Apresentados ao mundo em 2010, os tablets viraram uma das principais tendências da tecnologia pessoal. O computador em forma de prancheta eletrônica, com tela sensível ao toque é utilizado em sua essência para navegar na web, assistir vídeos e ler notícias. Mas é no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, que o tablet tem uma função especial, de possibilitar a comunicação de pacientes impedidos clinicamente de falar. O projeto é desenvolvido pela enfermeira mestranda do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo (UPF), Graciela de Brum Palmeiras. A orientação é do professor Dr. Adriano Pasqualotti e a co-orientação do professor Dr. Luiz Antônio Betinelli.
O estudo iniciou em março de 2011, quando a mestranda identificou a necessidade de auxiliar a comunicação de pacientes traqueostomizados - procedimento cirúrgico no pescoço que estabelece um orifício artificial na traquéia, abaixo da laringe - e internados em Unidades de Terapia Intensiva. Mais de um ano foi necessário para levantar as reais necessidades dos pacientes e desenvolver um programa para o tablet, que facilitasse a comunicação com a equipe médica e com os familiares. Em maio deste ano a Metasig, empresa que desenvolveu o programa, finalizou os detalhes do aplicativo e oportunizou que a pesquisa fosse colocada em prática.
Para ter um bom aproveitamento e dar ênfase à pesquisa, a mestranda estabeleceu parceria com a equipe do Centro de Tratamento Intensivo, CTI Central do HSVP. “Sempre que a equipe identifica um paciente traqueostomizado que quer comunicar alguma coisa, mas não consegue, eles me avisam e eu inicio a tentativa de comunicação. A parceria está rendendo e a comunicação dos familiares e da equipe médica com alguns pacientes já está dando resultados. A novidade é que nesse curto período, construí uma verdadeira amizade”, evidenciou.
Superação
O que a mestranda Graciela de Brum Palmeiras não esperava, é que uma forte amizade fosse construída durante seu estudo. Após agravamentos de uma meningite, a professora de educação física de Novo Barreiro, Léia Terezinha Blau, de 24 anos veio transferida de outro hospital e permaneceu por 80 dias no CTI Central do HSVP. Antes de internar, Léia já estava com dificuldades na audição e em decorrência da doença foi diagnosticada com surdez, impossibilitada de falar e com os movimentos do corpo limitados. Um choque para a família e para Léia, que é educadora física e mantinha uma vida saudável.
Ao acordar e sem entender o que havia acontecido, Léia dificultou a convivência com a equipe de enfermagem e seus familiares. Decidida em encontrar alguma alternativa que possibilitasse a comunicação com a filha, a mãe Cleci Salete Blau, encontrou no projeto da mestranda o meio de voltar a falar com Léia. “Eu precisava saber como minha filha estava, o que ela estava sentindo. Foi Deus quem colocou a Graciela na minha vida, pois não sabia o que fazer. Percebia que a Léia queria dizer alguma coisa, mas não conseguia. Já não dormia mais pensado em como que eu faria para dizer a ela que tudo iria passar. Quando a Graci chegou, tudo mudou”, contou Cleci.
Ainda no CTI Central, a pedido da mãe, Graciela fez o primeiro contato com Léia. “A primeira palavra que ela escreveu foi mãe. Este foi o primeiro passo para saber que ela estava compreendendo, ou seja, com o cognitivo bem. Aproximei-me dela e com isso fui ganhando sua confiança. Ela é muito vaidosa, me pediu para pintar as unhas, passar batom e hidratante. Conversávamos muito e em várias vezes vim nos finais de semana pra fazer companhia”, evidenciou.
Após os 80 dias de CTI, Léia avançou em seu tratamento e foi para o quarto. Nessa fase a comunicação através do tablet foi muito importante para seu tratamento. “Quando ela viu que existia uma forma de contar o que estava sentindo e de pedir ajuda, desencadeou um processo onde ela colocou para fora todas as ansiedades. Hoje, oriento a Léia com as informações que a equipe médica repassa e mantenho uma grande amizade com ela e sua família. Passamos várias horas conversando”.
Léia ainda está internada no HSVP, mas com todo o seu empenho a alta virá nos próximos dias. A enfermeira do CTI Central, Janine da Rosa destacou a importância do projeto. “Agilizou muito a comunicação com os pacientes. Antes tentávamos outros métodos, como a leitura labial, mas era demorado. Agora com a ajuda do projeto da Graciela conseguimos resolver tudo mais rápido. O caso da Léia mostra o quanto é importante a comunicação para o paciente, a família e a equipe médica”.