Fatos sobre a obesidade

Medicina & Saúde - texto produzido pelo médico cardiologista Maurice Formigheri.

Por
· 4 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

“Mitos, presunções e fatos sobre obesidade” é o título do artigo publicado, recentemente, no prestigiado periódico medico – The New England Journal of Medicine-. Nesta publicação, os autores revisaram, exaustivamente, publicações sobre obesidade na mídia leiga, bem como aquelas vinculadas ao meio científico.

A partir desta revisão, os autores classificaram os relatos em mitos, presunções e fatos. Com efeito, vale definir o que é mito, presunção e fato: muitas crenças sobre obesidade persistem, mesmo na ausência de evidencias cientificas – isto é presunção-; algumas crenças persistem, mesmo com evidencias que a mostram que são falsas – isto é mito; e existem dados bem determinados, com evidências científicas que são reais e verdadeiras – isto é fato.

 

 

Mitos sobre obesidade:

1. Pequenas mudanças no ganho ou no gasto calórico irão, a longo prazo, produzir grandes mudanças no peso;

2. Definir a quantidade de peso a perder de forma mais real, mesmo que esta perda não seja a ideal, com o objetivo de não ocorrer frustração por parte do indivíduo;

3. Rápida e grande perda de peso está associada à dificuldade em manter a perda de peso de forma sustentada quando comparada com a perda de peso de forma mais lenda e gradual;

4. Para ajudar o indivíduo a perder peso, é importante verificar o estágio de mudança do peso ou da dieta inicial, de forma sistemática e intensiva;

5. Educação física nas séries iniciais, no seu atual formato, é uma importante ferramenta para a prevenção da obesidade infantil;

6. O aleitamento materno tem efeito protetor contra a obesidade;

7. Um relacionamento sexual queima de 100 a 300 Kcal para cada indivíduo.

 

 

Presunções sobre obesidade:

Cumpre destacar, aqui, que presunções são crenças aceitáveis, mas que não tem comprovação científica aprovando ou desaprovando-as.

1. O hábito de comer regularmente no café da manhã (versus o hábito de não comer) tem efeito protetor contra a obesidade, o que se fundamenta na diminuição da quantidade ingerida de alimentos nas refeições subsequentes;

2. A infância é o período em que o aprendizado de como comer e de como realizar exercício influenciará no peso por toda a vida;

3. Comer mais frutas, verduras e legumes resultará em perda de peso ou de menor peso, independentemente de qualquer outra mudança no estilo de vida;

4. O efeito Yo-yo – ou efeito sanfona -, em que a pessoa emagrece e engorda de forma cíclica, está associado ao aumento da mortalidade;

5. Refeições rápidas (fast foods) contribuem para o ganho de peso e obesidade, pois este tipo de refeição é incompleto e será compensado nas outras refeições;

6. Áreas construídas pelo Poder Público, com a finalidade da pratica de atividade física, influenciam a incidência e prevalência da obesidade.

 

 

Nove fatos sobre a obesidade:

1. Embora fatores genéticos influenciem, de forma importante, na obesidade, a hereditariedade não é definitiva, já que mudanças – pelo menos – moderadas no estilo de vida poderão promover perda de peso significativa. Portanto, a identificação da “chave” para a mudança de hábitos inadequados é fundamental para o alcance da redução de peso de forma expressiva;

2. Os pressupostos mais importantes de uma dieta que é efetiva é que ela contemple uma redução da ingesta calórica e que ela possa ser executada de forma continua. Não adianta, pois, comer mais frutas ou vegetais se a ingesta calórica continuar alta;

3. Independentemente do peso e da perda de peso, o aumento no nível do exercício ou o simples fato de iniciar um exercício físico já melhora e aumenta a saúde. Sem dúvida, o exercício oferece um caminho para diminuir o dano que a obesidade traz para a saúde como um todo, mesmo que ele não promova a perda de peso;

4. A atividade física ou exercício, em quantidade suficiente, leva e promove à manutenção do peso desejado. Por isso, programas de atividade física são importantes, especialmente para as crianças; mas, para a atividade física afetar o peso de forma efetiva, precisa contemplar uma quantidade substancial de movimento, não a mera “participação”;

5. Manter e continuar com ações que promoveram a perda de peso levam à manutenção do peso adequado. A obesidade é melhor conceituada como uma doença crônica, requerendo, portanto, ações para toda a vida;

6. Para crianças com sobrepeso ou obesidade, programas que envolvem os pais e a estrutura onde a criança vive, promovem grande perda de peso e a manutenção do peso adequado;

7. O uso de refeições preestabelecidas ou estruturadas e balanceadas com a quantidade ideal de cada grupo alimentar – ou de um só grupo alimentar -, para aquele determinado indivíduo, produz grande perda de peso;

8. Algumas medicações podem ajudar o paciente a alcançar o peso ideal e manter esta redução, enquanto estiverem sendo usadas. Esta ferramenta é fundamental em situações em que as mudanças nos hábitos de vida não foram ainda alcançadas;

9. Em pacientes apropriados, a cirurgia bariátrica resulta em perda de peso sustentado, diminuição na incidência de diabete melitos e, também, da mortalidade. Para pacientes severamente obesos, a cirurgia bariátrica pode oferecer uma mudança na vida e, em alguns casos, pode ser um tratamento salva-vida.

 

Quando há exposição, pela mídia de massa (leiga), agências governamentais e o meio acadêmico, de crenças sem suporte científico e de inverdades irrefutáveis, o resultado são políticas de saúde pública que não funcionam, recomendações de saúde que não traz em quaisquer benefícios para a população, bem como gasto de dinheiro em pesquisas e ações não produtivas.

A obesidade é uma doença crônica grave que está associada a várias doenças que diminuem a expectativa de vida da população, sendo certo que precisamos é de medidas de controle certeiras, efetivas e que tenham embasamento científico.

 

Colaborou

Maurice Formigheri é médico especialista em cardiologia, especialista em nutrologia pela AMB – Associação Médica Brasileira e responsável pelo setor de ergometria e mapa da Cardiomed

 

 

Gostou? Compartilhe