Casamento, Amor e Sexo - Parte 2

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O artigo dessa semana também foi baseado em apresentação na Semana Acadêmica da Psicologia da UPF (realizada de 24 a 26 de outubro).
Como já foi dito, as formas de amar, casar e as dimensões sexuais que conseguimos enfrentar , são efeitos tanto do percurso edípico de cada ser humano, como dos ideais sociais que lhe foram transmitidos, através das práticas narrativas - escritas, orais e audiovisuais - que cada época dotou de feições diferentes.
Hoje no nosso cotidiano, a conjugalidade assume diversas modalidades  (por exemplo, morar ou não na mesma casa, casais heterossexuais e homossexuais) e as realizações de prazer assumem a razão ou não para se estar juntos.  Porém, a tríade casamento-amor-sexo no decorrer da história passou por diversas prerrogativas diferentes. Por exemplo, na antiga família tradicional (séc. XII ao XVIII), o que contava era assegurar a transmissão do patrimônio, a distribuição de poder e a conservação de linhagens. A sexualidade  vinha na esteira da procriação e não do amor ou do prazer. Os cônjuges não esperavam que o casamento lhes trouxesse felicidade, assim como amor e o desejo não eram expectativas inerentes do laço conjugal.
A felicidade através do casamento começou a ser requisito entre o século 18 até meados do século 20, com a família moderna. Esta sim foi pautada pelo amor romântico e influencia até hoje nossa geração e a de nossos filhos. O que o amor romântico quer? Reciprocidade de desejos e sentimentos para sempre. Este era o imperativo absoluto que reinava e o veículo para sua realização era o casamento. Se uma pessoa não era feliz, ou tinha problemas, era porque não tinha achado a sua "cara-metade". Quase nunca a pessoa se responsabilizava e se implicava na sua felicidade ou infelicidade. Assistimos a ressonâncias deste comportamento até hoje (os amigos não são certos, o namorado não presta, o marido é um bêbado, etc.). É claro que uma expectativa irreal destas sobre o casamento estava destinada ao fracasso.
Mas além deste mito de ser feliz somente através do casamento, outros fatos históricos precipitaram a derrocada da família nuclear romântica e tornaram a passagem para os enlaces contemporâneos possíveis. São eles: duas grandes guerras mundiais, com as mulheres precisando ocupar um lugar no mercado de trabalho,  a descoberta da pílula anticoncepcional, que possibilitou o exercício do sexo desvinculado da maternidade, e o efeito do movimento feminista, que lutou com unhas e dentes para que as mulheres deixassem sua posição de submissão histórica ao homem. Na trama destes fatos,  os enlaces contemporâneos a partir dos anos 60 rapidamente ganharam força. Nestes, a realização sexual é o novo ideal, assim como todas as dimensões narcísicas do culto ao EU ganham uma dimensão inusitada. Novos casamentos são frequentes, implicando novas recomposições familiares.
Na próxima semana falaremos do que pode atrapalhar os novos laços conjugais...
O artigo dessa semana também foi baseado em apresentação na Semana Acadêmica da Psicologia da UPF (realizada de 24 a 26 de outubro).Como já foi dito, as formas de amar, casar e as dimensões sexuais que conseguimos enfrentar , são efeitos tanto do percurso edípico de cada ser humano, como dos ideais sociais que lhe foram transmitidos, através das práticas narrativas - escritas, orais e audiovisuais - que cada época dotou de feições diferentes.Hoje no nosso cotidiano, a conjugalidade assume diversas modalidades  (por exemplo, morar ou não na mesma casa, casais heterossexuais e homossexuais) e as realizações de prazer assumem a razão ou não para se estar juntos.  Porém, a tríade casamento-amor-sexo no decorrer da história passou por diversas prerrogativas diferentes. Por exemplo, na antiga família tradicional (séc. XII ao XVIII), o que contava era assegurar a transmissão do patrimônio, a distribuição de poder e a conservação de linhagens. A sexualidade  vinha na esteira da procriação e não do amor ou do prazer. Os cônjuges não esperavam que o casamento lhes trouxesse felicidade, assim como amor e o desejo não eram expectativas inerentes do laço conjugal.A felicidade através do casamento começou a ser requisito entre o século 18 até meados do século 20, com a família moderna. Esta sim foi pautada pelo amor romântico e influencia até hoje nossa geração e a de nossos filhos. O que o amor romântico quer? Reciprocidade de desejos e sentimentos para sempre. Este era o imperativo absoluto que reinava e o veículo para sua realização era o casamento. Se uma pessoa não era feliz, ou tinha problemas, era porque não tinha achado a sua "cara-metade". Quase nunca a pessoa se responsabilizava e se implicava na sua felicidade ou infelicidade. Assistimos a ressonâncias deste comportamento até hoje (os amigos não são certos, o namorado não presta, o marido é um bêbado, etc.). É claro que uma expectativa irreal destas sobre o casamento estava destinada ao fracasso.Mas além deste mito de ser feliz somente através do casamento, outros fatos históricos precipitaram a derrocada da família nuclear romântica e tornaram a passagem para os enlaces contemporâneos possíveis. São eles: duas grandes guerras mundiais, com as mulheres precisando ocupar um lugar no mercado de trabalho,  a descoberta da pílula anticoncepcional, que possibilitou o exercício do sexo desvinculado da maternidade, e o efeito do movimento feminista, que lutou com unhas e dentes para que as mulheres deixassem sua posição de submissão histórica ao homem. Na trama destes fatos,  os enlaces contemporâneos a partir dos anos 60 rapidamente ganharam força. Nestes, a realização sexual é o novo ideal, assim como todas as dimensões narcísicas do culto ao EU ganham uma dimensão inusitada. Novos casamentos são frequentes, implicando novas recomposições familiares.
Na próxima semana falaremos do que pode atrapalhar os novos laços conjugais...

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