Dopamina, rotina e o ciclo vicioso do prazer

Medicina & Saúde - artigo de William Weber Cecconello.

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Por William Weber Cecconello

 

A dopamina é um neurotransmissor que atua no cérebro dando uma sensação de prazer ao satisfazer uma necessidade ou ao conseguir algo. É ela a responsável pela sensação que temos quando fazemos um gol ou por nos fazer sentir felizes quando conseguimos cumprir uma meta que estabelecemos. Ela também é liberada em situações onde sentimos prazer, como ao comer chocolate por exemplo.

Após nosso cérebro interpretar um estímulo como prazeroso (liberar dopamina), nossa tendência é repetir o que fizemos para ganharmos mais dopamina. O problema é que isto pode gerar um ciclo vicioso.

Em um experimento, cientistas davam regularmente bananas para macacos, o que liberava dopamina. Após algum tempo ganhando regularmente as bananas, os cérebros dos macacos não liberavam mais dopamina ao receber. Então os cientistas pararam de dar bananas aos macacos e estes passaram a liberar cortisol (responsável pelos sentimentos ruins). Ou seja, após algum tempo exposto a um mesmo estímulo que libera dopamina, o nosso cérebro passa a não recompensar com a mesma sensação de prazer, mas ao tirar este estímulo sentimos uma sensação ruim. Isso pode servir como uma base a velha frase ‘‘só damos valor quando perdemos’’.

Outros testes explicam que este efeito é semelhante também ao comer chocolate. Quem já teve algum episódio onde devorou uma barra inteira de chocolate provavelmente percebeu que após cerca de seis barrinhas o chocolate passa a não ter mais o mesmo prazer do que tinha no início, é como se ele fosse perdendo o gosto. Isso acontece por que o cérebro, novamente, só libera dopamina no início da estimulação, o resto do tempo estamos na verdade tentando buscar o prazer inicial que sentimos.

Outro experimento feito com um rato, colocaram eletrodos no cérebro que liberavam dopamina no cérebro assim que o rato pressionava um botão. Ao fim do resultado o rato morreu de fome e sede, pois o cérebro recebia estímulos tão prazerosos que faziam com que o rato buscasse apenas pressionar o botão, deixando de se alimentar ou ingerir água.

Estes testes evidenciam questões importantes de nossa natureza humana. Quando buscamos fazer algo novamente por que isso foi prazeroso, nosso cérebro tem a tendência de focar apenas nos estímulo prazeroso inicial e não focar no problema aqui e agora. Indivíduos dependentes químicos, por exemplo, procuram na substância o prazer que conseguiram inicialmente (ex: usei álcool e esquecidos meus problemas) e acabam por não perceber como a substância não atende mais às expectativas e os problemas que se geraram devido ao uso.

Outra questão importante que a liberação de dopamina traz é a importância de novos objetivos. Quando realizamos sempre uma mesma tarefa, que pode ter sido prazerosa inicialmente, nosso cérebro tende a se acostumar com ela, e por isso acaba interpretando como algo corriqueiro. Sempre que colocamos um objetivo novo o cérebro começa a liberar dopamina a cada momento em que fazemos algo que nos faz ficar mais perto deste objetivo. Ter novos objetivos, ainda que pequenos, em mente é imprescindível para evitar ciclos viciosos de dopamina e melhorar a qualidade de vida.

 

 

William Weber Cecconello é bolsista da Fapergs e acadêmico de psicologia Imed

 

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