Por Luiz Ronaldo F. de Oliveira.
A literatura apresenta inúmeros casos significativos tratando a questão do ciúme. Um dos mais conhecidos é o drama Otelo (O Mouro de Veneza), de William Shakespeare. Em sua obra, o autor intitula o ciúme como o monstro dos olhos verdes. Nessa história, o protagonista, Otelo, envenenado de ciúme pelo astucioso Iago, deixa-se levar por um ciúme doentio, que envolve o seu melhor amigo e a sua esposa, e acaba matando a honesta, terna e doce Desdêmona. A partir deste relato percebemos que, no âmbito do ciúme, não é necessário provas para se acusar os parceiros e, tampouco, concluir a partir de fatos que validem as atitudes ciumentas.
Segundo Cervantes (1547), os ciumentos sempre olham para tudo com óculos de aumento, os quais engrandecem as coisas pequenas, agigantam os anões, e fazem com que as suspeitas pareçam verdades. As pessoas, ciumentas excessivas, podem se pautar parcialmente na realidade e colecionar fatos que lhes conduzam a uma decisão baseada na forma distorcida como enxergam a realidade.
O conceito de ciúme mórbido ou patológico compreende várias emoções e pensamentos irracionais e perturbadores, além de comportamentos inaceitáveis ou bizarros. Envolveria muito medo de perder o parceiro para um rival, desconfianças exageradas e infundadas, gerando significativo prejuízo no funcionamento pessoal e interpessoal. Esses casos estão cada vez mais acorrendo à clínica, onde casais buscam suporte para sua dinâmica conturbada por esse fenômeno.
O ciúme geralmente surge quando um relacionamento valorizado é ameaçado devido à interferência de um rival e pode envolver sentimentos como medo, suspense, desconfiança, angústia, ansiedade, raiva, rejeição, indignação, constrangimento e solidão, dentre outros. Dependendo de cada pessoa o ciúme surge das relações amorosas devido a fatores tais como comparação, competição e medo da substituição pelos rivais. Assim, o ciúme pode ser considerado fundamentalmente egoísta à medida que leva o seu possuidor a agir, visando com isso impedir os direitos da pessoa a ela vinculada. O ciumento, muitas vezes, pode ser percebido como uma pessoa que tem baixa autoestima e não consegue dar valor a si mesmo. E é justamente por isso que a traição e o abandono tornam possíveis.
São muitas as definições de ciúme, mas todas têm em comum três elementos: 1. é uma reação frente a uma ameaça percebida; 2. existe um rival real ou imaginário; e 3. a reação visa eliminar os riscos da perda da pessoa amada. Assim, o ciumento duvida de si mesmo, como atribui ao outro uma série de desconfianças. O que aparece no ciúme patológico é um grande desejo de controle total sobre os sentimentos e comportamentos do companheiro, semelhante ao bebê que vivencia o narcisismo primário descrito por Freud.
Portanto, o ciúme representa uma manifestação de amor, ele também pode ser considerado, por outro lado, para outras pessoas, como um sentimento que produz angústia, pode atingir formas doentias e abalar a saúde física e mental dos envolvidos direta ou indiretamente com ele. Também pode ser percebido como algo inevitável, porque em um maior ou menor grau, todas as pessoas estão sujeitas ao ciúme. Há que se ressaltar também a existência de uma pluralidade de entendimentos, pelas diferentes culturas, no que se refere ao ciúme. Assim, orienta-se que quando percebido o excesso de ciúme e o controle exagerado sobre o companheiro procure ajuda de um profissional da área da psicologia.
Luiz Ronaldo F. de Oliveira é psicólogo, professor e coordenador do curso de Psicologia da Imed