Nem sempre manter o corpo esbelto e emagrecer são apenas questões estéticas e de autoestima. Em muitos casos, reduzir o peso e as medidas são questões de saúde. Além de dietas específicas, existem técnicas mais radicais, que são processos cirúrgicos de redução do estômago. Essas técnicas estão cada vez mais difundidas e menos invasivas, o que as está tornando mais aplicáveis. A mais nova delas, o balão intragástrico, por exemplo, além de resultar na perda de peso, traz outros benefícios, como a redução da chance de infarto.
No último Congresso Anual da Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, que foi realizado em Orlando, nos Estados Unidos, a técnica que já é utilizada em Passo Fundo foi destaque. O bypass gástrico com internação ultra-curta (24 a 48 horas) que vem sendo utilizada pela Gastrobese e publicada por essa clínica na revista Obesity Surgery em 2009, foi apresentada pelo cirurgião norte-americano Titus Duncan (EUA) demonstrando que a redução do período de internação está associada a menores taxas de mortalidade e complicações pós-operatórias.
Já o médico Ninh Nguyen, dos Estados Unidos, mostrou que o acesso laparoscópico, por ser menos traumático e minimizar a agressão ao paciente está associado à redução de mortalidade em cirurgia bariátrica. A Gastrobese vem utilizando este acesso desde 2005 sendo que, em mais de 300 cirurgias, o período médio de internação foi de 1,12 dias.
Representando o município, esteve no Congresso o médico Carlos Augusto Madalosso. De acordo com ele, neste evento foi demonstrado que a cirurgia bariátrica reduz entre 25% a 50% o risco de desenvolver infarto agudo do miocárdio e nos que o apresentarem, o risco de um evento fatal fica reduzido em 60%. A cirurgia bariátrica é um tratamento eficaz capaz de reduzir mortalidade cardiovascular e sugere que todo paciente em grupo de risco para doença cardiovascular (dibetes melitus tipo 2, hipertensão arterial sistêmica, aumento de níveis de colesterol e triglicerídeos, apneia de sono e ateromatose) associados à obesidade moderada deve ter o direito à cirurgia pelo clínico assistente sob risco de ter sua vida interrompida prematuramente.
Balão intragástrico
Recente estudo publicado na revista internacional Obesity Surgery pelo pesquisador suíço Dumonceau revelou que o tratamento da obesidade com balão intragástrico e medidas de modificação do estilo de vida são eficazes para promover a perda de peso. O autor revisou 30 estudos clínicos, totalizando 4.877 pacientes. A média de perda de peso foi de 17,8 Kg (variando de 4,9 a 28,5 kg) nos seis meses de tratamento, correspondendo a uma redução de quatro a nove pontos no IMC. Além disso, foi observada uma melhora ou resolução nas comorbidades (doenças relacionadas com a obesidade) em 52% a 100% dos pacientes, melhora de 54% no controle da glicemia em diabéticos e 48% nos níveis de pressão arterial. Por outro lado, houve intolerância gastrointestinal ao balão com necessidade de retirada em apenas 2,5% dos pacientes e complicações como esvaziamento do balão e migração para o intestino, com obstrução intestinal em 0,2% (dois em 1000).
Conforme o médico gastroenterologista e nutrólogo, Iran Moraes Júnior, o tratamento com balão intragástrico é uma alternativa eficaz e segura, segundo a pesquisa publicada, em pacientes com sobrepeso (acima de 27 de IMC ou 28% de gordura corporal), em obesos sem indicação de tratamento cirúrgico (IMC abaixo de 40) e naqueles superobesos (IMC acima de 50) como preparação para a cirurgia bariátrica. “Os melhores resultados são conquistados quando existe a adesão do paciente as orientações da equipe multidisciplinar”, salienta.
Conforme o médico, a indicação do tratamento com balão intragástrico é feita pelo médico, através de uma consulta inicial, onde são avaliados os hábitos alimentares, tentativas prévias de perda de peso, presença de doenças associadas com o sobrepeso e somente após essa avaliação é que a decisão pelo tratamento será adotada. “Também é necessária uma avaliação psicológica e nutricional para receber as orientações antes, durante e após o período de seis meses em que o paciente fica com o balão. Alguns exames complementares são solicitados para melhor avaliação e identificação de alguma contraindicação (hérnia hiatal grande, varizes de esôfago, úlcera gástrica ou duodenal ativas, cirurgia de estômago prévia, uso crônico de anticoagulantes, gravidez/amamentação, dependência de álcool ou drogas ilícitas)”, destaca Moraes.
O procedimento de colocação e retirada do balão é endoscópico, ou seja, não necessita de cirurgia, é realizado com sedação profunda sob supervisão do médico anestesiologista. “Não necessita internação, podendo o paciente receber alta algumas horas após o término do procedimento”, completa.
Entretanto, é importante ressaltar que existem dados que evidenciam reganho de peso após a retirada do balão (um ano após) em 28% a 41% dos pacientes, “caso não modifiquem os hábitos alimentares e não realizem exercícios físicos por toda a vida. Por esse motivo, a decisão de tratar uma doença grave e crônica, como a obesidade, deve basear-se em modificações definitivas do estilo de vida para que haja sucesso prolongado”, avalia o médico.
Colaboraram
Carlos Augusto Madalosso, médico cirurgião do aparelho digestivo e cirurgião bariátrico
Iran Moraes Jr., médico gastroenterologista e nutrólogo