Por que tanto ódio?

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Rossana Stella oliva Braghini- Psicanalista
Elizabeth Roudinesco, psicanalista francesa, presidente da Sociedade Internacional da História da Psiquiatria e Psicanálise (SIHPP), presença ativa em publicações científicas com várias obras traduzidas em mais de 30 idiomas e professora e pesquisadora da Universidade de Paris VII, nos traz mais um livro: “Freud – Mas Por que tanto Ódio” (1)?
No curto espaço desta coluna não pretendo me ater ao que a autora respondeu tão bem em seu livro, o qual, aliás, qualquer leigo pode ler com facilidade. Porém um aspecto que Roudinesco versou me fez questão. Trata-se do ódio não somente a Freud, mas a todos os saberes constituídos, que somado à pressão mercadológica, faz com que lorotas nefastas ganhem com facilidade o estatuto de verdade, prejudicando a muitos que poderiam ser beneficiados por intervenções sérias.

Por Rossana Stella oliva Braghini- Psicanalista

Elizabeth Roudinesco, psicanalista francesa, presidente da Sociedade Internacional da História da Psiquiatria e Psicanálise (SIHPP), presença ativa em publicações científicas com várias obras traduzidas em mais de 30 idiomas e professora e pesquisadora da Universidade de Paris VII, nos traz mais um livro: “Freud – Mas Por que tanto Ódio” (1)?No curto espaço desta coluna não pretendo me ater ao que a autora respondeu tão bem em seu livro, o qual, aliás, qualquer leigo pode ler com facilidade. Porém um aspecto que Roudinesco versou me fez questão. Trata-se do ódio não somente a Freud, mas a todos os saberes constituídos, que somado à pressão mercadológica, faz com que lorotas nefastas ganhem com facilidade o estatuto de verdade, prejudicando a muitos que poderiam ser beneficiados por intervenções sérias.

E por intervenções sérias entendo aquelas vindas dos profissionais atuantes que estudam, pesquisam, reveem a si mesmos e a suas práticas ao longo dos anos, não se escusando de escutar as críticas pertinentes em suas áreas, nas quais podem reconsiderar os caminhos de sua práxis. Para estes profissionais, que conhecem além de sua história, a de sua profissão, fica fácil discriminar o "joio do trigo" e avaliar o que é transmitido pela mídia como válido ou não. Mas e os que não são da mesma área de atuação, como proceder? Como confiar no que é dito?

Em relação ao livro de Michel Onfray (2), por exemplo, com as credenciais de Roudinesco, não é difícil verificar o engodo. Primeiro, Onfray já se coloca no lugar do verdadeiro revelador da história da psicanálise! Nós já sabemos bem que a “verdadeira maionese” não existe. Existem apenas maioneses diferentes. E, quando não se trata de maioneses, mas sim de pessoas que se colocam neste lugar, de “o verdadeiro", o diagnóstico já começa a se definir... e não é bom... Par a passo com isso, M. Onfray comete erros grosseiros que já abalam a sua credibilidade de saída. É o caso, por exemplo, em que afirma que Freud engravidou sua cunhada Minna Bernays, depois a obrigando a fazer um aborto. Porém, no ano que ele afirma que isto teria ocorrido, Minna estaria com 58 anos! Não bastasse isto, Freud teria mantido relações sexuais com a filha da mesma cunhada, que como se sabe, não tinha filhos... E por aí vai ele alegremente escrevendo o seu panfleto delirante, como chamou Roudinesco, para por em descrédito a psicanálise. E ela o segue, par a passo, desfazendo seus delírios através de documentos e fatos.
Creio que a explicação do ódio aos saberes constituídos mereceria uma pesquisa caso a caso e um olhar mais acentuado de porque isto se proliferou na cultura nos últimos 20 anos. Por hora, nos basta o alerta...
1. Elizabeth Roudinesco, Freud – Mas Por que tanto ódio? , Rio de Janeiro, Zahar, 2011.
2. Michel Onfray, Le crépulscle dún idole. Lá ffabulation freudienne, Paris, Grasset, 2010.

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