Acordar depois de uma noite de sono pode ser sinônimo de um dia produtivo e cheio de energia. Isso, se você não for portador da síndrome do cansaço. Considera-se portadora da síndrome toda pessoa com fadiga persistente, inexplicável por outras causas, sendo que um dos principais sintomas é sempre acordar cansado.
Além da questão clínica, uma vez que a síndrome pode ser sintoma de outro problema de saúde, o uso de terapias pode colaborar para a cura. Entretanto, é preciso sempre uma abordagem profissional para que se possa ir descartando primeiramente algumas doenças para então determinar o melhor tratamento. Na área da psicologia, a síndrome já conta com uma abordagem que pode auxiliar na redução dos sintomas do cansaço extremo.
Luiz Ronaldo de Oliveira, psicólogo, considera a psicoterapia individual importante nesse processo. Confira a entrevista.
Medicina & Saúde – O que é esta síndrome?
Luiz Ronaldo Oliveira – A síndrome do cansaço, ou também conhecida como fadiga crônica, é apontada pela literatura como uma das cinco causas mais frequentes nos casos clínicos gerais. Os sintomas caracterizam-se por cansaço exagerado e dificuldade de repor as energias após o sono e atividades relaxantes. O cansaço físico alia-se ao prejuízo mental tornando atividades simples em obstáculos insuperáveis perante a sensação de desconforto e desvalia.
M&S – Qualquer pessoa pode ser acometida?
LRO – As pessoas mais suscetíveis a esta síndrome são sujeitos com excesso de atividades que produz estresse, idosos ou que apresentam outras enfermidades aliadas a perda de energia e baixa imunidade. Geralmente, as pessoas cansadas passam a realizar tarefas comuns num nível menor de eficiência e relatam sentirem-se fracos, com dores musculares, memória prejudicada, lentidão e confusão no pensamento, dificuldade de concentração, insônia e diminuição ou aumento do apetite.
M&S – Quais são as possíveis causas?
LRO – As causas são multifatoriais, porém sabemos pela literatura que há uma estreita relação entre o corpo e a mente no processo de constituição das doenças. Atualmente estuda-se a influência do pensamento, das emoções e da expressão afetiva na superação das dificuldades emocionais em vista da qualidade de vida. Constatamos que as pessoas que se queixam de cansaço estão pedindo socorro porque correm o risco de cansar da vida e das circunstâncias que envolvem o ato de viver. É comum, a síndrome do cansaço após perdas significativas que causam depressão, desvalia e falta de motivação para realizar tarefas diárias, por isso o sintoma cansaço é um alerta que se constitui numa estratégia de sobrevivência e na possibilidade de evitar danos maiores como o próprio suicídio.
M&S – Existe tratamento do ponto de vista psicológico?
LRO – Do ponto de vista psicológico sugere-se avaliar cada caso para descartar as possíveis causas orgânicas. Posteriormente a uma bateria de exames e avaliações clínicas podemos trabalhar a síndrome do cansaço com psicoterapia individual ou de grupo. Na psicoterapia torna-se necessária retomar os aspectos saudáveis do sujeito, levando em consideração o desejo que produz prazer em ser e fazer, para gradualmente integrar pensamento, emoções e afeto. O ser humano saudável consiste na integralidade e na superação, por isso utilizamos técnicas de integração do indivíduo no contexto coletivo equilibrando trabalho e lazer como superação do estresse, sugerindo leveza e sentido para a vida como ela é. A psicologia é uma ciência preventiva, por isso trabalhamos com exercícios e técnicas para evitar o cansaço existencial e a recuperação do verdadeiro sentido da vida que consiste em estar vivo.
Colaborou
Luiz Ronaldo de Oliveira, psicólogo e coordenador do curso de psicologia da Imed
O que a síndrome pode indicar
Em casos clínicos, a síndrome do cansaço pode estar indicando outros problemas de saúde. Os mais comuns podem ser:
* doenças cardiovasculares;
* doenças auto-imunes (lúpus, polimiosite, entre outras);
* doenças pulmonares;
* doenças endócrinas (hipotireoidismo, diabetes);
* doenças musculares e neurológicas;
* apnéia do sono e narcolepsia;
* abuso de álcool e outras drogas;
* obesidade;
* depressão e outros distúrbios psiquiátricos;
* infecções; e
* tumores malignos.
Sintomas relacionados
Além da fadiga, a síndrome normalmente vem associada de outros sintomas. Alguns médicos consideram que é frequente pelo menos quatro dos sintomas abaixo descritos para se caracterizar a síndrome do cansaço:
* dor de garganta;
* gânglios inflamados e dolorosos;
* dores musculares;
* dor em múltiplas articulações, sem sinais inflamatórios (vermelhidão e inchaço);
* cefaléia com características diferentes das anteriores;
* comprometimento substancial da memória recente ou da concentração;
* sono que não repousa; e
* fraqueza intensa que persiste por mais de 24 horas depois da atividade física.