Alguns paradoxos do sexo

Medicina & Saúde - coluna da psicanalista Rossana Braghini

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Por Rossana Stella Oliva Braghini - Psicanalista

 

Uma criança quando brinca, brinca. Se tiver que pensar que ela TEM que brincar, acabou o encanto da brincadeira. Este é talvez um dos piores “fardos”  a serem carregados pelos pares no jogo lúdico do sexo dentro de um casamento. Oprime  os amantes  a  “ obrigação ” de transar.  Esse ônus que não traz nenhum bônus, entraria para alguns como prova do amor que continuaria vivo;  para outros,  como confirmação de que somos bem resolvidos sexualmente; ou ainda, que cumprimos bem nossos deveres dentro do casamento;  ou então que não seremos nós a deixar a porta aberta para o rival entrar.

 

Porém a questão é complexa. Retomando o que já sabemos, entre o amor e desejo, ambos percorrem caminhos diametralmente opostos .Enquanto o amor busca fazer de dois um só, o desejo aparece justamente na ausência. Enquanto o amor pede a presença constante do parceiro, que nos assegure que somos o único objeto de seu amor, o desejo pede a incerteza. Certamente todos nós lembramos o começo dos romances. Aquela chama ardente que clamava com urgência a presença do outro,  o  encontro dos corpos que reassegurava o desejo por nós do parceiro desejado. Ah...a paixão! É assim que comumente nomeamos esta exigência do desejo, não sem um suspiro escondido de nostalgia. Depois chamamos de amor aquele sentimento mais ameno, de segurança, em que o beijo molhado e duradouro dificilmente se faz presente. Entre o amor e o desejo, parece que há um paradoxo indissolúvel, só podendo ser reunido, no melhor dos casos, pela fantasia. Por isso no ato do amor, fechamos os olhos. Para recriar a nossa fantasia erótica de desejo.

 

Resumindo o que escrevi até aqui a obrigatoriedade é sempre inimiga. A deliciosa fantasia é geralmente amiga. Um dos obstáculos à fantasia e ao devaneio é  que somos mais inibidos na sensualidade/ sexualidade que gostaríamos de nos pensar, principalmente  nesta,  mais aparente que verdadeira, liberação sexual pós anos 60. Não aproveitamos como poderíamos a extensão dos prazeres sexuais. Evidentemente que qualidade do sexo a que me refiro não é sinônimo da quantidade de parceiros sexuais que podemos ter. Nem tão pouco o seu contrário.

 

O que coloco em questão, é  se o prazer sexual  não é frequentemente substituído por outras coisas que igualmente dão prazer, como estudo, filmes, jogos nos tablets,   leituras imprescindíveis, academias de ginástica, compras e outros,  em razão daquela inibição pessoal a que me referi antes. Com o tempo super ocupado, reparem se o deleite sexual, pelo menos dentro das relações estáveis como são os casamentos,  não fica como um dos últimos quesitos a serem contemplados e investidos. E o curioso é que se por um lado estamos na era da busca dos corpos perfeitos, para supostamente sermos mais atraentes ao outro, deixamos as delícias sexuais e sensuais, diretas, subaproveitadas.

Gostou? Compartilhe