum transtorno emocional ou psíquico?

Na maioria dos casos depois de uma avaliação psiquiátrica, fica esclarecido que estas mulheres estão doentes psiquicamente e podem estar com transtorno de depressão pós-parto. Mas o que seria este transtorno? Quais as consequências para a mãe e para o bebê? Nesta matéria pretende-se esclarecer de forma sucinta o que seria a depressão pós-parto.
A depressão pós-parto pode causar significativas repercussões na qualidade de vida da mãe, na dinâmica familiar e na interação mãe-bebê. Mesmo assim muitas mulheres, seus cônjuges e familiares desconhecem os riscos e as consequências que pode trazer tanto para a mãe como para o seu bebê.

A maioria dos pesquisadores utiliza o termo depressão pós-parto, para designar qualquer episódio depressivo que ocorra nos meses que se seguem ao nascimento do bebê. Há estudos que consideram que o quadro inicia-se entre duas semanas, dois meses, três meses, seis meses, e até um ano após o nascimento. Os sintomas geralmente se iniciam nos primeiros dias após o nascimento, atingem o pico no quarto ou quinto dia do pós-parto e regridem de forma espontânea em no máximo duas semanas.

O quadro de depressão pós-parto entre outros sinais inclui:
- choro fácil que não tem relação com sentimentos de tristeza;
- labilidade afetiva (mudança rápida e sem motivo do humor ou estado de ânimo);
- irritabilidade e comportamento hostil para com familiares e acompanhantes;
- humor deprimido;
- sensibilidade excessiva à rejeição;
- perda de prazer e/ou apetite;
- alteração do sono;
- agitação ou retardo psicomotor;
- sensação de cansaço;
- sentimento de inutilidade ou culpa;
- dificuldade para concentrar-se ou tomar decisão;
- pensamento de morte ou suicídio;
- sentimentos de estranheza e despersonalização;
- atitudes de arrogância em algumas mulheres.

Mães com depressão pós-parto, quando comparadas às mães não depressivas, gastam menos tempo olhando, tocando e falando com seus bebês e apresentam mais expressões negativas que positivas. Elas se expressam menos face a face, são menos afetivas na interação, são confusas e inseguras por lhes faltar habilidades de resolução de problemas ou a persistência necessária para estabelecer interações afetivas com seus filhos. Além disso, podem vir a interromper a amamentação mais precocemente.

Bebês de mães depressivas são vulneráveis aos impactos da depressão materna, porque dependem muito da qualidade dos cuidados e da responsabilidade emocional da mãe. Quanto mais grave e persistente a depressão, maior a chance de prejuízos na relação mãe-bebê e de repercussões no desenvolvimento da criança. Estes bebês quando comparados aos de mães não depressivas têm menor nível de atividade e menos vocalizações, costumam distanciar o olhar, apresentam mais aborrecimentos, protestos mais intensos, mais expressões de tristeza e raiva, menos expressões de interesse e uma aparência depressiva com poucos meses de idade. Os bebês se aconchegam pouco, têm pouca reciprocidade com suas mães e expressões emocionais diminuídas, são irritados e choram mais, têm mais problemas de alimentação e sono e menor desenvolvimento motor e cognitivo. Estudos demonstram que as crianças de mães com depressão pós-parto têm menos segurança afetiva, são mais distraídos, vão apresentar alterações de comportamento.

Alguns fatores de risco fortemente associados na depressão pós-parto são: história pessoal de depressão, episódio depressivo ou ansioso na gestação, eventos de vida estressantes, pouco suporte social e financeiro e relacionamento conjugal conflituoso. Existem outros prováveis fatores de risco que são: história familiar de transtorno psiquiátrico, características de personalidade, fatores culturais, baixa autoestima, complicações obstétricas e parto prematuro. Inclusive estudos comprovam que mulheres que já apresentaram depressão pós-parto têm mais chance de apresentar episódios depressivos posteriormente quando ocorre o nascimento de outro filho.

Podemos dizer que na vida de uma mulher dentre todas as fases, o pós-parto é o período de maior vulnerabilidade para o aparecimento de transtorno psíquico, pois existem alterações biológicas, psicológicas e sociais em sua vida. É preciso ficar alerta, pois a mãe em situação de pós-parto tem necessidades de reorganização social e adaptação a um novo papel, a mulher tem um súbito aumento de responsabilidades por se tornar referência de uma pessoa indefesa, ou seja, o bebê. Ela sofre privação de sono e isolamento social. Ainda tem de se reestruturar na sexualidade, na sua imagem corporal e na identificação feminina.

Mulheres com depressão pós-parto além de ajuda de medicamentos antidepressivos necessitam paralelamente de um tratamento psicológico, para trabalhar as questões emocionais da depressão e suas consequências. O tratamento psicológico serve de suporte e contenção para diminuir a ansiedade e aliviar o sofrimento da mãe, de modo a restabelecer o bem estar e o equilíbrio emocional. Este trabalho é realizado através do acolhimento, da escuta e de intervenção psicológica. Também estas mulheres em situação de depressão pós-parto vão precisar de compreensão por parte de familiares, amigos, enfim das pessoas que estão próximas. Não esquecendo que também devem receber auxílio nos cuidados com o bebê.
Ao concluirmos podemos dizer sem dúvida que um tratamento conjunto é fundamental para melhorar a qualidade de vida da mãe, mas sobretudo para prevenir distúrbios no desenvolvimento do bebê e preservar um bom nível de relacionamento conjugal e familiar.

Clair de Andrade é psicóloga da Vitta Academia

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