Por Rossana Braghini - psicanalista
A palavra sintoma costuma ser entendida como a conseqüência de uma causa que nos é prejudicial. Isto é verdadeiro. O que é falso, mas habitualmente acreditado, é que os sintomas trazem apenas sofrimento. Os sintomas se consolidam justamente por terem a justa química entre gozo e dor.
Por exemplo, João pode dizer que quer emagrecer, que odeia se ver gordo, o que seria verdadeiro. Então ser gordo, a rigor, lhe traria sofrimento. Mas o que faz com que João permaneça gordo se isto só lhe traz sofrimento?
Suponhamos que João tivesse se analisado e decifrado seu sintoma, chegando à conclusão que a persistência de sua obesidade teria os seguintes suportes:
- Não querer pagar o preço de cortar com uma alimentação que lhe é extremamente prazerosa.
- Comer é um dos únicos prazeres de João.
- João não quer se envolver com um planejamento de perder peso porque gostaria que existisse um programa que o fizesse emagrecer sem que ele tivesse nada a ver com isso.
- João também não quer perder a imagem de gordo-simpático-bonachão, “aquele que não incomoda ninguém”, o bebê querido de mamãe que ele sempre foi.
- Finalmente, ele não precisaria se preocupar com sua sexualidade, já que (em sua imaginação) ninguém acharia um gordo atraente.
Em termos de custo X benefício, parece até mais interessante continuar gordo (apesar do sofrimento) do que se haver com tantos nós a serem desatados (gozos que sustentam o sintoma). Essa tarefa dá um trabalho danado. Então, manter um sintoma parece o caminho mais fácil, o preço menor a ser pago, até porque sempre dá para brincar de avestruz. Mas só parece. É só no nosso imaginário. Na vida real, com o passar do tempo, ao enfrentarmos os sintomas que nos fazem sofrer cotidianamente, nos damos conta que , ao não encará-los, só trocamos a moeda, e em geral, pagamos um preço alto demais por isso.
No nosso caso fictício, João poderia emagrecer e ter outros prazeres, incluindo o próprio exercício da sexualidade sem medo ou culpa e ainda, de brinde, não ser o bonequinho que os outros querem...