Por Cássio Andreoni
Vital para o ser humano, o rim ganhou uma data no calendário para ser lembrado. Dez de março é o Dia do Rim. E, apesar de ser assunto pouco lembrado pelas pessoas, a pedra no rim é um problema de saúde que afeta mais de 20% da população. Os sintomas envolvem episódios de dor aguda, verificada quando uma pedra sai do rim e entra no ureter, causando obstrução do fluxo normal de urina e, consequentemente, acarretando inchaço e dilatação do órgão.
Quando a pedra é pequena, o indicado é o uso de remédios que dilatam o ureter e ajudam a eliminá-la espontaneamente. Quando a pedra tem mais que 5 mm ou não pode ser eliminada em até duas ou três semanas, indica-se o tratamento cirúrgico, que pode ser feito por bombardeamento externo (litotripsia extracorpórea-LECO) ou por endoscopia (ureteroscopia). Nesse caso, entrando até a bexiga e, depois, até a pedra, que é fragmentada por meio de laser. Os equipamentos usados nesse tipo de cirurgia evoluíram muito em termos de tecnologia, com introdução de fibra óptica, miniaturização, maior eficiência do laser e instrumentos para remover os fragmentos.
Para as cirurgias de pedras nas vias urinárias, praticamente não se utiliza o procedimento convencional. Nos EUA, entre 1990 e 1998, houve uma redução de 15% nas indicações de LECO e um aumento de 53% nas indicações de endoscopia. Isso ocorreu pela maior eficiência e rapidez na resolução do problema nos casos de cirurgia endoscópica em comparação com a LECO. Essa tendência tende a aumentar, uma vez que o uso das máquinas de LECO tem diminuído em razão do alto custo de sua manutenção e da menor eficiência do tratamento que proporcionam.
Nos casos de câncer do rim, a cirurgia é, quase sempre, indicada em virtude de não existir um tratamento eficaz, como a quimioterapia ou radioterapia. Atualmente, o diagnóstico ocorre em cerca de 60% dos exames de rotina, pois apenas em casos muito avançados a doença causa sintomas, como dor ou sangue na urina.
Após o diagnóstico, pode-se optar entre a cirurgia em que se remove o rim completamente (nefrectomia radical) e aquela em que se retira apenas o tumor, preservando-se parte do rim (nefrectomia parcial). Esta última é mais trabalhosa para o cirurgião e, infelizmente, pouco indicada ainda em nosso meio, já que só passou a ser difundida nas décadas de 80 e 90 e os principais resultados só começaram a aparecer no início deste século.
Vale destacar que as chances de cura são idênticas, independentemente da remoção total ou parcial do rim. No entanto, quando se preserva o órgão, diminui-se de 43% para 7% o risco de perda de função renal significativa a longo prazo.
A cirurgia parcial normalmente é indicada para casos de tumores de menos de 4 cm, em qualquer caso em que a função renal já esteja prejudicada ou quando o paciente tem apenas um rim. Em 1990, introduziu-se uma nova técnica, a laparoscopia. Com ela, pode-se retirar todo o rim ou apenas parte dele apenas com incisões de 0,5 cm a 1 cm, o que diminui muito a dor aguda e crônica, o sangramento e o tempo de internação, melhorando bastante os processos de recuperação.
Ao analisarmos um estudo realizado na Escola Paulista de Medicina de 2000 a 2010, percebemos que a cirurgia renal nos casos de câncer mudou bastante. Sobretudo no que se refere ao tamanho do tumor que, em 2000, era 7,5 cm e, em 2010, 4,2 cm. Essa evolução aumentou a chance de preservar o rim, o que deixa clara a importância de usar técnicas menos invasivas, como a laparoscopia.
A partir de 2002, a Escola Paulista de Medicina desenvolveu uma técnica de diminuição renal intracorpórea com solução salina hipertônica a 5%, permitindo reduzir o tamanho do rim em 25% e o tamanho da incisão em 45%. O procedimento ganhou o prêmio de melhor trabalho exposto no Congresso Mundial - World Congress on Endourology, realizado em Gênova, na Itália, em 2002. Atualmente, foi aprovado e apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) o desenvolvimento dessa técnica para possibilitar a retirada total do rim pelo umbigo, sem outras incisões, o que pode tornar a cirurgia renal ainda menos invasiva.
Tivemos, nos últimos dez anos, grandes avanços no que diz respeito às técnicas de cirurgias nos tratamentos para pedras e câncer no rim. E, quanto mais elas forem pulverizadas em todos os sistemas de saúde do país, mais a população ganhará em qualidade de vida.
Cássio Andreoni é cirurgião renal