Por muito tempo o envelhecimento humano foi encarado como a perda das faculdades mentais e a incapacitação para o trabalho, aparecimento de diversos males e doenças. A aposentadoria era sinônimo de ociosidade e fim da vida. Mas, felizmente, este conceito teve seu fim e hoje os idosos estão mais ativos, participativos e conquistaram um novo espaço na sociedade.
Especialmente através da inserção em grupos de terceira idade, os idosos, que também se definem como estando na feliz idade, praticam atividades esportivas, frequentam bailes, convivem em grupos que têm o mesmo interesse. Junto a isso vieram as aulas de informática, oficinais de poesia, de pintura. Pode-se dizer que disfrutam de uma liberdade de atividades que a vida profissional agitada não lhes permitia. E assim, assumem um novo papel, assumem um lugar que é de direito e, além de serem conhecidos e respeitados pela experiência de vida, dividem com familiares as novas experiências.
Esse conceito ainda é novo para algumas pessoas, mas é muito bem visto por quem sempre incentivou que os idosos se mantivessem em atividade. Sobre este novo papel que assumiram, o Medicina & Saúde procurou informações com o psicólogo Vinícius Thomé Ferreira, da Imed, e faz desta entrevista uma homenagem aos idosos na comemoração do Dia Nacional do Idoso, que ocorre em 1º de outubro.
Medicina & Saúde – Podemos dizer que o idoso está assumindo um novo papel na sociedade?
Vinícius Thomé Ferreira – Com certeza. No passado, a expectativa de vida era mais curta, e quando a pessoa começava a reduzir sua capacidade produtiva, acabava se tornando um peso para a família, mais uma boca para alimentar. Felizmente este cenário mudou significativamente. Os avanços da medicina, com novos tratamentos e medicações, estão fazendo com que a expectativa de vida humana seja ampliada significativamente, e com qualidade, o que não ocorria no passado. Desta forma, podemos observar uma mudança importante de comportamento: se no passado o idoso não tinha mais muito valor, hoje em dia tem ótimas condições de se manter ativo e com qualidade de vida. Há uma crescente valorização do idoso, mesmo porque o mercado já identifica que eles possuem um potencial de consumo importante. Assim, ele passa a ter um papel mais ativo hoje na sociedade do que ocorria no passado.
M&S – Quais as contribuições, do ponto de vista psicológico, de buscar atividades físicas e mentais nessa etapa da vida?
VTF – É fundamental para o idoso manter-se ativo, física e psicologicamente. Há uma ampliação de serviços que permitem que possam manter o seu corpo em forma com programas diferenciados em academias, e muitos buscam caminhadas e outros exercícios como maneira de manterem-se saudáveis. Geralmente há uma maior divulgação e valorização de atividades físicas e menos de atividades intelectuais, mas estas são tão importantes quanto as primeiras. Uma boa dica para manter a disposição mental é exercitar a memória e o raciocínio com quebra-cabeças, palavras cruzadas e outros jogos, como os de tabuleiro por exemplo. Quanto melhor estiver sua memória e seu pensamento, mais poderá aproveitar o tempo com seus amigos e familiares com bem-estar.
M&S – A convivência nos grupos de terceira idade é saudável?
VTF – Muito, porque os grupos permitem atividades importantes de socialização e trocas de experiências. É comum que com a correria, a família não consiga dar a atenção necessária e que gostaria aos seus membros idosos, então ter a possibilidade de participar de grupos onde possam trocar experiências e memórias é fundamental. Estes grupos enriquecem a vida e diminuem os riscos de transtornos depressivos e ansiosos.
M&S – Na convivência familiar, como os filhos e netos podem contribuir para que o idoso da família tenha um envelhecimento saudável?
VTF – A melhor forma de contribuição da família é pelo respeito. Da mesma forma que o idoso precisa respeitar que a família tem um tempo para seus compromissos diários, os filhos e netos são fundamentais na retribuição de carinho e afeto. O diálogo é muito importante, especialmente quando permite que o idoso conte a história da família para as novas gerações. Estas atitudes aproximam os membros e geram um sentimento de unidade, permitindo a troca de afetos e experiências. Na medida em que a família consegue criar um clima harmonioso com seus idosos, todos saem ganhando.
Estatísticas
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil, hoje, apresenta um contingente de aproximadamente 21 milhões de idosos (pessoas com idade igual ou superior a 60 anos); em 2025 esse número passará para 32 milhões, quando o Brasil ocupará o sexto lugar no mundo em população idosa, e em 2050 o percentual de idosos será igual ou superior ao de crianças de 0 a 14 anos.
Existem diversos fatores que contribuem para a maior expectativa de vida e, consequentemente, para o aumento da população idosa. Esse segmento da sociedade tem crescido de forma rápida e dentro desse grupo, os denominados “mais idosos, muito idosos ou idosos em velhice avançada” acima de 80 anos, também vem aumentando proporcionalmente e de maneira mais acelerada, constituindo o segmento populacional que mais cresce nos últimos tempos, sendo hoje mais de 12% da população idosa.
O efeito entre a redução dos níveis de fecundidade e de mortalidade no Brasil tem produzido transformações no padrão etário da população, sobretudo a partir dos anos de 1980. O ganho sobre a mortalidade e, como consequência, o aumento da expectativa de vida, associam-se à relativa melhoria no acesso da população aos serviços de saúde, às campanhas nacionais de vacinação, aos avanços tecnológicos da medicina, ao aumento do nível de escolaridade e de educação, aos investimentos na infraestrutura de saneamento básico, ao incentivo a medidas de prevenção das doenças e promoção da saúde, à percepção dos indivíduos com relação às enfermidades.
Investimento nacional
Para estimular um envelhecimento ativo e saudável entre a população brasileira, o Ministério da Saúde dispõe do Plano de Ações de Enfrentamento às Doenças Crônicas Não Transmissíveis, que propõe estratégias que visam fortalecer o envelhecimento ativo de forma saudável. Para garantir que o envelhecimento seja uma experiência positiva, deve ser acompanhado de oportunidades contínuas de saúde, participação e segurança.
As doenças crônicas não transmissíveis são as principais causas de óbitos no mundo, sendo responsáveis por elevado número de mortes prematuras e incapacidades. No Brasil, as DCNT se constituem no problema de saúde de maior magnitude, correspondendo a 72% das causas de mortes.