Voltei para o momento Inglês. Já estive lá em minha adolescência, com Agatha Christie que me revelou através de seus romances policiais o “verdadeiro” espírito inglês, pelo qual me apaixonei. Sabendo disso, minha filha havia me emprestado a trilogia das crônicas de Arthur de Bernard Cornwell para estas férias. E na volta delas, não resisti ao convite do meu marido para assistir Downton Abbey, série televisiva britânica (disponível em DVD no Brasil), criada por Julian Fellowes. Enquanto assistia esta última, neste final de semana, pensava: “ é uma novelinha água com açúcar, sem dúvida muito bem feita, mas não tem a pungência de Gosford Park. Mas me diverti assim mesmo, até onde vi. No entanto, a constante lembrança de Gosford Park, que só recordava que a direção - roteiro era de Robert Altman, me fez querer saber mais. Então soube que o Fellowes escreveu Gosford Park. Altman se baseou na sua novela para escrever o roteiro para o cinema. O estilo do filme Assassinato em Gosford Park e da série televisiva Downton Abbey foi o que me remeteu um ao outro.
Mas o que vem a ser o estilo? O estilo é a nossa marca registrada. Dito de outra maneira, é aquilo que transmitimos aos demais sem que nós tenhamos conhecimento disso. É nossa assinatura, por assim dizer. Como por exemplo, o estilo de escrever de Shakespeare, de esculpir de Michelangelo, ou de cozinhar da mamãe. O estilo não pode ser imitado. É ele que nos torna únicos em nossas produções.
O curioso é que muitas vezes ao tentarmos sustentar publicamente o nosso estilo, que aparentemente deveria ser o mais desejado de uma existência, este ato descola ondas de angústia muitas vezes insuportáveis.
De onde viria então essa angústia?
É que o nosso estilo muitas vezes compete, novamente sem que tenhamos inteiro conhecimento, com o traço com o qual o grande Outro falou para nós, desde muito pequenos, que somos. Nos identificamos com dita fala e agora ela faz parte do nosso eu. Por exemplo, imaginem uma moça dos anos 20, que tivesse um talento incrível para a pintura. No entanto, ela sempre foi falada, e agora ela mesma se intitula, a “cuidadora da familia”. Aquela sempre presente nos momentos de dificuldades, traço este que já faz parte de seu eu. Como então se arriscar em uma exposição de suas telas em Paris, se ela teria que abandonar sua própria identidade: a sempre presente cuidadora da família, traço do qual ela se orgulha e é reconhecida no seu meio familiar e social?
Resumindo, a angústia surge do perigo do nosso eu esfacelado. Do perigo, mais imaginário do que real, de perdermos a nós mesmos. O único problema disso é que quando a angústia surge, não somos sabedores das representações conflitantes em jogo, por isso é tão difícil suportar, por isso é tão difícil entender e por isso é mais fácil desistir...