Por Rossana Stella Oliva Braghini- Psicanalista
Para encerrar este ciclo de escritos sobre o amor, um último aspecto que me chamou atenção na discussão promovida na Universidade de Passo Fundo, foi a reiterada pergunta do por que as pessoas não quererem mais se comprometer com o amor. Em outras palavras, por que as relações se transformaram em relacionamentos "descartáveis"...Já havia escrito em outro texto, o que não é novidade nenhuma, que a lógica do consumo tem imperado em todos os terrenos, inclusive na esfera do amor. Logo, como as pessoas se tratam como objeto, talvez a primeira pergunta que impere em qualquer relacionamento é: O que eu ganho nesta relação? E todos têm medo de serem os otários que vão se entregar para serem usados.Adentrando um pouco mais na psicopatologia da vida quotidiana, na esfera da perversão, ficaríamos com a pergunta: quem vai dar o golpe do baú em quem ? E, na esfera da neurose, o que eu perco com esta relação? Porque ao escolher um ou uma, eu deixo de ter todas as outras ou todos os outros. Ou ainda, ao ter que compartilhar meu mundo, deixo de ter coisas somente para mim.Por outro lado, homens e mulheres afirmam não querer ficar sozinhos, que querem viver esta experiência que é o amor. Então, o que acontece? Acho que além dos impeditivos supracitados, existe um outro aspecto que fala também da dimensão narcísica. É que para o encontro a dois acontecer, é necessário que as pessoas não mostrem somente suas excelências, mas revelem também suas faltas. Ou seja, amar também significa precisar do outro (que é diferente do sugar "vampiresco" de quem não tem vida própria e quer que o outro lhe forneça uma). Mas de qualquer forma, é poder demonstrar que algo nos falta e que o outro do amor pode preencher. E que de fato... é muito bom...Nesse sentido, de como sair da dimensão narcísica, ouvi uma frase da Camila Morgado, no programa Saia Justa, que me pareceu providencial. Ao ser perguntada sobre o que fazer numa competição que às vezes aparece no relacionamento do casal (que poderia também ser ciúmes, diferenças de valores e tantas outras coisas) ela respondeu: "eu acho que a gente tem que se fragilizar! O que quero dizer com isto... é dizer como a gente se sente”.Isto para mim - o falar - é o mais perto da perfeição (sempre imperfeita) que podemos chegar com o par amoroso, posto que não se trata de dizer o que o outro deve fazer, mas sim, comunicar nossos sentimentos e ver o efeito que isto tem para a relação. Uma ponte em direção ao outro é sempre melhor que uma parede hermeticamente fechada.