Rossana Stella Oliva Braghini- Psicanalista
Estou dando continuidade ao artigo da semana passada, O Monstro-Esquartejador. Escrevo dia 11/06, um dia depois que o Fantástico veiculou a matéria com chamada que prometia revelar com exclusividade “a história de uma mulher que mata o marido com um tiro na cabeça enquanto a filha de um ano dorme. A cena do crime é sua cobertura de 500 metros quadrados. Depois de 10 horas, esquarteja o corpo do marido e livra-se dele.”
Comentei na coluna anterior como estes significantes, filha pequena, morar em uma cobertura de 500 metros quadrados, ser casada, nos põe de “cabelo em pé”, no contraponto com esquartejar o marido. Justamente, porque estamos acostumados a ter estes significantes como garantia, ou seja, seguro contra todos os riscos e que como vimos... não é o caso.
Hoje, quero comentar a fala de dois profissionais da saúde mental, psiquiatras, com opiniões divergentes, que deram seus pareceres enquanto o programa estava em andamento. A pergunta levantada pelo Fantástico era: - Loucura completa de um assassino em série ou um ato extremo de alguém que tinha vida normal e que pode até nunca mais matar?
A primeira psiquiatra diz: o esquartejador é o criminoso mais perverso, de uma maneira quase como um animal selvagem que pega sua presa e dilacera. Esta é uma coisa que se vê nas personalidades psicopáticas mais graves.
Segundo psiquiatra diz: por mais agressivo que seja, não estou minimizando o que ela fez, mas por conta deste ato, não é possível afirmar com certeza que ela vai voltar a matar.
A psicanálise se alinha mais com esta segunda opinião. Por que? Porque dizer que baseado em uma evidência, por pior que ela seja, no caso a evidência é esquartejar, não fala nada de quem é Elize e de sua possibilidade de reincidir ou não. Seria mesma coisa que dizer que todos que têm febre de 40 graus têm o pior tipo de infecção viral. Não! Quem tem uma febre de 40 graus é porque seu corpo sinaliza que algo não está bem, temos que descobrir o que, para intervirmos. Dão-se conta do absurdo de tomar a parte pelo todo? A psicanálise não desresponsabiliza Elize por seu ato. Porém, até o momento, não sabemos nada sobre ela, e provavelmente nunca saberemos, já que estas falas já vêm contaminadas pela interpretação da mídia, condução de advogados etc. Aliás, como diz o advogado da família Montesunaga,- o que aconteceu fica entre ela e Deus. E eu acrescentaria, o que vinha acontecendo entre o casal, quais as consequências que Elize temia, imaginárias ou não, como isso tomou a dimensão de uma luta de morte, sem possibilidade de outra mediação simbólica e a fez optar por “eliminar seu agressor”, só ela sabe, só a ela concerne, porque este caso é o caso de Elize Montesunaga e não de Maria Pires ou Joana Dávilla.