Casamento, Amor e Sexo - Parte 4

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Rossana Stella Oliva Braghini- Psicanalista
Estamos dando continuidade à coluna de sábado passado, na qual começamos a sublinhar alguns pontos em que frequentemente nos equivocamos quando estamos com nosso par amoroso, abrindo caminho facilmente para o desgaste.
Ponto 2: Acreditar que o Laço Conjugal pode ser uma relação a dois.
Em qualquer relação acreditamos que nos relacionamos com o real daquela pessoa. Nada mais falso que isso. Eu me relaciono com a interpretação que eu faço das atitudes e comportamentos daquela pessoa. E essa interpretação é sempre mediada pela minha fantasia. Exemplo: imaginem um marido recém-casado que chega em casa às três da manhã depois de algumas cervejas com os amigos. A mulher pode pensar: “se ele realmente me amasse não precisaria sair com os amigos”. Outra poderia pensar: “hum... que bom que ele é gostado pelos amigos e se diverte com eles”. Já o marido pode ter saído no intuito de não sobrecarregar sua esposa com excesso de sua presença. Os três pensamentos - das duas possíveis esposas e do marido - estão calcados em suas respectivas fantasias. Ou seja, cada um interpreta o outro segundo elementos de sua fantasia, que inclusive não é de todo consciente. Esse pode ser um exemplo simples, mas quotidianamente temos muita certeza acerca do que na verdade sabemos pouco ou quase nada: sobre o outro... Deveríamos partir dai.
Ponto 3: Dispensarmo-nos de pensar as forças que nos subjugam desde o inconsciente, seja pelos ideais das formações sociais ou pelos avatares do Édipo, que estão amalgamados até as vísceras.
Então, uma das maneiras mais comuns que assume este "não saber", o que nos subjuga desde o inconsciente, é um conflito entre o querer e o desejo: posso, por exemplo, querer ser o homem que “fica com todas”, sem compromisso, ainda que secretamente (inclusive de mim mesmo), desejo na verdade uma vida compromissada até a medula.
Outra questão que obstaculiza viver experiências significativas seria uma idealização da geração precedente, para não pagar o preço de viver os mal estares de nossa época, se escudando atrás de um “saudosismo” irreal. Este foi um tema muito bem trabalhado no último filme de Woody Allen - Meia Noite em Paris.
Ponto 4: Usar o laço como uma desculpa para não reconhecermos nossos desejos mais recônditos, com a escusa de “proteger a relação”.
Por exemplo: Meu desejo poderia ser o de me aventurar em um mestrado em Paris. Mas me aventurar traz angústia, medo, risco... logo... atiro este desejo para "debaixo do tapete” sob o manto do “conforto da relação, e para o bem da relação".
O que está em jogo aqui é o gozo do sintoma de não querer se responsabilizar pela vida. Assim, quando nos sentirmos infelizes e completamente esvaziados, tendo muito pouco a agregar na relação que tanto "queríamos preservar", podemos melhor responsabilizar "o amor". Foi por sua causa, ou por causa do nosso amor, que eu não fiz isso e aquilo... e... aí a lista é imensa.
Aqui ainda cabe uma ressalva: reconhecer não é a mesma coisa que fazer, mas sim poder responsabilizar-se pela decisão.
Na próxima semana falaremos de um item que pode nos levar ao amor.

Por Rossana Stella Oliva Braghini- Psicanalista

Estamos dando continuidade à coluna de sábado passado, na qual começamos a sublinhar alguns pontos em que frequentemente nos equivocamos quando estamos com nosso par amoroso, abrindo caminho facilmente para o desgaste.
Ponto 2: Acreditar que o Laço Conjugal pode ser uma relação a dois.Em qualquer relação acreditamos que nos relacionamos com o real daquela pessoa. Nada mais falso que isso. Eu me relaciono com a interpretação que eu faço das atitudes e comportamentos daquela pessoa. E essa interpretação é sempre mediada pela minha fantasia. Exemplo: imaginem um marido recém-casado que chega em casa às três da manhã depois de algumas cervejas com os amigos. A mulher pode pensar: “se ele realmente me amasse não precisaria sair com os amigos”. Outra poderia pensar: “hum... que bom que ele é gostado pelos amigos e se diverte com eles”. Já o marido pode ter saído no intuito de não sobrecarregar sua esposa com excesso de sua presença. Os três pensamentos - das duas possíveis esposas e do marido - estão calcados em suas respectivas fantasias. Ou seja, cada um interpreta o outro segundo elementos de sua fantasia, que inclusive não é de todo consciente. Esse pode ser um exemplo simples, mas quotidianamente temos muita certeza acerca do que na verdade sabemos pouco ou quase nada: sobre o outro... Deveríamos partir dai.
Ponto 3: Dispensarmo-nos de pensar as forças que nos subjugam desde o inconsciente, seja pelos ideais das formações sociais ou pelos avatares do Édipo, que estão amalgamados até as vísceras.Então, uma das maneiras mais comuns que assume este "não saber", o que nos subjuga desde o inconsciente, é um conflito entre o querer e o desejo: posso, por exemplo, querer ser o homem que “fica com todas”, sem compromisso, ainda que secretamente (inclusive de mim mesmo), desejo na verdade uma vida compromissada até a medula.Outra questão que obstaculiza viver experiências significativas seria uma idealização da geração precedente, para não pagar o preço de viver os mal estares de nossa época, se escudando atrás de um “saudosismo” irreal. Este foi um tema muito bem trabalhado no último filme de Woody Allen - Meia Noite em Paris.
Ponto 4: Usar o laço como uma desculpa para não reconhecermos nossos desejos mais recônditos, com a escusa de “proteger a relação”.Por exemplo: Meu desejo poderia ser o de me aventurar em um mestrado em Paris. Mas me aventurar traz angústia, medo, risco... logo... atiro este desejo para "debaixo do tapete” sob o manto do “conforto da relação, e para o bem da relação".O que está em jogo aqui é o gozo do sintoma de não querer se responsabilizar pela vida. Assim, quando nos sentirmos infelizes e completamente esvaziados, tendo muito pouco a agregar na relação que tanto "queríamos preservar", podemos melhor responsabilizar "o amor". Foi por sua causa, ou por causa do nosso amor, que eu não fiz isso e aquilo... e... aí a lista é imensa.Aqui ainda cabe uma ressalva: reconhecer não é a mesma coisa que fazer, mas sim poder responsabilizar-se pela decisão.
Na próxima semana falaremos de um item que pode nos levar ao amor.

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