A meta nacional é de atingir 15 doadores de órgão Por Milhão de Pessoas (PMP), em 2015. Atualmente, este índice é de 11,1. No Brasil, a doação de órgãos é autorizada pela família do doador, sem a necessidade de um documento assinado pela pessoa que venha a falecer. Atualmente, o país registra uma taxa de 11,1 doadores por milhão de pessoas – são cerca de duas mil doações por ano, mais que o dobro da quantidade registrada em 2003 (quando foram contabilizados 893 doadores efetivos).
O Brasil é referência internacional na realização de transplante por realizar o maior número de procedimentos por meio de uma rede pública de saúde – aproximadamente 95% das cirurgias são feitas pelo Sistema Único de Saúde de forma totalmente gratuita. O SUS oferece assistência integral ao paciente transplantado, incluindo exames periódicos, medicamentos pós-cirurgia, atendimento hospitalar em caso de emergência e apoio de profissionais como psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta e assistente social.
Tanto na quantidade de doadores quanto no número de transplantes realizados, o Brasil apresenta avanços neste setor. A quantidade de doações efetivas de órgãos passou de 1.896, em 2010, para 2.144, em 2011. Quando comparado o primeiro semestre de 2010 com o mesmo período do ano seguinte, o número de transplantes realizados também apresenta alta: passou de 10.150 para 11.242 procedimentos, um aumento de 10%.
O país mantém crescimento sustentado não só na quantidade de doações de órgãos e cirurgias realizadas como também no volume de recursos aplicados no setor. O investimento anual do Ministério da Saúde no SNT, em 2010, ultrapassou R$ 1 bilhão. Este valor é quase quatro vezes maior que os recursos investidos há sete anos (R$ 327 milhões).
Incentivo
O Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) é um dos 548 estabelecimentos brasileiros autorizados a realizar transplantes de órgãos e tecidos. Na instituição são realizados transplantes de córnea, rim, fígado e tecido ósseo. Para conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos há o trabalho permanente de duas comissões. A Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), que é responsável por encaminhar o paciente doador e auxiliar a família com relação ao procedimento. A CIHDOTT é formada por uma equipe especializada em transplantes, onde médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e estagiários participam do processo de acompanhamento. Além desta, o hospital conta também com a Organização de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO4), órgão da Central de Transplantes do Estado que atua em parte das regiões Norte e das Missões do Rio Grande do Sul.
Lançada no ano passado, a campanha permanente de doação de órgãos e tecidos do HSVP, Doe órgãos – Uma Corrente pela Vida, é uma das ferramentas que fortalece as ações realizadas pelos profissionais. “Nosso trabalho é constante e incansável. Através da capacitação de coordenadores intra-hospitalares de transplante, palestras, treinamentos, entrevistas nos meios de comunicação e organização de seminários, buscamos desmistificar algumas visões que existem em torno da doação de órgãos”, ressaltou a assistente social da CIHDOTT, Mara Mendes.
Desde 2005, o HSVP tem em funcionamento o Banco de Tecido Musculoesquelético (BTME) e neste ano, o Banco de Tecido Ocular Humano (BTOH) começou a sua operacionalização, que além de armazenamento e processamento, auxiliam na captação desses tecidos. “De janeiro a abril deste ano foram doadas 12 córneas, oito rins, quatro fígados e 14 doações de tecido ósseo. Estamos empenhados para que aumente o número de doações, beneficiando os pacientes que aguardam na lista de espera por um transplante. Com o início das atividades do BTOH teremos a possibilidade de receber as doações de córneas da área de abrangência da OPO4, ampliando o número de transplantados”, completou Mara.
Transplante intervivos
Uma prática que se tornou comum entre as pessoas com familiares que necessitam de um transplante é o método intervivos. Neste ano no HSVP aconteceram dois transplantes intervivos. Um deles foi o dos irmãos Fabiano da Rosa de 23 anos (doador) e Flávio José da Rosa de 40 anos (receptor). “Depois dos problemas renais, onde realizei por um bom tempo Diálise Peritoneal, entrei para a lista de espera por um transplante. Nela, foram 12 meses aguardando! Então meu irmão, vendo que ainda levaria um tempo indeterminado para eu conseguir o transplante, se prontificou a doar um de seus rins. A compatibilidade foi excelente e no dia 14 deste mês, ocorreu o que eu estava esperando. O transplante foi um sucesso e já estou me sentindo muito bem. Foi um gesto que não há explicação, serei eternamente grato ao meu irmão”, contou Flávio.
Segundo dados do Ministério da Saúde, após entrar para a lista de espera por um transplante, o paciente pode levar até seis anos para conseguir um doador. “Devido a esta demora, o transplante intervivos se tornou mais comum. Ele é feito há muito tempo, desde a década de 50, quando foi realizado em Boston (EUA) e na França. A doação intervivos é permitida por lei entre parentes até o quarto grau e cônjuges; entre não parentes somente com autorização judicial”, ressaltou o médico nefrologista que realizou os últimos dois transplantes intervivos no HSVP, Dr. Alaour Duarte.