A poluição sonora é a terceira maior poluição do meio ambiente, perdendo apenas para a água e o ar. Pelo menos 10% da população do planeta sofrem de deficiência auditiva. Só no Brasil são 15 milhões de pessoas convivendo com o problema. Destes, em média 350 mil tem deficiência auditiva de grau severo, conforme dados da Organização Mundial de Saúde.
Conforme a fonoaudióloga Stéfanie Rozin, o ruído é considerado como o agente físico nocivo à saúde mais frequente no ambiente de trabalho, sendo caracterizado como um dos fatores de maior prevalência das origens de doenças ocupacionais. “A PAIR (Perda Auditiva Induzida por Ruído), por sua vez, é uma das maiores causas de perda auditiva no homem”, comenta.
De acordo com Stéfanie, a audição é primordial no desenvolvimento da linguagem e fala, na comunicação e relações sociais, no processo de aprendizagem, servindo ainda como alerta em várias situações de perigo, proporcionando sensações de descanso e prazer, como no ato de ouvir uma música. Porém, ocorre que sua importância só é constatada no momento que começa a falhar, ou seja, quando a acuidade auditiva diminui.
“A PAIR configura-se como uma perda auditiva do tipo neurossensorial, havendo lesão nas células ciliadas da cóclea (caracol do ouvido), é bilateral e irreversível. Uma vez cessada a exposição ao ruído, não ocorre mais progressão da perda atingindo seu nível máximo nos primeiros 10 a 15 anos de exposição. Pode ser agravada pela exposição simultânea a outros agentes como produtos químicos e vibrações”, explica.
Além da diminuição da audição, a exposição ao ruído pode ocasionar outro grande inconveniente na vida do trabalhador: o zumbido. “O zumbido é a percepção consciente de um som que se origina nos ouvidos ou na cabeça sem a presença de uma fonte externa. A prevalência de zumbidos na população mundial chega a valores próximos de 15%, segundo a Organização Mundial de Saúde”, salienta a fonoaudióloga.
Zumbido e ATM
Pesquisas recentes mostram que o zumbido pode ter relação também com problemas na ATM (articulação que une a mandíbula no crânio e é móvel), estresse e nervosismo, alimentação, hipertensão arterial, Diabetes Mellitus, colesterol e triglicerídeos, hiper ou hipotireoidismo, tabagismo, etilismo, uso de drogas e algumas medicações.
“Outros fatores que podem agravar a perda auditiva do trabalhador são a exposição a produtos tóxicos, vibração e temperaturas extremas. O ruído é um dos fatores que contribui nas causas de acidentes de trabalho, pois gera desatenção, descuido e mascara os sinais de alerta. Logo, o uso de EPIs para proteger a audição é indiscutível”, ensina Stéfanie.
Segundo ela, a sua indicação é conhecida: “sempre que o indivíduo for submetido a ambientes onde o nível de pressão sonora ultrapassar a barreira dos 85 decibels, em média, condição capaz de causar lesões irreversíveis na audição, seu uso está automaticamente prescrito”, explica. A fonoaudióloga afirma que os fones concha ou de inserção (plug) devem ser usados em tempo integral de exposição ao ruído. O seu uso efetivo minimiza os efeitos da exposição mantendo íntegra a saúde auditiva e geral do colaborador. É sabido que a exposição a ruído pode ocasionar prejuízos globais para a saúde do indivíduo que são os chamados sintomas extra-auditivos. Aos empregadores cabe promover Programas de Prevenção de Riscos Ambientais e de Conservação auditiva, além de oferecer os EPIs e treinar o trabalhador para seu uso adequado.
“A PAIR não é passível de tratamento medicamentoso, sendo a prevenção o único, maior e melhor remédio para todo trabalhador exposto a ruído ocupacional”, ressalta.
Sinais e comportamentos relacionados à perda auditiva
- Você costuma pedir para que as pessoas repitam o que acabaram de dizer?
- Você prefere o volume da TV ou do rádio mais alto do que os demais?
- As pessoas parecem estar murmurando quando falam com você?
- Você tem zumbido nos ouvidos?
- Você responde coisas diferentes das que foram perguntadas?
- Você sente dificuldades durante conversas ao telefone?
- Você escuta o que as pessoas falam mas não entende?
- Você evita festas e reuniões sociais?
- Você direciona a cabeça para o lado de quem está falando?
Impactos psicossociais da exposição ao ruído
- Esforço e fadiga: para prestar mais atenção e concentrar-se nas conversações
- Estresse e ansiedade: irritação e aborrecimento por causa do zumbido ou intolerância a ruído
- Isolamento: durante situações que exijam interações
- Dificuldade no relacionamento familiar: dificuldade na comunicação, elevar som da TV
- Autoimagem negativa: sente-se mal por não ouvir, vergonha de pedir para repetir, sente-se velho e incapaz
Consequências extra-auditivas da exposição ao ruído
- Sistema neurológico: tremores nas mãos, diminuição da reação a estímulos visuais, mudança na percepção das cores
- Aparelho circulatório: alterações na pressão arterial e no funcionamento do coração
- Aparelho digestivo: alterações dos movimentos peristálticos e da produção de ácido clorídrico
- Sistema endócrino: disfunções hormonais diversas
- Sistema imunológico: baixa defesa imunológica
- Psíquicas: irritação, desânimo, ansiedade, depressão, diminuição da atenção e concentração e problemas de memória