Professor, como vai sua voz?

Medicina & Saúde - Um dos profissionais que mais se vale da sua voz é o professor. Ele a usa diariamente em praticamente o turno todo de trabalho, pois precisa explicar o conteúdo e, não raramente, alterar a voz para chamar a atenção dos alunos.

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Um dos profissionais que mais se vale da sua voz é o professor. Ele a usa diariamente em praticamente o turno todo de trabalho, pois precisa explicar o conteúdo e, não raramente, alterar a voz para chamar a atenção dos alunos. Alguns deles, mesmo sem perceber, acabam desenvolvendo a disfonia, que nada mais é que resultado do árduo trabalho que realizam.

Por ocasião do Dia Mundial da Voz, comemorado em 16 abril, o Medicina & Saúde conversou com a fonoaudióloga Stéfanie Rozin, que fala sobre a importância da comemoração deste dia e sobre o problema da disfonia. Confira.

 

Medicina & Saúde – Como a voz dos professores pode ser afetada ao longo dos anos de trabalho?

Stéfanie Rozin – No dia 16 de abril comemora-se o Dia Mundial da Voz e a categoria que talvez melhor represente os profissionais que tem a voz como principal instrumento de trabalho é o professor. O professor tem grande importância na formação social, cultural e educacional de toda a sociedade e neste sentido, é interessante entender os possíveis prejuízos que as alterações na voz podem ocasionar na sua vida profissional e pessoal. Todo professor ou já passou por um problema de voz, ou conhece algum colega de trabalho que tenha este problema.

 

 

M&S – O que é disfonia? Como ela ocorre?

SR - A disfonia é a alteração na voz decorrente de mau uso ou abuso vocal e pode resultar na formação de alterações orgânicas denominadas nódulos de prega vocal, conhecidos popularmente por “calos”. Os nódulos são lesões benignas nas pregas vocais da laringe com incidência maior no sexo feminino e geralmente associados a quadros de estresse. Os principais sintomas são: cansaço, rouquidão, falhas na voz, alterações ressonantais e de qualidade vocal. Nos casos mais agudos pode-se ficar totalmente sem voz configurando um quadro de afonia.

 

 

M&S – Como os professores podem identificar se estão com este problema?

SR - O professor disfônico apresenta, além de uma série de sinais e sintomas relacionados ao próprio quadro de disfonia, importantes limitações no desempenho do seu trabalho. Como consequência da disfonia pode-se ter redução de atividades e perda de dias de trabalho, dificuldades de comunicação e na vida social, problemas emocionais, interferências no desempenho do seu trabalho, dificuldade de compreensão por parte do aluno, dificuldade de relacionamento com os pares, não aceitação do absenteísmo relacionado à disfonia como um problema de saúde por parte dos gestores públicos da educação e dos profissionais da saúde, pois as queixas relacionadas com a saúde acabam sendo interpretadas, muitas vezes, como motivos de “fuga da sala de aula” ou simulações.

 

M&S – Existem problemas que podem vir associados à disfonia?

SR - Aliado a isso muito docentes percebem, junto com o quadro de disfonia, alterações de memória, atenção, concentração, problemas relacionados ao sono, dores no corpo, tensão na região cervical, ou seja, sintomas corporais globais relacionados a um quadro de grande estresse.

 

 

M&S – Quais as consequências para o dia a dia do professor?

SR - No geral, a escola é um ambiente bastante barulhento, o que gera ruído competitivo ao docente que está em sala de aula e este acaba por aumentar a intensidade da sua voz. Em função da disfonia, muitos professores referem ter que modificar todo o seu plano de aula, programando atividades diferentes que ajudem a poupar a sua voz. Outros ainda sentem-se desmotivados e impotentes diante de todo um conteúdo programático a vencer e a incapacidade momentânea de proferir a aula como gostariam. Assim como as alterações na voz podem ocasionar sentimentos frustrantes no docente, alguns profissionais dizem perceber que sem poder utilizar plenamente sua voz, a aula pode tornar-se menos interessante, além de ficar mais difícil de manter o controle da turma. No entanto, apesar de todas as dificuldades no desempenho profissional que a desordem de voz traz ao docente, percebe-se que, na maioria das vezes, este profissional continua a trabalhar mesmo doente. A disfonia não é uma disfunção visível e sim, audível, mas tem o potencial de ocasionar diversas limitações na vida profissional, social e pessoal do professor. Diante disso, surge a necessidade da criação de Projetos de Saúde Vocal, como já existe na cidade de Porto Alegre, visando esclarecer e ajudar o professor no uso adequado da voz, assim como conscientizar os gestores públicos sobre os impactos negativos que as alterações de voz podem ocasionar dentro e fora do ambiente escolar.

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