A pergunta é comum à grande maioria dos pais e mães quando os filhos, por volta dos dois anos de idade, começam a reagir a cada “não” que recebem. Controlar a situação talvez seja uma das tarefas mais difíceis. Porém, é neste momento que os pais devem estar conscientes de seu papel de educadores e saber quais os limites que devem impor aos filhos, mas de foram saudável.
Lidar com isso não é realmente fácil, por isso o Medicina & Saúde foi conversar com o psicólogo Luiz Ronaldo de Oliveira para dar dicas aos pais e mães de como reagir neste momento.
Medicina & Saúde - É comum que as crianças, em determinada idade, tenham crises de raiva?
Luiz Ronaldo de Oliveira - Sim, a raiva é a manifestação da emoção em relação a uma situação específica do comportamento, ou seja, sempre que a criança for contrariada do seu desejo irá manifestar indignação e raiva. Os seres humanos ‘normais’ parecem ter as mesmas emoções básicas: sentimentos subjetivos agradáveis e desagradáveis, os quais motivam o comportamento. Contudo as pessoas se diferenciam quanto à frequência com que sentem uma determinada emoção, que tipo de experiências a produzem, e como agem em consequência. Constatamos que as reações emocionais como a raiva, por exemplo, aos acontecimentos e às pessoas as quais estão ligadas são elementos fundamentais da personalidade.
M&S - Em que idade isso costuma acontecer?
LRO - A idade é relativa e depende do processo de desenvolvimento do sujeito. A princípio a partir dos 2 anos a criança começa a desafiar os pais e testar a capacidade de continência, diante das investidas de negatividade, e passam a contrariar as determinações dos adultos como uma maneira de apresentar-se à realidade externa. A necessidade de autodeterminação, muitas vezes, assume a forma de resistência.
M&S - Que tipos de reações são comuns nas crianças nesse processo?
LRO - A partir dos 2 anos, bebês dóceis e confiantes transformam-se em sujeitos com vontade própria e determinada, às vezes mal humorados, choram e apresentam crises de birra dos nãos e do barulho contestador. Chorar é o modo mais poderoso pelo qual a criança pode comunicar suas necessidades. Assim, a expressão enfática das crianças do que elas querem fazer indica uma transição da dependência do bebê para independência da infância.
M&S - Como os pais devem agir?
LRO - Os pais representam para a criança a “imagem reflexo” e o comportamento vai se consolidando na medida que a criança descobre o que lhe favorece e agrada. Se os pais permitirem tudo correm o risco de não conseguirem conter o sujeito na vida adulta e se proibirem tudo também correm o risco de não constituir um sujeito saudável. Por isso o meio termo é necessário nesta etapa do desenvolvimento. Deixar a criança descobrir a realidade e contê-la nos momentos de crise seria a medida ideal para ajudá-la a crescer com saúde emocional. A criança precisa ser contida pelo afeto e não pela força, pois os filhos nos obedecem por amor e não por medo. Ser pais e mães “suficientemente bons” é um desafio constante e exige diálogo e disponibilidade.