Com base no Censo de Diálise de 2011, realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, há no Brasil mais de 90 mil pacientes em tratamento dialítico. Segundo o médico nefrologista que atua no corpo clínico do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), Alaour Duarte, um dos principais problemas em relação às doenças renais é o fato dos pacientes chegarem para se tratar em um estágio muito avançado da doença. O paciente diagnosticado com Insuficiência Renal Crônica é encaminhado imediatamente para uma das Terapias Renais Substitutivas (TRS) do Serviço de Nefrologia do HSVP. Geralmente o tratamento inicial é a hemodiálise ou a diálise, em vista de que a terceira opção de tratamento – transplante renal –, no caso de doador cadáver, pode levar até três anos na lista de espera.
O Serviço de Nefrologia do HSVP atende atualmente cerca de 180 pacientes, dos quais 130 realizam hemodiálise e 50 diálise peritoneal. “Os rins são os órgãos responsáveis por filtrar o sangue para eliminar substâncias nocivas ao organismo, como amônia, ureia e ácido úrico, além de agirem ativamente produzindo substâncias importantes para nossa saúde. O cuidado com as doenças renais crônicas deve ser redobrado, pois é uma doença silenciosa e necessita de uma atenção”, evidencia Duarte.
Todas as pessoas são sujeitas a desenvolver doenças renais. O nefrologista alerta o público com maior possibilidade e alguns sintomas que podem ser indícios de doença renal. “Os mais propensos são os hipertensos, diabéticos, pessoas com dislipidemia (colesterol alto), idosos, obesos e fumantes. Quanto aos sintomas de doença renal destacamos dificuldade, queimação ou dor para urinar, ir ao banheiro muitas vezes (principalmente à noite), urina com aspecto sanguinolento e/ou com muita espuma, inchaço ao redor dos olhos e nas pernas, dor lombar, que não piora com movimentos, e história de pedras nos rins”.
Creatinina
O hábito de verificar os níveis de triglicerídeos e de colesterol no sangue é mais comum entre as pessoas, da mesma forma o nível de creatinina deve receber a mesma atenção. “A creatinina é uma substância utilizada para avaliar o funcionamento dos rins, e seu aumento no sangue pode refletir indiretamente um mau funcionamento do órgão. A sua dosagem é muito importante, pois pode aumentar sem a pessoa apresentar qualquer sintoma de doença renal. Portanto, seu aumento pode servir como um alerta para a doença”, destaca o médico.
A verificação dos níveis de creatinina é um exame barato e fácil de ser feito. “Pode ser realizado na mesma hora que se está medindo a glicose e o colesterol. É através deste exame que se abre a possibilidade de um diagnóstico precoce de doenças renais e de um tratamento menos desgastante para o paciente, oportunizando o que chamamos de Transplante Preemptivo. Os níveis normais da creatinina variam entre 0,7 a 1,4 mg/dl, porém deve-se levar em conta sexo, idade e peso do paciente. Pergunte ao seu médico como está sua creatinina, pois a prevenção é sempre o melhor tratamento”.
Transplante Preemptivo
Somente no Hospital São Vicente de Paulo, 79 pacientes aguardam na lista de espera por um transplante renal. Isso pode ser amenizado pela conscientização à doação de órgãos para transplante e pelo diagnóstico da doença renal em seu estágio inicial. O diagnóstico precoce possibilita uma modalidade de transplante, conhecido como Transplante Preemptivo.
Realizado antes do início do programa dialítico, o Transplante Preemptivo traz várias vantagens para o paciente. “Antes que o paciente evolua para uma doença renal crônica, ele é encaminhado para o transplante. Isso possibilita uma melhor sobrevida do rim enxertado, menores índices de doenças cardiovasculares e doenças ósseas (normalmente associadas ao tratamento dialítico crônico) e um menor custo para o paciente e a instituição”, ressalta o nefrologista.
No HSVP, o Transplante Preemptivo já foi realizado duas vezes. Um deles foi o das irmãs Rosa Ferreira de Castro (receptora) de 45 anos e Terezinha Casanova (doadora) de 47 anos. A descoberta do problema precocemente permitiu que Rosa transplantasse antes de necessitar de hemodiálise ou diálise. “Nunca esperamos por uma doença e jamais paramos para imaginar que um dia iremos precisar de um transplante. Quando acontece com a gente é diferente, mas conseguimos superar. A minha sorte é que o problema foi diagnosticado cedo, o que possibilitou que eu não precisasse realizar outros procedimentos. O rim que minha irmã me doou nos aproximou ainda mais. Minha família foi muito importante nesse momento, pois todos estiveram ao meu lado”, conta Rosa.