Rossana Stella Oliva Braghini- Psicanalista
A palavra e a arte sempre foram aquilo que nos caracterizou enquanto espécie. E, embora a pintura, escultura e a dança possam muito bem expressar nosso estado de espírito e ser inclusive a melhor intervenção política em alguns casos, a palavra oral e escrita sempre foi nossa linguagem mais corriqueira, aquela pela qual a maioria de nós consegue dizer de sua dor e de sua alegria.
Mas a palavra é tinhosa, exige tempo para ser enunciada e tempo para ser escutada. Na lógica atual do “pragmatismo religioso” observamos o desdém atribuído à palavra e a tentativa de encurtamento desta, por qualquer alternativa ligada ao imediatismo. Os mini contos de uma palavra já estão aí...
Na linha das terapias, nada mais rápido que silenciar o dito. Não ter que escutar. Do eletrochoque (na época por falta de alternativa) à medicação.
Chega ser cansativo sempre ter que explicar que não sou contra a medicação, ou qualquer outra das maravilhas que a pesquisa e os avanços tem nos fornecido. É importante poder dialogar com o novo. O que não posso aceitar é a tentativa de aniquilamento do sujeito, através da não escuta de sua palavra singular, a que só aquela subjetividade pode enunciar porque só ela viveu a sua história.
Para piorar ainda mais nesse sentido, temos um ideal compartilhado circunscrito aos bens de consumo e ao corpo. Não é nenhuma novidade que as adolescentes de hoje, por exemplo, são mais estimuladas a olharem de luneta cada aparecimento da mínima gordura corporal do que escreverem em seus diários.
Fiquemos alerta, qualquer direção das políticas públicas que tente extirpar a expressão da palavra ou das artes em geral, levará ao famoso “tiro saindo pela culatra. Se as dores traumáticas não puderem ser enunciadas é bem provável que elas ressurjam como agressoras e, no extremo, talvez o suicídio seja a única saída encontrada para cortar o “mal pela raiz”.