É muito comum que as pessoas se queixem de dores no joelho e a associem com uma tendinite. Porém, nem sempre estão certas. Na verdade, apenas um pequeno número de casos realmente é diagnosticado como tendinite. A maioria sofre de outras patologias, que podem ser decorrentes de excesso de esforço ou até mesmo do excesso de peso. O ideal é sempre procurar orientação médica para descobrir qual a origem da dor e então fazer o tratamento mais adequado.
Para saber identificar o problema e desmistificar a tendinite, o Medicina & Saúde conversou com o médico ortopedista André Kuhn. Confira.
Medicina & Saúde - Todas as dores no joelho são oriundas de uma tendinite?
André Kuhn – A queixa, no consultório de quem atende patologias dos joelhos, é bastante frequente. Na realidade, a grande maioria das vezes é relacionada à patologia na articulação fêmuro-patelar. Essa é a articulação entre a patela, ou rótula, que se encaixa em cima do fêmur e é responsável pela função do motor, quando a musculatura da coxa se contrai, e pela função de freio quando se vai descer uma escada ou desacelerar a marcha. A patela faz um deslizamento no que seria o “trilho” onde ela corre e essa cartilagem percorre, com o joelho estendido ao joelho em flexão, de cinco a seis centímetros em cima dessa região femural. Quando a musculatura está muito atrofiada ou retraída, ao que se chama de encurtamento muscular, gera uma sobrecarga da cartilagem da rótula sobre o fêmur, produzindo dor. As pessoas normalmente têm dor rotuliana e atribuem o diagnóstico como sendo uma tendinite.
M&S – Quando ocorre realmente a tendinite?
AK - No joelho existe a inserção da musculatura que faz a flexão na região interna da perna e normalmente esses tendões podem cursar com processo inflamatório quando eles estão muito tensionados pelo exercício ou pela atividade física e aí sim produzir uma tendinite, são os tendões flexores. Em quem realiza corrida, ou salto pode ocorrer um processo de tração no tendão patelar e também gerar uma dor sobre o tendão, mas que o termo correto é tendinose.
M&S – Qual a diferença entre tendinite e tendinose?
AK - Tendinite seria um processo inflamatório e tendinose é um processo isquêmico do tendão, gerando necrose, morte do tendão e aumentando, com isso, o risco de rupturas espontâneas durante uma atividade física ou traumática, facilitada em decorrência do processo de sofrimento do tendão. Então, tanto no joelho, quanto no tendão de Aquiles, atrás da panturrilha, é muito comum as pessoas dizerem que sofrem de tendinite, sendo que o diagnóstico correto é tendinose. É uma patologia por tração do tendão levando a um déficit nutricional com enfraquecimento das fibras tendíneas, aumento de volume, fica inchado, e isso provoca microrrupturas, facilitando o processo de rompimento espontâneo durante a atividade física.
M&S – O sobrepeso pode estar relacionado com as dores nos joelhos?
AK - O sobrepeso é um grande complicador para quem vai iniciar uma atividade física e começa a exigir do joelho uma resistência que ele não tem. É comum, às vezes, dor nas inserções tendíneas também por estresse. Existem, então, lesões do estresse da fadiga, pelo simples fato de caminhar, pelo sobrepeso, como existe o estresse em cima da superfície óssea, da cartilagem e do osso subcondral, que é o osso que suporta o impacto. Às vezes uma caminhada mais prolongada, que é muito comum quando as pessoas vão em romarias, resultar em dores intensas. De quatro a cinco dias depois, sentem essas dores intensas porque submeteram a articulação a uma fadiga da qual elas não estavam acostumadas e isso gera lesão por estresse, provocando microfratura com impactação óssea. Essa impactação promove uma reação inflamatória pelo aumento de pressão dentro do tecido ósseo, gerando uma dor insuportável.
M&S – Existem casos que evoluem e em que se faz necessária a cirurgia?
AK - Quando as pessoas estão na faixa etária de 50 a 60 anos de idade e tem sobrepeso, normalmente as mulheres já têm, devido à menopausa, uma diminuição da massa óssea e massa muscular, associado ao sobrepeso e fazem uma atividade física acima do habitual, elas facilitam o aparecimento dessa lesão por estresse. Esse aumento de pressão dentro do tecido ósseo leva a uma necrose, a uma morte do osso. E se ocorrer o colapso da superfície articular, isso vai produzir uma artrose secundária e nesses casos gera uma situação que existe a necessidade de tratamento cirúrgico, com cirurgias chamadas osseotomias ou artoplastias totais.
M&S – Esses casos são complicados de tratar?
AK - É bem complicado, é um processo que a pessoa tem uma dor intensa, uma limitação funcional, uma perda de massa muscular e aí é submetida ainda a um procedimento cirúrgico que também gera uma dificuldade de reabilitação, porque é realizado em cima de uma articulação que vinha bem e abruptamente ficou ruim. É diferente daquela doença adquirida que a pessoa vai lentamente piorando. A patologia mais aguda tem uma piora intensa e as pessoas tem uma necessidade muito rápida de melhora e essa melhora é muito lenta. Isso gera nos pacientes uma ansiedade de recuperação e com transtornos psicológicos, às vezes, de não aceitar a doença e com dificuldade de aceitar o próprio processo de reabilitação.
M&S – É possível prevenir que essas dores apareçam?
AK - Quando a pessoa vai fazer uma atividade muito acima do habitual, deve procurar uma orientação profissional. Quem pode orientar hoje como iniciar um exercício? Um educador físico tem condições técnicas de dar um bom aconselhamento, ou fisioterapeuta e um ortopedista, o profissional médico. Na dúvida, as pessoas devem ter a orientação de que calçado usar, que tipo de atividade física iniciar, como prevenir lesões, ter consciência de que é importante realizar exercícios de alongamento, o calçado com o amortecedor adequado com a atividade que vai ser realizada e ter paciência de ir aumentando a atividade progressivamente, conforme a resposta clínica do corpo.