A Depressão na Sociedade do Espetáculo e da Euforia

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*Rossana Stella Oliva Braghini- Psicanalista

O denominador comum

Os motivos que levam uma pessoa a ficar deprimida certamente variam de uma para outra. No entanto, existe um denominador comum entre elas: a vivência subjetiva que não estão tendo a vida que poderiam ou que mereceriam ter. E como sintoma principal, desacreditam, muito mais que acreditam, que um dia venham a ter. Perderam a esperança.

O sofrimento

O sofrimento psíquico pode ser por uma perda traumática ou por um conflito psíquico. O conflito psíquico é de quem está vivo. Ele pode ser desagradável, mas é um conselheiro importante, já que sinaliza que algo não está bem e que precisa ser revisto. Podemos sair dele mais ricos ou mais empobrecidos. E então mais pobres sairemos, na medida em que o empurrarmos para baixo do tapete, pensando que assim erradicaremos o indesejado. O que acontece é que ao não reconhecermos o conflito como tal, ele vai ganhando terreno e se transformando em sintoma que sempre termina por limitar a nossa vida. Um belo dia você acorda sem força para sair de casa, e não tem a mínima idéia de onde isso começou ou porque está assim. Seja como for, tanto trauma como um sintoma precisam ser drenados através da palavra, mesmo que uma medicação esteja indicada.

O sofrimento como erro

Houve épocas, como na Idade Média, por exemplo, que quanto mais as pessoas sofriam mais elas se sentiam perto de Deus. Fazia parte da “ideologia da época”. Ou seja, mesmo sem se darem conta, “estar mais perto de Deus” tornava o sofrimento mais bem vindo, e quem sabe até em certa medida desejado. Hoje, na pós-modernidade o “up”, a euforia contínua é que está prescrita como ideologia dominante. Eu não sei se as pessoas se dão conta o quanto se sentem erradas, até envergonhadas, quando não se encontram neste estado de espírito. Bem, em uma cultura que não é de “bom tom” estar “super-bem” sempre, fica fácil entender porque as pessoas escondem de si mesmas o mal estar. E é por causa desta tentativa de adequação, às vezes a qualquer preço e à qualquer custo, que o sintoma da depressão é gerado na sociedade do espetáculo e da euforia.

O sentido da vida e a transcendência

Se a pessoa que está deprimida não encontra mais sentido para sua vida, ou nenhuma espécie de transcendência que a gratifique, uma coisa é certa: existe algo sobre si, sobre sua posição diante da vida que está mantendo este sintoma. Neste caso, e não nas tristezas passageiras que todos nós humanos temos (mas que não deveríamos dispensar o “ouvido” amigo) seria interessante a intervenção de um profissional.

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