O segundo filho está chegando... e o que muda na vida da família?

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Quando um casal tem o primeiro filho, tudo é uma nova experiência. A atenção é toda voltada ao bebê que chegou. Os mínimos detalhes são planejados: as fotos, as lembrancinhas, o quarto, as roupinhas. Passado um tempo, aparece a vontade de reviver aqueles momentos que foram tão especiais. Assim, os pais partem para a preparação do nascimento do segundo filho. E aí surgem inúmeras dúvidas. Será que existe amor para dividir com mais um filho? Como o primeiro filho vai se sentir? Será que eles vão competir? O mais velho, vai regredir no desenvolvimento?

A apreensão dos pais é normal para qualquer casal. Mas cada caso é um caso. Para muitos “irmãos mais velhos” a chegada do mais novo não interfere e eles conseguem levar a vida sem sentir um ciúme doentio. Porém, em outras famílias pode acontecer do filho mais velho querer voltar a usar a chupeta ou não querer dividir o quarto e a atenção dos pais.

Para saber como lidar com este momento, o Medicina & Saúde conversou com o psicólogo Luiz Ronaldo de Oliveira. Confira.

Medicina & Saúde - Como os pais devem se preparar para a chegada do segundo filho?

Luiz Ronaldo - A chegada de um filho sempre será uma experiência única, independente se for o primeiro, o segundo ou terceiro, pois estamos esperando o segundo filho num contexto diferente do primeiro e vamos investir nesta criança a partir das motivações paternas e maternas que constituímos ao longo da gestação. O segundo filho terá o espaço familiar e o papel na família que os demais lhe permitirem. Por isso, neste processo de espera torna-se importante refletir sobre o respeito pela subjetividade do sujeito que irá integrar este núcleo chamado família.

M&S - Como devem agir com relação ao filho mais velho?

LR - O processo de espera de um novo membro na família precisa ser preparado com todas as pessoas que fazem parte do grupo. Com relação ao filho mais velho não deve ser diferente, pois vamos orientar e informar que o irmão que está chegando será um companheiro para acrescentar e participar da vida de todos. O bebê não irá tirar o lugar de nenhum membro da família, mas ocupar o espaço que lhe permitirem e esta divisão de papeis necessita estar clara antes mesmo da chegada do bebê, pois a família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições e, nesta dinâmica, constitui os sujeitos a partir das relações interpessoais.

M&S - Oferecer algum brinquedo ou algo que o filho mais velho queira muito como "compensação" pela chegada de um irmão para dividir as atenções é saudável?

LR - Sempre que precisamos “comprar” o que seria “gratuito”, estamos estabelecendo uma relação de compra de afetos e isto não se configura em relações saudáveis do ponto de vista do desenvolvimento humano. Dar e receber presentes consiste numa atitude involuntária de reconhecimento e não de compensação.

M&S - No momento de chegar em casa com o novo irmão, como os pais devem apresentá-lo ao filho mais velho?

LR - A chegada do bebê precisa ser preparada a partir do momento da concepção, pois as expectativas serão positivas e saudáveis dependendo da percepção que desenvolvemos sobre o outro, enquanto um sujeito, numa relação de respeito e acolhida. Nós apreendemos a respeitar e acolher. Este aprendizado se dá na relação direta do EU com o OUTRO, por isso se os pais estão esperando com alegria e entusiasmo, esta será a expectativa do irmão mais velho. Assim, percebemos que a família é um sistema aberto, auto-regulado, com uma história comum, que define no seu seio normas e padrões relacionais próprios e coletivos.

 

M&S - Durante a gravidez como os pais devem lidar com a situação?

LR - Quando falamos em gravidez precisamos entender que esta é uma entre as muitas etapas do ciclo familiar. Carter e McGoldrick, ao referirem o ciclo familiar, propõem seis etapas que antecipam e incluem a própria gravidez. Constituem-se na seguinte lógica: a saída de casa (jovens solteiros), a união de famílias no casamento, famílias com filhos pequenos, famílias com filhos adolescentes, lançando os filhos para a vida, estágio tardio da vida e a síndrome do ninho vazio. Para cada etapa há expectativas diferentes e complementares, pois no processo de desenvolvimento necessitamos passar e respeitar as etapas com alegria e otimismo e esta deveria ser a postura dos pais ao esperar um novo membro para abrilhantar as relações interpessoais.

Colaborou

Luiz Ronaldo F. de Oliveira, psicólogo e coordenador da Escola de Psicologia da Imed

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