O luto envolve o trabalho longo e doloroso de separação pela morte ou pela distância de quem amamos e perdemos. O pesar acontece quando temos um sentimento e um envolvimento afetivo pela pessoa que partiu, significa uma reação à perda, e o luto age processando esse pesar. Ou seja, só ficamos de luto se temos sentimentos de pesar por alguém.
Cada memória e expectativa ligada à pessoa perdida devem ser revividas e avaliadas à luz de que ela se foi para sempre. Esse tempo extremamente difícil de ser vivido caracteriza-se pelo retorno contínuo de nossos pensamentos àqueles que perdemos.
Percebemos ao longo da experiência em atendimentos a pessoas enlutadas que há necessidade em evitar o sofrimento como uma revolta contra o luto. Evita-se muitas vezes entrar em contato com os pertences da pessoa que partiu ou em se desfazer deles, ou até mesmo uma tentativa de conservar seu lugar mais íntimo, intacto com o significado de permanecer vivo aquele que morreu na sua forma mais concreta, como se as lembranças não fossem suficientes para amenizar a dor. Há uma negação da morte: em algum momento ela não existe e que a pessoa que partiu voltará e encontrará seu quarto, seu escritório, suas roupas, sua vida como ela a deixou.
No trabalho de luto com meus clientes, acho importante que o enlutado guarde alguns pertences do ente querido, como fotos, algumas roupas que mais gostava de vestir ou alguns objetos que faziam parte de seu dia a dia, como lembranças da pessoa amada perpetuada em sua memória. O difícil é conseguir se desfazer de tudo o que pertencia ao falecido e isso acaba por dificultar o processo de luto. É necessário seguir a vida agora de outra forma; essa forma envolve um movimento de “rearrumar” e reordenar o vazio que ficou sem a presença da pessoa que partiu, seja ela pela morte ou separação, e não só rearrumar e reordenar as “roupas no guarda-roupa”.
De acordo com Franco, M. Helena, doutora em psicologia pela PUC/SP, e especialista em luto, o enlutado integra essa nova realidade de se mover ao longo da vida sem a presença física da pessoa que morreu. Ou seja, além da compreensão intelectual precisa existir uma compreensão espiritual. Em outras palavras, além de entender na mente, vai entender simbolicamente no coração: a pessoa amada morreu.
O sentimento de perda não desaparece completamente, ele é atenuado e as crises de pesar que antes eram mais intensas, tornam-se menos frequentes e mais suaves. À medida que o enlutado começa a fazer novos envolvimentos, emerge a esperança de continuar a viver. É possível perceber que embora a pessoa que morreu jamais virá a ser esquecida, a vida pode e deve ser continuar a ser vivida.
Magali Leite Dall’Olgio é psicóloga especialista em luto