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Rossana Stella Oliva Braghini - Psicanalista
Nossa vida é em grupo. Evidentemente é uma sabedoria poder compartilhar ideias, responsabilidades e decisões. Porém existe um quantum mínimo, que não se pode compartilhar. A decisão é nossa, pessoal e inalienável. Exemplo: imaginem uma criança pequena começando a andar. É levada inicialmente pela mão do pai, da mãe e da tia. Cada um a sua vez ajuda-a para que ela não caia, para que aprenda. Mas existe um momento em que ela decide dar seus primeiros passos... só. A escolha é dela. Por sua conta e risco. Seu corpo inteiro pressente o perigo... mesmo assim ela vai... Como os imensos (adultos) conseguem fazer isso com tamanha destreza, pode ser um mistério para o pequeno (a), que tenta mais uma vez, apesar de algumas escoriações nas canelas e quem sabe um galo na testa.
O que quero enfatizar é que no momento da decisão de caminhar com suas próprias pernas, ou a criança vai ou ela não vai. Essa escolha é solitária e intransferível.
A vida não muda tanto assim depois que crescemos. Sempre existirá um quantum de nossa inteira responsabilidade. E minha experiência de consultório diz o seguinte: se tem alguma coisa que é problema certo, é quando por preguiça, medo ou comodidade - ou ainda, na ilusão que assim agradaremos melhor o Outro, que não nos punirá - nos isentamos deste quantum de responsabilidade. Enfim, esta eleição de atitude, tem pelo menos duas consequências funestas que consigo vislumbrar à primeira vista: a) Semelhante ao caminhar infantil que falávamos no início, deixamos de ter uma experiência cuja consequência é um empobrecimento ímpar de nosso patrimônio psíquico. b) Delegar ao outro que decida e se responsabilize por nós é um artifício totalmente imaginário, ilusório. Nós sempre pagamos o preço de não andar com nossas próprias pernas. E o curioso é que este preço pode ser incrivelmente mais alto do que se caíssemos alguns tombos ou déssemos algumas cabeçadas...
Porém existe uma das experiências da vida que, gostemos ou não, não nos furtaremos. É a da nossa morte e a dos que mais gostamos. E mesmo ali, existe uma última decisão a ser tomada - solitária, pessoal e intransferível: encarar a perda ou criar uma nova ilusão.

Por Rossana Stella Oliva Braghini - Psicanalista


Nossa vida é em grupo. Evidentemente é uma sabedoria poder compartilhar ideias, responsabilidades e decisões. Porém existe um quantum mínimo, que não se pode compartilhar. A decisão é nossa, pessoal e inalienável. Exemplo: imaginem uma criança pequena começando a andar. É levada inicialmente pela mão do pai, da mãe e da tia. Cada um a sua vez ajuda-a para que ela não caia, para que aprenda. Mas existe um momento em que ela decide dar seus primeiros passos... só. A escolha é dela. Por sua conta e risco. Seu corpo inteiro pressente o perigo... mesmo assim ela vai... Como os imensos (adultos) conseguem fazer isso com tamanha destreza, pode ser um mistério para o pequeno (a), que tenta mais uma vez, apesar de algumas escoriações nas canelas e quem sabe um galo na testa.O que quero enfatizar é que no momento da decisão de caminhar com suas próprias pernas, ou a criança vai ou ela não vai. Essa escolha é solitária e intransferível.A vida não muda tanto assim depois que crescemos. Sempre existirá um quantum de nossa inteira responsabilidade. E minha experiência de consultório diz o seguinte: se tem alguma coisa que é problema certo, é quando por preguiça, medo ou comodidade - ou ainda, na ilusão que assim agradaremos melhor o Outro, que não nos punirá - nos isentamos deste quantum de responsabilidade. Enfim, esta eleição de atitude, tem pelo menos duas consequências funestas que consigo vislumbrar à primeira vista: a) Semelhante ao caminhar infantil que falávamos no início, deixamos de ter uma experiência cuja consequência é um empobrecimento ímpar de nosso patrimônio psíquico. b) Delegar ao outro que decida e se responsabilize por nós é um artifício totalmente imaginário, ilusório. Nós sempre pagamos o preço de não andar com nossas próprias pernas. E o curioso é que este preço pode ser incrivelmente mais alto do que se caíssemos alguns tombos ou déssemos algumas cabeçadas...Porém existe uma das experiências da vida que, gostemos ou não, não nos furtaremos. É a da nossa morte e a dos que mais gostamos. E mesmo ali, existe uma última decisão a ser tomada - solitária, pessoal e intransferível: encarar a perda ou criar uma nova ilusão.

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