Linfoma. Que doença é essa?

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Apesar de ser mais incidente na população acima dos 60 anos de idade, os casos de linfoma entre os mais jovens está crescendo. Um exemplo é o ator Reynaldo Gianecchini, que recentemente descobriu estar com linfoma de células T não Hodkins. Esta doença duplicou o número de casos nas últimas décadas.
Na maioria dos casos o linfoma é tratado com quimioterapia, radioterapia, ou ambos. Mas existe outra alternativa, que é o transplante de células-tronco. Este tipo de célula é encontrado no sangue do cordão umbilical e placentário (SCUP), que por não ter sofrido a ação de fatores externos tem uma ótima eficácia no tratamento de linfoma e de várias outras moléstias hematológicas.
Mas que doença é essa? Como ocorre? Quais os fatores de risco? Para responder a estes questionamentos o Medicina & Saúde conversou com a médica hematologista Moema Nenê Santos, do Centro Integrado de Terapia Onco-hematológica.

Medicina & Saúde – O que é linfoma?
Moema Nenê Santos
- Linfoma é um tipo câncer que compromete o sistema linfático. O sistema linfático é composto por órgãos, vasos e tecidos linfáticos e pelos linfonodos (popularmente conhecidos como ínguas), que se distribuem pelo corpo para ajudar a defendê-lo de infecções. Esse sistema produz e transporta os glóbulos brancos, células que combatem as infecções e participam do sistema de defesa do organismo.

M&S – Quando um linfoma ocorre?
MNS -
O linfoma ocorre quando uma célula normal do sistema linfático se transforma, sofre uma mutação e cresce sem parar disseminando-se pelo organismo. Os diversos tipos de linfomas têm comportamento e grau de agressividade diversa. Eles podem ser divididos em dois grandes grupos: linfoma de Hodgkin e linfoma não-Hodgkin. No Linfoma Hodgkin (LH), existe dois tipos celulares característicos: as células Hodgkin que são mononucleadas e as células Reed-Sternberg (RS) grandes e multinucleadas, que são células B diferenciadas específicas a este tipo de neoplasia representando aproximadamente 1% do tumor. Segundo a Organização Mundial de Saúde, os linfomas não-Hodgkin (LNH) incluem mais de 20 subtipos, com aspectos clínicos, morfológicos, imunogenéticos diferenciados, refletindo o estágio de maturação das células linfóide.

M&S – Quais as causas e fatores de risco?
MNS -
A incidência anual de linfomas praticamente dobrou nos últimos 35 anos. Não se sabe ao certo quais são as razões para esse aumento. Verifica-se um aumento aparente de incidência do linfoma em comunidades predominantemente agrícolas, que tem maior exposição química. Estudos associam componentes específicos de herbicidas, fertilizantes e pesticidas à ocorrência do linfoma. Porém, em termos quantitativos, a contribuição de tais agentes para o aumento da frequência do mesmo ainda não foi definida. Exposição à radiação também ocorre como um fator de risco para a doença.

M&S – Existe algum grupo de risco?
MNS -
Indivíduo com alteração do sistema imune, em consequência de doenças genéticas hereditárias, ou adquiridas com uso de drogas imunossupressoras e infecção pelo HIV, tem maior risco de desenvolver linfomas. Pacientes portadores dos vírus Epstein-Barr e HTLV1 e da bactéria Helicobacter pylori (que causa úlceras gástricas) têm risco aumentado para alguns tipos de linfoma. Entretanto, a imensa maioria dos casos da doença ocorre em indivíduos sem fatores de risco identificáveis e a maioria das pessoas com supostos fatores de risco nunca contraem a doença.

M&S – Qual é a incidência desse tipo de doença?
MNS
- A incidência do linfoma de Hodgkin atinge um pico de 5 a 6 casos/100.000 indivíduos em torno de 20 anos de idade. Essa taxa cai para menos da metade na meia idade e volta a aumentar em frequência em indivíduos mais idosos. Esse padrão difere entre grupos étnicos. O linfoma de Hodgkin ocorre mais frequentemente em indivíduos mais jovens (de 10 a 40 anos) de descendência européia, do que naqueles de descendência africana, asiática ou hispânica. A incidência do linfoma não-Hodgkin aumenta progressivamente com a idade. Em torno de 4 casos/100.000 indivíduos ocorrem aos 20 anos de idade. A taxa de incidência aumenta 10 vezes, passando para 40 casos/100.000 indivíduos com 60 anos e mais de 20 vezes, chegando a 80 casos/100.000 indivíduos após os 75 anos de idade.

M&S – Quais os sintomas?
MNS
- Os sintomas são dependentes da localização da doença que pode surgir em qualquer parte do corpo. Caso desenvolva-se em linfonodos periféricos como no pescoço, axilas e virilhas, os sintomas provavelmente incluirão a apresentação de linfonodos aumentados e indolores nestes locais. Se a doença ocorre na região do tórax, os sintomas podem ser de tosse, "falta de ar" (dispnéia) e dor torácica. E quando se apresenta na pelve e no abdome, os sintomas podem ser de plenitude, dor e distensão abdominal. Outros sintomas incluem febre, fadiga, sudorese noturna, perda de peso, e prurido ("coceira na pele").

M&S – Como é feito o diagnóstico?
MNS -
Para o diagnóstico dos linfomas são realizados exame clínico, laboratoriais, exames de imagem, anatomopatológico, imunohistoquímicos e citogenéticos entre outros. Estes procedimentos permitem determinar seu tipo específico, e esclarecer outras informações úteis para decidir sobre a forma mais adequada de tratamento na dependência do seu tipo, estágio da doença e fatores relacionados com características clínicas do paciente.

M&S – Que tipo de tratamento é aplicado?
MNS -
O tratamento clássico em geral, consiste de poliquimioterapia podendo estar associado à imunoterapia com ou sem radioterapia. Dependendo do estágio da doença no momento do diagnóstico, pode-se estimar o prognóstico do paciente com o tratamento. Para os pacientes que sofrem recaídas (retorno) da doença, são disponíveis alternativas, dependendo da forma do tratamento inicial empregado. As formas empregadas usualmente, e com indicações relativamente precisas, são o emprego de poliquimioterapia e algumas vezes necessidade do transplante de medula.
As taxas e índices de cura variam muito e dependem fundamentalmente do estágio em que a doença é diagnosticada e do tipo de linfoma. Hoje, o cálculo do risco baseia-se nesses fatores e no chamado índice prognóstico, que considera uma série de características do paciente.

M&S – É possível evitar os fatores de risco?
MNS -
De uma forma geral, é possível evitar alguns fatores de risco como exposições a produtos químicos ou a situações de risco de contaminação procurando sempre hábitos de vida saudável com dietas ricas em verduras e frutas e que tenham efeito protetor contra o desenvolvimento de linfomas e mesmo outros tipos de cânceres. No entanto ainda neste tipo de neoplasia não existem formas de prevenção comprovadas.

Colaborou
Moema Nenê Santos, médica hematologista do Centro Integrado de Terapia Onco-hematológica (Cito)

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