Resultado preliminar do primeiro levantamento em grande escala no Brasil sobre o tratamento da doença, apresentado no Congresso da Sociedade Latino-Americana de Tireoide em Lima, no Peru, em agosto, quase metade dos pacientes (46,6%) que tomam remédios contra hipotireoidismo não controla a doença. Mas você sabe que problema é esse?
As disfunções da glândula tireoide, localizada na parte anterior do pescoço, podem causar problemas de obesidade e depressão que atingem homens e mulheres. A glândula é responsável pela produção dos hormônios tiroxina e tri-iodotironina que regulam o crescimento, a digestão e o metabolismo do corpo.
Quando a tireoide trabalha menos que o necessário, acontece o chamado hipotireoidismo e com ele o cansaço, depressão, pele ressecada, anemia, fadiga, aumento de peso, períodos de menstruação irregular ou ausente, tornozelos e rosto inchados e colesterol elevado. O oposto também pode acontecer. A glândula libera mais hormônios que o necessário trazendo problemas como nervosismo, aumento da sudorese, intolerância ao calor, palpitações, cansaço, perda de peso, diarréia, tremores, olhos saltados.
A doença muitas vezes é silenciosa. O aparecimento dos sintomas é quase sempre isolado. De acordo com o estudo feito com 1.231 pacientes com idade média de 53 anos, acompanhados em hospitais de quatro universidades: UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Unicamp, Universidade Federal do Paraná e Universidade Federal do Ceará.
Porém, conforme a médica especialista em Medicina Interna, Gláucia Sarturi Três, que atua no corpo clínico do Hospital São Vicente de Paulo, identificar a doença é o primeiro passo para iniciar o tratamento mais adequado.
Medicina & Saúde – O que é tireoide?
Gláucia Sarturi Três - A tireóide é uma glândula que pesa de 10 a 20 gramas em adultos normais. Está localizada na região anterior do pescoço. Ela pode ser maior em homens e aumenta com a idade e com o peso corporal e pode diminuir com a diminuição da taxa de iodo. Ela é responsável pela produção de substâncias, ditas hormônios da tireóide, que são a tiroxina ou T4 e a 3, 5, 3-tri-iodotironina ou T3. O T4 é produzido exclusivamente pela tireóide, já o T3 é produzido pela tireóide e outros órgãos.
M&S – Por que estes hormônios são tão importantes?
GST - Os hormônios tireoidianos são extremamente importantes no desenvolvimento do sistema nervoso central e corporal das crianças, bem como na atividade metabólica em adultos. Eles afetam a função de todos os sistemas orgânicos. Esses hormônios devem estar constantemente disponíveis para realizar suas funções. Eles são estocados na glândula tireoide, e sua síntese e secreção é mantida por um mecanismo regulatório que é muito sensível a pequenas mudanças na concentração circulante.
M&S – Qual a importância do iodo no que se refere à tireoide?
GST - O iodo é essencial para o funcionamento normal da tireoide e pode ser obtido pelo consumo de alimentos que o contenham ou por adição. Há alimentos ricos em iodo como frutos do mar, algas e alguns vegetais. A iodinação do sal de cozinha é legalmente aprovada em muitos países.
M&S – O que deve ser feito para saber se a glândula está funcionando bem?
GST -Para saber como está o funcionamento da glândula tireoide devemos dosar o TSH (hormônio estimulante da tireoide). Quando este está alterado podemos ter duas principais alterações do estado da tireóide que são o hipertireoidismo e o hipotireoidismo. A Associação Americana de Tireoide recomenda o rastreamento de adultos para disfunção tireoidiana por meio da medida do TSH a partir dos 35 anos e a cada 5 anos, principalmente em mulheres. Nesse rastreamento podemos identificar pessoas com excesso do hormônio (hipertireoidismo) bem como a falta do mesmo (hipotireoidismo)
M&S – Como se apresentam estes distúrbios?
GST - A Doença de Graves é a forma mais comum de hipertireoidismo (60-80%), afetando as mulheres numa proporção de 5-10:1, nas idades de 40-60 anos. A maioria dos estudos relata taxas de incidência de 0,5\1000 indivíduos\ano e o risco de homens e mulheres de desenvolverem hipertireoidismo em alguma fase de sua vida é de 1% e 5% respectivamente.
M&S – Quais são os sintomas do hipertireoidismo?
GST - Os sintomas em geral incluem ansiedade, labilidade emocional, fraqueza, tremores, palpitação, intolerância ao calor, sudorese, perda de peso mesmo com alimentação habitual, diarréia, alterações menstruais, entre outras. Em pacientes idosos as manifestações podem ser taquicardia, arritmias, falta de ar, astenia e fraqueza. Nesses, o excesso de hormônio pode levar ao desenvolvimento de complicações graves como insuficiência cardíaca congestiva, miocardiopatias e arritmias. Também está associado ao aumento da reabsorção óssea elevando o risco de fraturas em mulheres idosas. Há um aumento no risco de mortalidade por doença cerebrovascular, cardiovascular e fratura de fêmur.
M&S – Como é o tratamento?
GST - As opções de tratamento disponíveis são as drogas antitireoidianas, a cirurgia e o iodo radioativo. O hipotireoidismo, que se caracteriza pela deficiência do hormônio tireoidiano, tem uma prevalência que varia de 0,1 a 2% e é 5-8 vezes mais comum na mulher. Ocorre em 5-15% das mulheres acima de 65 anos. A tireoidite de Hashimoto é a causa mais comum do hipotireoidismo, sendo de origem auto-imune.
M&S – Quais os sintomas do hipotireoidismo?
GST - As manifestações clínicas de pacientes com hipofunção da tireoide são muito variáveis, e dependem da idade de início, duração e severidade da deficiência do hormônio tireoidiano. Os sintomas mais comuns são: fadiga, intolerância ao frio, ganho de peso, constipação, mialgias, irregularidades menstruais, edema, queda de cabelo, bradicardia, alterações dos lipídios. Em estudo nos Estados Unidos com 13.344 indivíduos sem conhecimento de doença prévia da tireoide, foi encontrado 4,6% de hipotireoideos. A terapia consiste na reposição hormonal com tiroxina (T4), sendo que na maioria das pessoas é uma condição que requer tratamento por toda a vida. O objetivo é restaurar o estado de eutireoidismo.
Colaborou
Gláucia Sarturi Três, médica especialista em Medicina Interna, que atua no corpo clínico do Hospital São Vicente de Paulo