A alteração do número de células no hemograma de rotina pode ser o início do diagnóstico da mielofibrose, um tipo raro de câncer do sangue provocado pelo mau funcionamento da medula óssea. Aumento do baço, fadiga e falta de ar também são sintomas comuns dessa doença perigosa que, em alguns pacientes, pode levar a complicações mais graves, como a leucemia, um tipo de câncer agressivo e com alta taxa de mortalidade.
As causas da mielofibrose são desconhecidas e apesar de manifestar-se em qualquer idade é tipicamente diagnosticada entre os 50 e 80 anos. “O diagnóstico precoce é um dos fatores críticos na sobrevida dos pacientes de mielofibrose”, explica o médico Cármino Antonio de Souza, onco-hematologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Diferentes estudos demonstram que 10 anos após o diagnóstico da mielofibrose quase 20% dos pacientes desenvolvem uma leucemia mieloide aguda, forma agressiva da doença que é praticamente intratável, e tem uma sobrevida média estimada de menos de 2,6 meses.
Segundo especialistas, existe um sub-registro da incidência da mielofibrose nas estatísticas da América Latina, incluindo o Brasil. “O atraso no diagnóstico e no encaminhamento dos pacientes aos centros de referência está relacionado ao desconhecimento sobre a doença”, complementa. Além da alteração na contagem das células no hemograma e baço aumentado, outras manifestações, como perda de peso, febre e transpiração noturna intensa, podem ajudar a identificar a doença. Entretanto, é importante que tanto os pacientes quanto seus médicos considerem os 10 sintomas abaixo como um alerta para o diagnóstico da mielofibrose:
1. Aumento do tamanho do baço e do fígado: para compensar a produção irregular de células sanguíneas na medula óssea, o baço e o fígado aumentam a produção de glóbulos e, com isso, aumentam seu tamanho. O baço dos pacientes com mielofibrose pode, em alguns casos, pesar até 10kg e alcançar 36 centímetros de comprimento, enquanto um baço normal pesa cerca de 150 gramas e tem aproximadamente 11 centímetros de comprimento.
2. Fadiga e falta de ar: estes sintomas estão relacionados com a anemia ocasionada pela doença, que provoca desânimo e falta de energia. Isso afeta claramente a qualidade de vida dos pacientes, fazendo com que se sintam cronicamente doentes, com limitações para exercer suas atividades diárias. A falta de ar pode ser agravada com o aumento do baço, dificultando o movimento respiratório.
3. Transpiração noturna: a produção irregular de glóbulos vermelhos induz a uma aceleração anormal do metabolismo, o que também aumenta a temperatura corporal.
4. Perda de peso: o aumento do tamanho do baço gera distensão abdominal e dificuldade para ingerir alimentos. Além disso, a produção irregular de células sanguíneas gera um aumento anormal do metabolismo que, somado à transpiração abundante, também leva à perda de peso.
5. Febre: as anormalidades na medula óssea comprometem a produção de glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do organismo, o que, por sua vez, causa a suscetibilidade a infecções e febre. Do mesmo modo, a aceleração anormal do metabolismo provoca um aumento da temperatura corporal.
6. Palidez: este sintoma está associado aos níveis de anemia típicos da mielofibrose.
7. Contusões e propensão a hemorragias: as irregularidades nos níveis de plaquetas geram um aumento de hematomas e sangramentos que parecem não ter explicação.
8. Dor ou mal estar no abdome e no ombro esquerdo: em muitos casos, o crescimento anormal do baço dos pacientes com mielofibrose provoca compressão e mal estar na parte superior esquerda do abdome ou dor na parte superior esquerda do ombro.
9. Comichão ou prurido (coceira): a produção irregular de células do sangue e de substâncias pró-inflamatórias leva a uma alta viscosidade do sangue. Esse líquido vital tende a se concentrar em algumas áreas, produzindo irritação da pele e prurido – especialmente depois de um banho ou ducha quente.
10. Dor nos ossos, especialmente nas pernas: as severas dores nos ossos podem ser prenuncio de um prognóstico complicado.
