O mês de março parece ser o início de uma vida normal sem férias, sem carnaval e sem muitas festas. Frequentemente referimo-nos a isso dizendo que agora sim, começou o ano. Pois foi em março que realmente me senti livre da muleta que me amparou, ou pensei ser um amparo. Foi quando senti haver jogado fora algo que me torturou e me fez sentir culpada.
Referi-me a figura da muleta por que quando viciados, não conseguimos desempenhar a vida sem recorrer ao que nos vampiriza, ao que nos consome. O prazer que o vício proporciona é tão efêmero, que nos valemos dele demasiadas vezes. Sabemos perfeitamente o que estamos fazendo, o que torna inócuo ouvir falar dos malefícios do tabaco e do que ele está nos causando, a não ser que estejamos frente ao cardiologista, olhando para chapas de RX.
O que toca alguém que fuma é saber que daqui a pouco a respiração melhora, que a pele vai simplesmente clarear, que a presença entre as outras pessoas passa a ser algo muito mais agradável para todos, que não precisa mais afastar-se por vergonha, por não querer e não poder incomodar. É muito forte ter que frequentar fumódromos. É humilhante...
Em março, conviver passou a ser pura fruição. Tive momentos tranquilos, quando sentei por longos períodos com amigos, minha neta e meu neto, a família, sem ter que me afastar deles e ir em busca de cigarros nas sacadas, no meio da chuva, no isolamento.
A conquista desse tipo de liberdade é algo que não tem preço. A conquista dos sabores, cheiros e sutilezas, que passavam despercebidos pelos meus sentidos, agora fazem parte da minha vida. O difícil agora é parar de comer e ficar dentro do razoável, ou pode-se suspeitar de estar começandoum novo vício.