Cuidado com a fome noturna

Fome excessiva à noite pode indicar transtorno alimentar

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Especialistas da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) alertam que episódios frequentes de excessiva fome noturna podem ser sintoma de um transtorno alimentar conhecido como Síndrome Alimentar Noturna (SAN).

Atualmente, a síndrome afeta cerca de 3 milhões de brasileiros e caracteriza-se por maior ingestão calórica no período noturno, sobretudo após as 19h, falta de apetite durante as manhãs, além de despertares durante a noite para comer. Os profissionais da Abeso alertam que o problema afeta a qualidade do sono e é um fator de pré-disposição a diabetes e obesidade.

A alimentação predominantemente noturna cria um descompasso no metabolismo, tornando-o mais lento durante o dia e levando o organismo a estocar os nutrientes nos períodos de maior consumo e menor gasto energético, o período noturno. Ainda segundo dados da Abeso, a estimativa de incidência da SAN é de até 14% nos obesos e 42% nos obesos mórbidos.

Nair Luft, coordenadora do curso de Nutrição da Universidade de Passo Fundo (UPF) explica o que é esta síndrome e como identificá-la. Confira.

Medicina & Saúde – O que é Síndrome Alimentar Noturna?
Nair Luft – A síndrome é conceituada como um atraso no ritmo circadiano do padrão alimentar, ocasionado pela mudança social e comportamental. A síndrome alimentar noturna é um transtorno caracterizado por maior ingestão calórica de alimentos no período noturno, principalmente após as 19 horas, despertares durante a noite para comer e falta de apetite durante as manhãs. Estudos relatam que as pessoas que apresentam esta síndrome, geralmente consomem mais da metade da ingestão calórica diária entre as 22 e 6 horas, sendo que acordam várias vezes à noite para ingerir alimentos

M&S – A síndrome pode ser considerada um distúrbio ou apenas um hábito?
NL – Foram constatados distúrbios neuroendócrinos em pessoas com síndrome alimentar noturna, sendo que estes possuíam níveis mais altos de cortisol plasmático durante o dia e níveis mais baixos de melatonina a partir da metade da tarde até a metade da noite, além de baixos níveis de leptina. Os níveis plasmáticos de cortisol mais altos indicam que a síndrome seja um tipo de transtorno de estresse. Os baixos níveis de melatonina podem contribuir para manter a sua insônia e humor deprimido. A leptina que atua como supressora do apetite, e estando com os níveis diminuídos nestas pessoas, pode contribuir para a menor inibição contra impulsos de fome noturna que interrompem o sono. Uma das funções da melatonina é que ela amplia o efeito supressor do apetite da leptina, para continuidade do sono, evitando a insônia e a fome durante a noite toda. A melatonina melhora o efeito da leptina e a leptina mantém seu cérebro no estado de “alimentado” e assim você continua a dormir e produz mais melatonina. Acordar muito durante a noite implica em menos sono - menos melatonina e menos leptina – e faz com que você coma mais, aumentando seu apetite por alimentos calóricos (carboidratos simples – açúcar), aumentando seu peso.

M&S - Pode causar danos à saúde?
NL – A Síndrome Alimentar Noturna afeta a qualidade do sono, e é um fator que pode contribuir com o desenvolvimento da obesidade e diabetes.

M&S – A mudança de hábitos alimentares pode contribuir para evitar o problema?
NL – A mudança no estilo de vida, que envolve hábitos alimentares saudáveis e a prática da atividade física, são importantes. Para obter êxito no tratamento desta síndrome é importante que a pessoa esteja ciente de que tem um problema e busque auxílio de uma equipe que envolve profissionais da área da saúde como: psiquiatra, endocrinologista, nutricionista, psicólogo e educador físico, para estabelecer estratégias, junto com a equipe, para melhorar o estilo de vida, regular a alimentação e voltar a ter uma boa qualidade de vida.

M&S – Somente adultos estão suscetíveis ou pode acometer crianças?
NL – Normalmente a síndrome se manifesta em homens e mulheres com idade entre 20 e 30 anos. Porém, é mais observada em mulheres, considerando que elas buscam mais orientações que os homens. Também pode aparecer na infância ou na adolescência.

Dicas para evitar a síndrome da fome noturna

- Programar sua alimentação de forma adequada e não ficar mais de três horas sem se alimentar durante o dia.

- Fazer exercícios físicos regularmente. Essa é uma boa forma para relaxar, livrar-se do estresse e controlar o impulso por comer.

- Evitar alimentos muito calóricos em sua geladeira.

- Durante as refeições concentrar-se na alimentação, evitar situações que possam tirar sua atenção, como assistir televisão. Isso faz com que você nem perceba o quanto está comendo.

Colaborou
Nair Luft, graduada em graduação em Nutrição pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (1990), especialização em Nutrição Clínica pela Unisinos e mestrado em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa. Coordenadora do Curso de Nutrição. Participa do grupo Estudos e Pesquisas em Nutrição da Universidade de Passo Fundo

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