Por Rossana Stella Oliva Braghini- Psicanalista
Escrevo esse artigo na noite de sábado, 10 de junho, quando o Fantástico promete revelar com exclusividade “a história de uma mulher que parece ter saído dos livros de romances policiais. Uma mulher mata o marido com um tiro na cabeça enquanto a filha de um ano dorme. A cena do crime é sua cobertura de 500 metros quadrados. Depois de 10 horas, esquarteja o corpo do marido e livra-se dele”.
Com esta chamada, que não é só do Fantástico mas das principais matérias que a imprensa veiculou, acredito que o caso ganha holofotes, em última análise, pelos mesmos elementos de sempre: - Como assim, uma pessoa como a maioria de nós, que mora bem, é bem casada, com uma filhinha de um ano, tem um “assassino-esquartejador” dentro de si? Algo vem na direção do alívio... - Ah.. .mas ela já havia sido garota de programa. O “pré-conceito” permite então, uma explicação, mesmo que totalmente imaginária, já nem toda a garota de programa é uma assassina em potencial, que permite distanciar o assassino-esquartejador de nós mesmos e de nosso entorno. Controlar as variáveis do fenômeno, já que a pergunta subjacente aquela primeira, é esta: - Posso eu, ou um próximo meu (cônjuge, filho, nora) ter um monstro destes insuspeitado que sob determinadas condições é capaz de advir?
Sim, pode. O que faz a diferença é o quanto temos estabelecido dentro de nós o interdito fundamental: o não podes tudo, que em psicanálise chamamos de castração metafórica, que inclui o não matarás.
Vejam que todos nós, eventualmente, temos vontade de matar alguém, mas a maioria de nós, não se permite chegar a vias de fato, enquanto outros sim. Alguns nem sequer conseguem se pensar como tendo tido, alguma vez na vida, tal vontade. Trata-se de como foi estabelecido este interdito de não podes tudo para cada um. Os que não têm bem estabelecido, por diversas variáveis que não posso retomar no âmbito deste artigo, por ser extenso e complexo, em cada “injunção” de acontecimentos que pode colocar o risco para aquela pessoa, (no seu imaginário ), sua identidade, sua imagem, ela pode optar por responder assim.
Na próxima semana comentarei sobre Elize Matsunaga, sobre a qual sabemos pouco, principalmente sobre as razões que a fizeram matar.