Por Vinícius R. Thomé Ferreira
Uma das primeiras coisas que um estudante de psicologia discute na faculdade é a definição de sua futura área de atuação. No primeiro semestre, as disciplinas apresentam um histórico de como a psicologia foi se constituindo, e constata-se que, em seus primórdios, ela era definida como o estudo (logos) da alma ou espírito (psiqué).
De acordo com o professor William Gomes, do instituto de psicologia da UFRGS, o termo apareceu inicialmente como título de um livro publicado em 1590 por Rudolf Goclenius. Na obra, a definição de psicologia refere-se ao estudo da alma, psique ou da mente. A partir daí, o termo começou a se popularizar gradativamente, e em 1879, quando a psicologia como ciência nasce se separando da filosofia, com a criação do laboratório de psicologia por Wilhelm Wund na universidade de Leipzig na Alemanha, ela torna-se a ciência da mente e do comportamento.
Mas é interessante observar que no imaginário das pessoas, e até mesmo de profissionais da área da saúde, persiste a definição da psicologia como o estudo da alma, e vez por outra o encontramos em artigos e entrevistas. Esta conceituação não é a mais adequada, por várias razões. Primeiramente, quando se fala em alma remete-se, em maior ou menor grau, à crença na existência de algo "imaterial", da qual não se tem comprovada cientificamente a existência. Desta forma, como se pode estudar cientificamente algo que não se pode identificar com clareza, nem manipular de alguma forma? Em segundo lugar, existe uma conotação místico/religiosa quando se fala em alma, pois se pressupõe a existência de algo que persiste à vida do corpo. Assim, seria impossível que ateus, agnósticos ou outros que negassem a existência de algo além do corpo pudessem ser psicólogos, pois ou seriam psicólogos, admitindo essa entidade que controla o comportamento, ou não poderiam ser ateus ou agnósticos.
Atualmente, o corpo científico oficial reconhece que o cérebro é responsável pelo controle e manifestação do comportamento. Existe uma base biológica que permite que possamos nos lembrar, pensar, prestar atenção ao mundo, nos relacionarmos com os outros e amar. E essa base, o cérebro, pode ser manipulada e controlada de várias formas, sem que seja necessário considerar a existência de algo supramaterial. Isso não quer dizer que a psicologia é contra as crenças das pessoas; crer em algo pode ser um bom elemento de prevenção de sofrimento mental. Quer dizer somente que é fundamental deixar demarcadas as fronteiras entre as crenças religiosas e espirituais e a ciência. Só assim será possível fazer boa ciência e deixar que as pessoas mantenham as suas crenças, sem conflitos diretos com o conhecimento científico.
Afinal, nunca é demais dizer, religião e ciência são coisas diferentes, tratam de problemas diferentes; se a religião diz como as pessoas devem se comportar para encontrar a paz ou a salvação, a ciência se ocupa de compreender como o mundo funciona. Por estas razões, é mais acertado dizer que a psicologia é a ciência do comportamento, ou da mente, e não o estudo da alma. Ao fazer isso, mantemos cada coisa em seu lugar.
Vinícius R. Thomé Ferreira é psicólogo, doutor em psicologia e professor da Imed