Sala de Cinema

Saúde/Coluna

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Rossana Stella Oliva Braghini- Psicanalista

Francisco Fianco- Dr. em Filosofia

 

Rossana B. - Sunset Boulevard ou Crepúsculo dos Deuses, tcomo foi chamado no Brasil, foi nossa escolha este mês para a Sala de Cinema. Dirigido por Billy Wilder em 1950, foi indicado para onze Oscars tendo recebido três. O filme conta a história de uma grande estrela do cinema mudo, Norma Desmond (Gloria Swanson), que sonha seu retorno às telas em grande estilo, agora tendo em vista o cinema falado. Vivendo reclusa em seu mundo absolutamente particular, cultuando apenas a si mesma, ela estabelece relações inicialmente profissionais com o roteirista Joe Gills (Willian Holden), que estava momentaneamente desempregado e precisando de dinheiro. Este por sua vez, se apaixona pela jovem Betty Schaeffer (Nancy Olson) quando juntos começam a escrever um roteiro. Os desdobramentos desta narrativa são inúmeros, já que toca sensivelmente na imagem ideal que cada um tem de si e o apego que temos a esta imagem. Neste exato sentido, também apresenta, pelo contraponto entre as personagens Betty Shaeffer e Norma Desmond, que os que sabem fazer do “limão uma limonada” com a dita imagem ideal, pela qual querem ser reconhecido pelos outros, tem maior capacidade de viver a vida mais qualificadamente,  sem tanto sofrimento. Isso nos fez deslizar para outra discussão: o valor simbólico que o trabalho tem para cada um de nós,  a ponto de quando temos que abandonar  este lugar, que nos fornece uma identidade, por uma aposentadoria por exemplo, estejamos alertados- existe um luto a fazer pela dimensão narcísica que foi  tocada.

 

Francisco F. - Como construímos a ideia de eu, a imagem que temos de nós mesmos? Não se faz ela de cacos que juntamos ao longo da vida em forma de memórias e fotografias? Muitas vezes até mesmo de vivências inventadas e fantasiadas? O filme "Crepúsculo dos Deuses" aborda justamente, entre diversos outros aspectos, a dificuldade que o ser humano encontra para definir, para elaborar essa construção de si mesmo e conseguir simultaneamente lidar com as transformações de vida e de mundo que ocorrem com este personagem que criamos. A personagem principal, Norma Desmond, que podemos interpretar como um trocadilho para "a regra do mundo" espelha a subjetividade humana frente a essa encruzilhada, porém a responde fixando-se em uma imagem gloriosa de si mesma da qual tem dificuldade de se libertar. Essa parecer ser a regra do mundo, mas não de um mundo qualquer, e sim do nosso mundo contemporâneo, moderno e pós-moderno. As pessoas, de repente, não sabem quem são, nem como se tornarem quem querem ser, justamente por não saberem exatamente quem querem ser. Nesse mundo, prestamos atenção às estrelas para nos construirmos, aproveitando a reflexão de Adorno em The Stars Down to Earth, seja ao que elas dizem no nosso horóscopo, seja às estrelas do mundo da mídia, para imitar suas vidas artificializadas. Nesse rumo, segue a nossa sociedade, seguindo os astros, que outrora foram deuses, no caminho de seu crepúsculo.

 

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