Por Luciana Oltramari Cezar
Esta é uma época onde as pessoas pensam sobre as expectativas, projetos e esperanças para o novo ano se aproxima. E todos os anos repetem-se o mesmo. Todos desejam-se felicidades, tudo de bom, muita paz, muita saúde, amor, sucesso e que o ano que vem chegando seja muito melhor. É o que desejamos genuinamente para nós mesmos e para aqueles que amamos e prezamos. Mas será que tudo isso se realiza, só porque desejamos? Sabemos que as coisas não são bem assim. Muitas coisas boas acontecem, se repetem. Mas outras tantas ruins também.
Em 2012 muitas situações se repetiram: guerras, atentados, massacres, corrupção, impunidade, injustiças, violência, perversidades nas relações, abusos de poder. Talvez 2012 tenha sido um pouco pior ou um pouco melhor que 2011, e possivelmente muito bom para alguns e péssimo para outros e isso é sempre assim. O ano de 2013 se inicia repleto de esperanças porque é um recomeço. A esperança existe, e é vital que exista, porém se a felicidade virá é outra história. Não há garantias.
O fim do ano é uma época de reavaliarmos o ano que passou. A data vira uma espécie de teste que analisa o desempenho pessoal, amoroso, profissional, familiar. Uns ficam mais contentes com a sensação de tarefa cumprida e objetivos alcançados, mas outros ficam frustrados e com o desejo de que 2012 termine de uma vez.
Não é questão de ser pessimista, mas de ser realista e pensar que talvez muitas situações pessoais que não deram certo em 2011, 2012 se repetirão, porque o ano não é mais o mesmo, mas nós somos.
Existe algo que em psicanálise chamamos de compulsão à repetição, e que se refere justamente a comportamentos que repetimos sem nos darmos conta, sem termos noção do porquê fazemos esta ou aquela escolha. Muitas vezes podem ser atitudes destrutivas, escolhas mal feitas, que colocam a pessoa em risco ou que a levam a não conseguir ter sucesso na vida, mesmo tendo potencial para tal. Às vezes a pessoa sabe que repete, mas não quer mudar... ou ainda acha que são os outros é que tem que mudar... Sentimentos e atitudes em que a origem pode ser encontrada dentro nós mesmos, no mundo interno, não no externo. O confronto com a realidade, passar sufoco, enxergar melhor as coisas, poder perder o que se tem é o que faz alguém querer dar um basta em certas situações da própria vida. Muita gente não se incomoda, faz um arranjo, uma sobre adaptação e acha que leva a vida assim... sem consequências.
Achar que na vida o que acontece é porque a pessoa tem azar ou sorte, ou que as oportunidades caem de paraquedas é uma grande ilusão. Atualmente as pessoas querem conseguir as coisas de maneira rápida, pelo caminho mais fácil, sem ter que passar pelo que se tem que passar, ou muitas vezes passando por cima dos outros. Nada se consegue sem muito esforço e dedicação e as espécies que são capazes de sobreviver à crise não são aquelas capazes de se adaptar, mas as que são capazes de se reproduzir e produzir.
Há ainda as pessoas que ficam capturadas em conflitos internos, tornando a capacidade produtiva comprometida. Aparecem inibições e sintomas dos mais diversos e a pessoa gasta tanta energia com eles que quase não sobra para investir na vida e fazê-la render. Freud dizia que se tem saúde psíquica quando se está com capacidade para amar e trabalhar, o que não significa ausência de angústias ou mesmo conflito, porém a libido fica disponível para ser melhor utilizada e não desperdiçada. A pessoa consegue batalhar na vida, pois sucesso só vem antes do trabalho no dicionário.
Luciana Oltramari Cezar é psicanalista