Um olhar sobre a Terapia Familiar

Um olhar sobre a Terapia Familiar do ponto de vista da psicóloga Maria José Esteves de Vasconcellos

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Considerada uma das pioneiras da Terapia Familiar e de Casal no país, a psicóloga Maria José Esteves de Vasconcellos, esteve na Imed durante o Seminário de Psicologia, onde ministrou palestra e workshop. A vinda da profissional de renome internacional integrou uma das ações do Núcleo de Estudos em Família e Casal - NEFAC. Confira a entrevista:

Medicina & Saúde - As pessoas estão valorizando o tratamento de casal e de família?
Maria José Esteves de Vasconcellos -
Procuro mostrar que atender a família – e não simplesmente o indivíduo, mesmo que na família - pressupõe que o profissional adote uma visão de mundo sistêmica, ou seja, que coloque seu foco nas relações entre as pessoas e não em cada uma delas separadamente. Ou seja, isso requer uma mudança de paradigma. Mas, não só os profissionais precisariam mudar sua forma de pensar. Também as famílias estão acostumadas a pensar que a dificuldade está localizada em um dos seus membros – que então precisaria submeter-se a uma psicoterapia individual. Penso que as famílias, na sua maioria, ainda não aprenderam a pensar que a dificuldade pode encontrar-se nas relações familiares, embora possa manifestar-se especialmente em um de seus membros. Por isso, podemos considerar que as famílias raramente procuram espontaneamente a terapia de família e/ou de casal. Entretanto, quando são encaminhadas por algum outro profissional – por exemplo, médico, orientador educacional, ou mesmo psicoterapeuta individual de um de seus membros – as famílias em geral valorizam e avaliam positivamente essa nova modalidade de trabalho com famílias e casais.

M&S - Como avalia a procura dos jovens psicólogos pela terapia familiar e de casal?
MV -
Percebo que também o número de psicólogos que têm buscado a especialização em terapia de família e casal ainda é pequeno. Acredito que, como se trata de uma modalidade relativamente nova de trabalho com famílias e casais - surgida a partir de uma mudança de paradigma na ciência, ou seja, do desenvolvimento de uma visão sistêmica - , ainda não tem sido suficientemente abordada nos cursos de graduação em psicologia. Durante esses cursos, os alunos ouvem falar muito mais de psicoterapia individual – em suas diferentes abordagens – e ainda muito pouco da abordagem sistêmica. Assim, a maioria dos recém-formados se dirige para essas abordagens hegemônicas tradicionais. Por isso, considero da maior importância o trabalho que a Imed está desenvolvendo, abrindo espaço para que as questões relativas ao pensamento sistêmico, o novo paradigma da ciência, sejam trazidas para os alunos já durante a sua graduação.

M&S - Quais os desafios que a terapia familiar e de casal poderá enfrentar nos próximos anos?
MV -
Acho, sim, que os tantos os Formadores quanto os Especialistas em Terapia Sistêmica de Família e de Casal, assim como os Formadores e os Especialistas em Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais, têm diante de si um desafio. Como eu já disse, essas modalidades de trabalho com famílias, seja no contexto clínico, seja no contexto social, ainda são pouco conhecidas. Tenho comentado que, quando me apresentam como psicóloga, ninguém pergunta o que é um psicólogo. Mas, quando me apresentam como uma profissional sistêmica, as pessoas costumam perguntar: sistêmica?! o que é isso?! Penso que essa situação poderia ser enfrentada de dois modos. O primeiro naturalmente consistiria em termos atuando na área profissionais bem formados, competentes e criteriosos, cujo bom trabalho, conduzindo a bons resultados, poderá ser uma excelente forma de divulgação. O segundo poderia ser a criação de espaços de conversação, coordenados por esses especialistas, oferecidos ao grande público, famílias e outros interessados, em variados contextos, tais como escolas, paróquias, clubes, associações comunitárias.

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