Formigas podem ser vetoras mecânicas de micobactérias patogênicas, segundo a pesquisa de doutorado da veterinária Ana Paula Macedo Ruggiero Couceiro, realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP em 2011. Análises microbiológicas realizadas por amostragem em um hospital no interior de São Paulo apontaram ocorrência de micobactérias ambientais, relacionadas às infecções oportunistas. Essas infecções podem ocorrer na pele, por exemplo, com a formação de abscessos, além de não responderem à terapia convencional com antibióticos.
O hospital, pertencente à Secretaria Estadual de Saúde, é especializado na assistência a pacientes com tuberculose. Justamente em centros como esse, os internos estão fragilizados imunologicamente devido à convalescença, e, por isso, a infestação com esses patógenos implica em mais riscos. As formigas foram coletadas num tubo estéril em diversos pontos das instalações do hospital.
Segundo a pesquisadora, as micobactérias ambientais estão amplamente distribuídas, inclusive em hospitais. O monitoramento destas micobactérias não é habitual. No entanto, com o aumento de surtos relacionados às mesmas em estabelecimentos de saúde, a preocupação com estes agentes aumentou.
Desde 2003, enquanto fazia seu projeto de mestrado, Ana Paula verificou que formigas contribuíam para contaminação de testes de diagnósticos e disseminação de partículas. No levantamento para seu doutorado, notou que algumas características inerentes às formigas facilitavam a sua dispersão, como o fato de andarem até 200 metros (m) a partir do seu ninho em um único dia. Por ter uma dieta generalista, o inseto é um animal de fácil adaptação, convivendo bem em diversos ambientes. Pesquisas anteriores, segundo ela, descrevem a formiga em ambiente hospitalar como transportadora de microrganismos, porém seu trabalho é o primeiro que investiga a disseminação de micobactérias desta maneira. As formigas, neste caso, podem contaminar roupas, alimentos e água utilizados pelas pessoas internadas.